CULTURA

Trama que levou ao fechamento da Panair por militares em 1964 vira filme

Orgulho nacional, a empresa de aviação Panair do Brasil foi vítima de revanchismo dos golpistas de 1964. Filme irá contar os percalços de empresários legalistas
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 2 de abril de 2024

 

Fechamento da Panair pelos militares em 1964 vira filme

Foto: Reprodução/Publicidade Panair

Foto: Reprodução/Publicidade Panair

Ela era uma das maiores e mais ousadas companhias aéreas do mundo até ser abatida pelo governo militar antes mesmo de se completar um ano do golpe de 1964. A trama de mentiras inventadas para subsidiar a perseguição política que tirou do literalmente do ar e de forma ilegal a Panair do Brasil, agora saltam das páginas do livro para virar um filme. Trata-se da adaptação cinematográfica do livro-reportagem Pouso Forçado (Editora Record) do jornalista Daniel Leb Sasaki pela produtora cinematográfica OH Features com colaboração do próprio autor.

Sasaki é enfático: “hoje a história está sendo contada na sua realidade. As gerações futuras vão ver, sem sombra de dúvida, que o que aconteceu ali foi uma coisa que só poderia ter acontecido em um regime de exceção. Essa que é a importância”.

Ele se refere especificamente ao pedido de desculpas no ano passado da Comissão da Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) que reconheceu a perseguição política do acionista Celso Rocha Miranda que, ao lado de Mario Wallace Simonsen, eram os sócios majoritários da Panair.

Revanchismo e anistia póstuma

Fechamento da Panair pelos militares em 1964 vira filme

Foto: Acervo Pessoal

Daniel Leb Sasaki, jornalista e autor de Pouso Forçado

Foto: Acervo Pessoal

A anistia póstuma ao empresário que faleceu em 1986 foi resultado do processo iniciado pelo filho, Rodolfo Rocha Miranda.

Marylou Simonsen, única filha viva de Simonsen, promete pedido idêntico no MDHC.

Segundo o autor de Pouso Forçado, três razões “resumidamente” motivaram as violações e ilegalidades cometidas pelos militares que determinaram a suspensão de todas as linhas nacionais e internacionais concedidas à empresa, transferidas para a Varig, e o posterior decreto de falência da companhia.

A disputa de concorrentes estrangeiros de outros importantes negócios de Simonsen com fortes aliados políticos internos, as relações pessoais de Rocha Miranda com Juscelino Kubitschek e lobbies da própria Varig que almejava se tornar uma grande companhia aérea foram os principais fatores que tornaram a Panair do Brasil um alvo da então recém instalada Ditadura Militar.

Para Simonsen – na época um dos maiores exportadores de  café do mundo , o golpe foi o tiro de misericórdia.

Sob intenso ataque midiático desde 1963,  os adversários de Simonsen se aproveitaram da tomada de poder pelos militares para associá-lo ao governo deposto e, com documentos forjados, instalaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que o derrubou.

De fato, Simonsen, ajudou Jango a retornar ao Brasil em 1961 e se colocou a favor de sua posse como presidente, após a renúncia de Jânio Quadros. “Isso foi muito explorado contra ele”, relata Sasaki

O empresário que foi grande defensor da indústria nacional, que fundou o primeiro supermercado brasileiro e ainda teve cerca de 30 empresas nas áreas de energia, televisão e telecomunicações, teve todos os bens sequestrados um mês depois do fechamento definitivo da Panair.

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Fim da Panair foi ato lesivo à nação

A suspensão  “a título precário” das operações da Panair sob alegações de dificuldades financeira da aérea e má gestão que apontavam para impossibilidade de recuperação, foi o ato de maior visibilidade.

Em paralelo, foram feitas desapropriações de outras empresas vinculadas ao grupo.

Três aeroportos da Panair (Belém, Fortaleza e Recife) e a ocupação por soldados da Celma (Companhia Eletromecânica), na época a maior e mais importante empresa de manutenção e retífica de motores e turbinas aeronáuticas do Hemisfério Sul.

Sasaki entende que a derrocada da Panair foi extremamente lesiva também para o Brasil.

Além da Celma hoje pertencer ao conglomerado americano General Eletric (GE), a União ao decretar a falência da aérea teve de assumir encargos previdenciários, pagamento de salários e custos com investimentos e manutenção.

“A União abriu, ainda, as portas para que a empresa entrasse com ações judiciais, exigindo o pagamento de indenizações espetaculares: por perdas e danos, pela expropriação da Celma e das Comunicações (outra área da Panair) a preços irrisórios, pela ocupação irregular de patrimônio em aeroportos e instalações, entre outras. Algumas já foram ganhas. Falta pagar. A conta é alta”, declara.

Tudo porque durante o passar dos anos não só ficou comprovado que a Panair tinha recursos suficientes para pagar suas dívidas e, assim, abrir uma concordata, como na própria Justiça, em pleno período ditatorial, se comprovou que documentos e informações foram falsificadas para desmoralizar a Panair e seus sócios majoritários.

Sasaki não tem dúvidas. A Panair, “um símbolo de domínio técnico, de avanço, de modernidade e orgulho nacional”, foi destruída pelos militares brasileiros que deram o golpe em 1964 por revanchismo e, com ela, também parte da vida de cinco mil famílias que compunha seu quadro funcional.

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