CULTURA

Viva Elizabeth: projeto da Zona Norte da capital está transformando a vila em ponto turístico

Coletivo Abrigo e Associação Cultural e Social Conceito Arte preparam grafite tour de dois quilômetros no Bairro Sarandi, com a participação de 30 artistas
Por Douglas Glier Schütz / Publicado em 31 de março de 2023

Projeto Viva Elizabeth está na primeira fase

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

O bairro mais populoso da capital gaúcha está ganhando mais cor e se transformando em ponto turístico. Localizado na Zona Norte de Porto Alegre, o Bairro Sarandi tem ganhado destaque com o projeto Viva Elizabeth – Diálogos que transformam a vila.

Idealizado pelo Coletivo Abrigo e a Associação Cultural e Social Conceito Arte, a iniciativa tem como objetivo trazer mais visibilidade para a periferia da capital. Além disso, levar arte, educação ambiental e união para a localidade.

O diretor executivo do Coletivo Abrigo, Tiago Santos, conta que o desenvolvimento do projeto deu-se de forma natural. Atuante na Vila Elizabeth há nove anos, assim como a Conceito Arte, Tiago explica que o Coletivo conhece as demandas locais. Além disso, já promoveram trabalhos nas áreas de educação, cultura e assistência social.

Ao todo serão dois quilômetros de uma rota turística que está na primeira fase e, quando finalizada, terá 20 painéis grafitados de aproximadamente 30 artistas.

“A rota turística está apenas na primeira fase. Além dela, teremos uma horta comunitária, visitas guiadas, passeios fotográficos, feiras de economia solidária e festivais com música”, explica Tiago.

A Rota do Grafite é o primeiro passo para que a comunidade tenha autonomia e possa elaborar eventos culturais cada vez maiores, projeta o diretor executivo do Coletivo Abrigo.

Esperança para tempos melhores

Viva Elizabeth é um projeto no bairro Sarandi

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Financiado com recursos do Pró-Cultura RS, do Fundo de Apoio à Cultura, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o projeto Viva Elizabeth já está dando frutos.

Moradora da vila há 35 anos, a técnica de enfermagem Dani Fermino conta que o início da transformação voltou a unir a comunidade e já é possível ver as famílias na rua novamente.

“O Coletivo Abrigo nos mostrou o projeto mediante as pinturas e nos trouxe esperança para tempos melhores. Acho que muita coisa boa pode vir a partir daí e estamos ansiosos para sermos vistos, já que aqui nos sentimos esquecidos”, explica.

Para ela, o Beco, como é chamado o espaço que está sendo revitalizado por meio do grafite, é o assunto do momento. “Essas paredes fizeram parte da infância de muitos. Elas já ouviram muito choro, muitas risadas e batidas de bola. São paredes que fazem parte de trajetos de trabalho, escola, da nossa vida e da nossa comunidade”, conta.

“Ações como esta revitalizam espaços antes degradados e marginalizados, que passam a dar novos sentidos de pertencimento aos moradores”, aponta Tiago Santos. De acordo com o diretor do Coletivo, essas iniciativas também elevam a autoestima da comunidade, fazem girar a economia local e aproxima os jovens da cultura e da arte.

Cidadania por meio da arte

Filipe Harp é um dos artistas responsáveis por levar arte e cores para a Vila Elizabeth. Para ele, o grafite já começa a fazer o seu papel e tem levado acolhimento para a comunidade.

“A arte faz seu papel, gerando eventos e atividades em grandes comunidades. Os espaços estão ali, só não são tão frequentados. As pessoas têm outras prioridades, arte e espaços culturais sempre ficam em segundo plano quando se trata da correria do dia a dia”, analisa Harp.

O projeto ainda não foi concluído, mas a transformação já começou. Tiago conta que os vizinhos param para assistir os artistas pintarem, comentam das mudanças no bairro e tem se engajado na melhoria dos espaços de vivência.

“Os moradores emprestam escada, banheiro, lona pra dar um pouco de sombra para os artistas. Esses dias vimos os próprios moradores varrendo os espaços comuns do projeto e cortando a grama que já começava a ficar alta”, relata.

Para o diretor do Coletivo, está nascendo uma nova conexão dos moradores com o espaço onde moram. “É uma relação de pertencimento, uma ocupação destes espaços públicos e um direito de viver à cidade sendo garantido”, conclui.

Harp também conta que a mensagem do seu trabalho é a da transformação. “Eu espero quebrar a rotina, alegrar e questionar com a minha arte”, afirma. Para o artista estas intervenções fazem parte dele.

 

Douglas Glier Schütz é estagiário de jornalismo. Matéria elaborada com supervisão de César Fraga.

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