Anhangabaú retrata indígenas e artistas numa cidade em disputa
Fotos: Rafael Avancini/Divulgação
Fotos: Rafael Avancini/Divulgação
Que tipo de cidade queremos deixar para as próximas gerações: opressão, cimento e especulação imobiliária ou parques ecológicos, espaços de convivência popular e preservação? Estes são alguns dos questionamentos que o longa metragem Anhangabaú, que recentemente ganhou o prêmio de melhor documentário no 51º Festival de Cinema de Gramado, fará à plateia que estará presente à pré-estreia do filme na Sala Redenção, em Porto Alegre, nesta quinta-feira, às 19 horas, em sessão gratuita. A sala fica próximo à Reitoria da Ufrgs, com acesso pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.
O documentário dirigido pelo cineasta gaúcho Lufe Bollini é centrado nos conflitos territoriais de uma cidade em constante disputa, São Paulo. Neste cenário, a comunidade indígena Guarani Mbya se une à maior ocupação artística da América Latina, a Ocupação Ouvidor 63 e o Teatro Oficina.
Entre os personagens estão Zé Celso Martinez Corrêa (morto em 2023), fundador do Teatro Oficina, o ativista guarani Karai Djekupe e a artista musical Verónica Valenttino. O filme tem roteiro de André Luís Garcia, produção executiva de Denis Feijão e Rafael Avancini, que também assina a fotografia. A produção foi da Elixir Entretenimento, Kino-cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes
“É um filme da memória indígena e artística da cidade de São Paulo, que abraça a cidade e deseja despertar em todo mundo a alegria guerreira”, resume Lufe Bollini.
No circuito de festivais, Anhangabaú também recebeu o prêmio de montagem no Festival de Cinema da Fronteira e passou no Ecofalante, Filmambiente e Festivalbc. Seu realizador descreve a obra como “uma produção afetiva de um mundo que contrapõe a lógica devastadora do capital”. Lufe também assina a montagem e música original (junto com Gustavo Foppa e Carlos Tupy).
“São movimentos que contrariam a lógica do progresso gentrificador que destrói tudo que é memória”, define o diretor. “A comunidade Guarani Mbya foi a conexão secular dessa resistência, que atualmente protege o cinturão verde de São Paulo”, contextualiza o documentarista.
Rodado entre 2014 e 2020 na capital paulista, Anhangabaú traz várias camadas narrativas inspiradas pelo antropólogo e arquiteto italiano Massimo Canevacci em seu livro “A Cidade Polifônica” (1993). Com essa referência, o documentário traz à tela uma cidade que só pode ser compreendida através da sobreposição de acontecimentos. Somados, estes podem traduzir um pouco da incessante disputa de territórios entre o capital especulativo e as comunidades que estão à margem da sociedade de consumo.
Para Rafael Avancini, “o filme é o fruto de sete anos de um envolvimento cinematográfico ao lado de lutas sociais e artísticas no território que é o marco zero da cidade de São Paulo”. Já Denis Feijão acredita que a arte pode “contribuir para a realidade, pois através do cinema, podemos dissecar questões da nossa contemporaneidade e apresentar realidades que muitas vezes são desconhecidas”. Para ele, a arte pode provocar debates que busquem melhores caminhos para a sociedade.
Lufe Bollini é um cinesasta porto-alegrense. Seu primeiro curta Os Boçais ganhou prêmio de melhor curta universitário de ficção no Gramado Cine Vídeo em 2009. Em Porto Alegre também realizou o curta Confissões de Um Ex-Astro Mirim. Desde 2014 em São Paulo, realizou curtas-metragens documentais e ensaísticos da cena artística do centro da cidade. Fantasma da Saudade no Vale da Morte. Ganhou prêmios no Lisbon International Film Festival, No We Love Paris Film Festival e no Festival Internacional de Cinema da Fronteira em 2016. Seu curta Yomared foi premiado em três categorias do Festival de Gramado, no Festival de Cinema da Fronteira e foi eleito como segundo melhor curta gaúcho de 2017 pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
O QUE – Pré-estreia Anhangabaú, de Lufe Bollini
QUANDO – 12 de dezembro de 2024 (qui), às 19h
ONDE – Sala Redenção (Rua Eng. Luiz Englert, 333) – ENTRADA FRANCA