Livro resgata história de Diógenes Oliveira e da guerrilha contra a ditadura
Foto: Reprodução/Divulgação
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O fotolivro Memória (Editora Rígel), sobre o guerrilheiro Diógenes Oliveira será lançado no aniversário de um ano da sua morte, no próximo domingo, 29 de outubro, no Centro de Memória e Cultura (na Rua Lopo Gonçalves, 495), em Porto Alegre.
Na ocasião, os autores Guilherme Oliveira e Matheus Piccini realizarão uma sessão de autógrafos, às 12h. O local é a casa em que Diógenes morou nos últimos 36 anos e que foi transformada em um espaço cultural dedicado à preservação da memória das luta pela democracia no país.
No mesmo dia será realizada mais uma edição do evento Flor del Pago, com música, dança e gastronomia gaúcha. Além do autores, haverá show com Su Paz e Marta Severo.
Foto: Reprodução/Divulgação
Figura carismática e querida nos movimentos sociais, Diógenes faleceu no dia 28 de outubro de 2022, dois dias antes do domingo em que Luíz Inácio Lula da Silva venceria Jair Bolsonaro no segundo turno no último pleito presidencial. Na véspera do dia da votação, uma multidão em passeata pela Cidade Baixa, na chamada Caminhada da Vitória, parou em frente à casa de Diógenes na esquina das ruas Lopo Gonçalves e José do Patrocínio para prestar uma última homenagem ao companheiro. “Ontem nós perdemos um guerreiro, um dos responsáveis pela abertura democrática do nosso país. Um símbolo da nossa luta. Essa vitória é em nome do Diógenes Oliveira, presente hoje e sempre. Ousar lutar, ousar vencer!”, foi dito na ocasião. Este é um dos episódios narrados no livro.
Para José Dirceu, que assina a contracapa, a relação dele com Diógenes era como se fossem companheiros do mesmo pelotão da guerrilha. “Tínhamos em comum não apenas ideais e sonhos, mas o compromisso irredutível e inabalável com a revolução. Após anos sem nos ver, quando o reencontrei em Porto Alegre, passamos horas conversando; nem pareceu que estivéramos tanto tempo afastados. Diógenes me recebeu em sua casa. Mesmo com a saúde já debilitada, não me deixou ir para um hotel. Generoso, cedeu seu quarto para mim e minha mulher. E lá ficamos, ele e eu, por dias a relembrar nossos companheiros e companheiras que deram a vida pela liberdade e a planejar as lutas para retomar o governo, derrotar Bolsonaro e reeleger Lula. (…) Na despedida, carneamos um carneiro e ficamos horas e horas junto a amigos e amigas de lutas. Esta foi minha última vez com Diógenes. Foi a nossa despedida, em grande estilo”, relata.
Anos de chumbo
Foto: Reprodução/Divulgação
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“Charles Chandler aparece no quintal para manobrar a perua Impala com a qual o governo norte-americano o presenteara. Aberto o portão, o carro começa a ganhar a rua de ré, mas é obstruído pelo Volkswagen que estaciona bem atrás. Travados os movimentos da perua, Diógenes José salta do fusca e descarrega seu Taurus 38 em direção ao capitão”. Mémória, reproduz trecho da narrativa de João Roberto Laque, em seu livro Pedro e os Lobos, de 2010, biografia do também guerrilheiro Pedro Lobo de Oliveira, nos anos de chumbo.
Personagem e história se misturam
Os jornalistas Guilherme Oliveira e Matheus Piccini, autores do fotolivro destacam que Diógenes, o personagem histórico que inspirou a obra, traz consigo, enquanto guerrilheiro urbano, a história de diversos quadros políticos da luta contra a ditadura civil-militar no Brasil. Já na democracia, participou da primeira gestão petista de uma capital brasileira como Secretário de Transportes do então prefeito Olívio Dutra, em Porto Alegre. A publicação, portanto, além de contar a história do personagem pretende também narrar o que foi a segunda metade do século 20 “entre sonhos e revoluções”.
Segundo Guilherme, que além de autor é filho de Diógenes, a obra é uma memória coletiva contada a partir de um personagem histórico ímpar. “Diógenes foi guerrilheiro, exilado político, colaborou na construção do Partido dos Trabalhadores (PT) como militante e secretário de governo. Também foi um vizinho excêntrico, no bairro Cidade Baixa que é um dos tantos que vem sofrendo com o processo de gentrificação do governo Melo”, conta .
Ele também explica que na casa onde Diógenes, onde morou durante 36 anos, começou o processo de construção de um Centro de Memória e Cultura. “Capítulo fundamental dessa construção, ocorre no próximo domingo, com o lançamento deste fotolivro que narra também essa transição da casa do guerrilheiro até esse espaço de luta por memória, verdade e justiça no coração da capital gaúcha”, contextualiza.
Foto: Rerpodução
Foto: Rerpodução
“Quando o Guilherme me convidou para escrevermos este livro juntos, fiquei muito honrado. Um dos motivos é que um tempo atrás eu tive a oportunidade de entrevistar o Diógenes. Então eu já estava bem familiarizado com a história dele, tanto da vida dele como da sua luta contra a ditadura”, explica Matheus.
O livro também reúne fotos de Matheus na cobertura de eventos promovidos na casa. “Importante dizer que o lugar é um espaço de memória e cultura no sentido de manter vívido este sentimento de luta pela defesa da democracia, que é a principal marca na história do personagem do nosso livro. Um cara que não mediu esforços para defender a democracia no país dele e que sofreu muito por isso. Este fotolivro vem num contexto muito importante, que é transformar a casa deste militante em um espaço de memória e de cultura”, acrescenta.
Segundo Piccini , Diógenes, além de guerrilheiro, sempre foi “um cara ligado à cultura”.
“Ele fazia saraus naquela casa, reunia gente, gostava de poesia, declamava. Então, tanto o livro quanto a casa fazem parte de uma costura muito interessante, inclusive para o contexto que o bairro e a cidade de Porto Alegre vivem hoje”, declara.
Foto: Matheus Piccini/Divulgação
Os autores
Foto: Manoela Flores Soares/Divulgação
Guilherme Fernandes de Oliveira trabalhou como jornalista do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo, ASERGHC e Sindisaúde-RS. Em 2014, foi um dos criadores do Programa Correria, por onde lançou o documentário “Ousar Lutar, Ousar Vencer – A luta armada contra a ditadura civil-militar no Brasil”. Desde 2016, atua como repórter da Televisão dos Trabalhadores (TVT).
Matheus Nogueira Chaves Piccini trabalhou como fotojornalista do jornal Correio do Povo e Agência FotoArena. Em 2018, foi um dos sócios-fundadores do Lado B, jornal comunitário do extremo-sul de Porto Alegre. Desde 2023, atua como jornalista da Central Única do Trabalhadores do RS (CUT-RS).