Porto Alegre inaugura mural em homenagem às tradições negras e religiões de matriz africana
Foto: Mona Caron
Com a ideia de trazer à tona a força do povo negro na cultura e na construção do Rio Grande do Sul, inaugura nesta segunda-feira, 10 de janeiro, a arte “Quebra tudo abre caminhos”. O mural de 65 metros de altura estampa uma mulher negra de mãos postas junto a uma planta nativa do sul, usada nas religiões de matriz africana e que dá nome a obra. A arte fica em uma das paredes do prédio do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens (Daer), na Avenida Borges de Medeiros, uma das mais movimentadas da capital.
O mural foi pintado pelo artista paulista Mauro Neri ‘Veracidade’ e pela suíça Mona Caron e integra o Projeto de Incentivo à Arte Urbana, desenvolvido pela ONG Lappus, com apoio de mais de 140 pequenas entidades e artistas locais. O Cortejo Festivo de Inauguração do Mural será nesta segunda-feira, 10, às 18h, na Ponte de Pedra, na Praça Açorianos.
Nas redes sociais, a ONG explica o significado da obra. “A planta nativa é a Justicia Gendarussa, vulgarmente conhecida como quebra-demanda, quebra-tudo, vence tudo. É uma planta de superação, de resiliência ou até resistência, utilizada por religiões de matriz africana, que cresce entre os braços de uma figura que pode ser vista como uma balança, mas também um gesto de cuidado”, diz o texto.
Integrante da bancada negra da Câmara de Vereadores da Capital, Matheus Gomes enxerga esse tipo de intervenção como uma forma de transformar a capital gaúcha em um polo da arte urbana. “Porto Alegre sempre foi reconhecida pela sua efervescência cultural. É importante também que esse tipo de intervenção também possa ser descentralizada”, afirma. Segundo o vereador, a escolha do desenho visibiliza e resgata a história e cultura negra no Rio Grande do Sul.
RACISMO – Além da beleza, a obra propõe uma reflexão para os moradores e visitantes da capital sobre o racismo. Em 2020, na véspera do dia em que é celebrada a Consciência Negra, 20 de novembro, a cidade foi surpreendida com a morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que foi espancado até a morte por seguranças de um supermercado, localizado na zona norte. Um mês após o caso, a capital inaugurou a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), que, desde então, registra dados alarmantes. De acordo com dados da DPCI, a cada 30 horas, uma pessoa é vítima de racismo em Porto Alegre.