Fotógrafo indígena inaugura exposição na Galeria Ecarta
Foto: Vherá Xunú/Divulgação
Foto: Vherá Xunú/Divulgação
A exposição O olhar de Xunú – Fotografia da resistência registra os costumes indígenas a partir da visão do fotógrafo e cineasta Vherá Xunú. A inauguração da mostra ocorre na próxima quinta-feira, 23, às 19h, na Galeria Ecarta e faz parte da agenda de eventos do Projeto Potência. A entrada é franca.
“Fotografar a cultura do meu povo é resistência. É dar visibilidade ao nosso modo de ser e às nossas lutas para existir”, resume Xunú, nome que significa guardião. Essa é a primeira exposição individual do artista desde que ele começou a se interessar por registrar a vida da sua etnia, o povo Mbya Guarani, há sete anos.
O fotógrafo, de 30 anos, conta que a vontade de trabalhar com imagens nasceu na escola durante um projeto de produção de vídeos na sua comunidade. Ele compreendeu a importância de alguém do próprio povo registrar os costumes de sua gente. “Quero trazer a vida do meu povo com o meu olhar. Por isso vou continuar fotografando”, pontua.
Visibilidade para a proteção
Foto: Vherá Xunú/Divulgação
Foto: Vherá Xunú/Divulgação
Nesta seleção estão cerca de 20 fotografias de cenas cotidianas da aldeia Tekoá Pindó Mirim, em Viamão (RS), onde vivem 25 famílias.
Os costumes e espaços sagrados, como a casa de reza (opy), o petynguá – o cachimbo guarani que serve tanto para fumar tabaco quanto como objeto ritualístico, a confecção de cestaria em bambu, os animais entalhados em madeira e a venda de artesanato no centro da capital estão entre as imagens captadas.
Manifestações pela demarcação de terras e a luta pela rejeição do PL 490/2007 do Marco Temporal também são parte dos registros da mostra, que tem curadoria da jornalista Stela Pastore.
Genocídio e reparação
O Censo IBGE 2010 identificou mais de 305 povos indígenas, somando cerca de 900 mil pessoas. As recentes imagens da precariedade do povo Yanomami, mais uma vez explicitaram a insuficiência de políticas públicas de proteção aos povos originários e – neste caso – há denúncias de genocídio com a conivência do Estado brasileiro no período do último governo.
No Rio Grande do Sul estima-se aproximadamente 33 mil indígenas, sendo cerca de 30 mil Kaingang, aproximadamente três mil Guarani e remanescentes Charrua e Xokleng, com 29 áreas demarcadas em 41 municípios.
Com 19 territórios em análise para possível demarcação, o RS tem o maior número de áreas em estudo entre todos os estados.
Segundo o Mapa Guarani Continental, ao menos 280 mil pessoas, ao longo de 1,4 mil comunidades em quatro países diferentes – Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai – compartilham uma língua e cultura comuns: o Guarani.
O guatá (caminho) do guardião
Em sua caminhada para ser fotógrafo, Xunú estudou na Luz – Escola de Fotografia. Em 2016, foi convidado a fazer parte do grupo de Comunicadores Mirim da Comissão Yvyrupa, em que trabalhou durante três anos divulgando, fotografando e filmando eventos Guarani.
Seu primeiro filme curta-metragem se chama “Perigo na Mata” (2016), e fala do fortalecimento da vida dos Mbya Guarani.
Seu último lançamento foi “O despertar do divino Sol” (2019), no qual trata da lentidão para demarcar as terras indígenas. Participou da Mostra de Arte Aberta de Porto Alegre, Maapa 2021, e da Exposição Retrato de Família realizada pelo Instituto Goethe, na Galeria de Arte do Dmae, 2022.
Em 2021 foi protagonista do documentário curta-metragem “O olhar de Xunú”, com roteiro e direção de Josemar Martins, executado com recursos da Lei Aldir Blanc – disponível no YouTube.
SERVIÇO
O olhar de Xunú – Fotografia da resistência
Quando: Inauguração na quinta-feira, 23 de março, às 19h.
Visitação até 23 de abril, de terça a domingo, das 10h às 18h
Onde: Fundação Ecarta – Avenida João Pessoa, 943 – Porto Alegre