CULTURA

Tragédia ambiental paralisa o segundo polo de filme publicitário do país

A estimativa é que a indústria do audiovisual gaúcho só retome as atividades no final do ano, em função da inoperância do aeroporto Salgado Filho. Mais de 5 mil profissionais do setor são impactados
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 7 de junho de 2024

Foto: Beto Rodrigues

Produção do filme A Banda, de abril de 2024, da Panda Filmes

Foto: Beto Rodrigues

Nas perspectivas mais otimistas, demorará pelo menos cinco meses para que o mercado volte a funcionar com uma certa regularidade. Há, no entanto, quem aposte em uma retomada só no mês de dezembro. Entre os principais motivadores da demora, a saída de operação do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

Beto Rodrigues, diretor-presidente da Fundação de Cinema RS (Fundacine) e coordenador do Fórum Audiovisual Minas, Espírito Santo e Sul (Fames), lembra que o Rio Grande do Sul estava consolidado como o segundo maior polo de produção de filmes publicitários para atender todo o país. Em especial pela mão de obra e por possibilidades mais econômicas do que outros importantes polos, como São Paulo.

“Às vezes a gente tinha em um mês, aqui, cinco a sete, até dez comerciais em produção. Alguns, empregando quarenta, cinquenta, sessenta pessoas. Imagina agora isso parado por cinco a oito meses. A quantidade de empregos que deixará de ser gerada”, fala.

São cerca de 400 produtoras que operam de forma regular no Rio Grande do Sul, a maior parte em Porto Alegre. Segundo ele, aproximadamente cinco mil pessoas compõem direta ou indiretamente a cadeia do audiovisual do estado.

Fornecedor que migrou e trabalhos adiados

Rodrigues conta que a maior locadora de equipamentos cinematográficos para o setor no estado, a R Câmera, teve sua sede alagada. Quando viu a água subindo, a alternativa do proprietário foi levar equipamentos para São Paulo, onde alugou provisoriamente um lugar e passou a funcionar.

“Assim, sem aeroporto, com a produção publicitária, maior fonte de emprego do setor no estado, parada e com a migração do principal fornecedor de equipamentos para São Paulo, o cenário que já está montado para o audiovisual gaúcho assusta”, afirma.

“Para onde vão as filmagens? Elas vão para outros estados”, ele mesmo responde sua indagação.

Rodrigues lamenta também o fato de séries e filmes que estavam previstos para rodar nos meses de maio e junho no Rio Grande do Sul terem sido adiados e estão sem previsão de data para se efetivar.

“Essas pessoas (trabalhadores da indústria do audiovisual gaúcho) que já iam começar a receber – já que o salário no cinema e no audiovisual é semanal – gente que estava esperando, por exemplo, para receber cachê a partir de maio, junho e julho, vão ficar sem nenhum. Quando tu vê, serão milhões que deixarão de circular, milhões que deixarão de gerar receita e emprego”, acentua Rodrigues.

Governo Federal injetará R$ 75 milhões

Em meio ao caos, apoios importantes já foram anunciados, como o Ação Audiovisual RS, da Fundação de Cinema RS (Fundacine), com o apoio da Netflix; o Futuro Audiovisual RS, do Instituto Akamani; e, o mais vultuoso, de parte do Ministério da Cultura (Minc), via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Da parte do governo federal, são: moratória de dívidas e a liberação de uma linha de crédito especial de R$ 75 milhões.

Beto Rodrigues diz que, além da moratória de 12 meses para quem já tem algum financiamento do FSA, o MinC não chegou a detalhar as regras do novo crédito para socorrer a cadeia audiovisual do Rio Grande do Sul.

Reivindicações do setor encaminhadas ao MinC

Rodrigues destaca que o setor encaminhou quatro reivindicações ao Ministério da Cultura.

A primeira é que o financiamento de apoio não seja destinado somente às produtoras; chegue também aos profissionais do audiovisual, uma maioria que trabalha na forma de empreendedores individuais.

Na segunda, dada a excepcionalidade da tragédia, que o próprio Fundo seja o garantidor dos empréstimos.

É sobre outra prática bancária que reside o terceiro ponto reivindicado. A não consideração do chamado score para a concessão do empréstimo de apoio.

“Muitas dessas empresas e pessoas que atuam como MEI estão sofrendo as consequências da tragédia e vão, naturalmente, deixar de pagar contas”, explica Rodrigues para justificar a questão junto ao MinC.

O quarto e último ponto que está sendo avaliado pelo Minc é que, para a base de cálculo do financiamento, seja levado em conta o faturamento dos últimos 12 meses, entre maio de 2023 e maio de 2024, das produtoras e MEIs.

“A nossa proposta é que se possa solicitar o valor do faturamento desse período, dentro dos R$ 75 milhões disponíveis, até o limite de R$ 1 milhão”, explica Rodrigues.

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