CULTURA

Cineasta Cacá Diegues morre aos 84 anos no Rio

Autor de clássicos do cinema brasileiro como Xica da Silva e Bye Brasil e fundador do Cinema Novo, Cacá Diegues fez 20 longas premiados e concorreu sete vezes ao Oscar
Por Gilson Camargo / Publicado em 14 de fevereiro de 2025
Cineasta Cacá Diegues morre aos 84 anos no Rio_abre

Imagem: Frame TV Brasil/ Reprodução

Expoente do cinema brasileiro por mais de 50 anos, Cacá Diegues estava realizando um filme sobre a herança da ditadura militar

Imagem: Frame TV Brasil/ Reprodução

O cineasta Carlos José Fontes Diegues, um dos criadores do movimento Cinema Novo e realizador das mais relevantes obras do cinema brasileiro em mais de 50 anos, como Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1980) e Tieta do Agreste (1996), morreu na madrugada desta sexta-feira, 14, aos 84 anos, em decorrência de complicações causadas por uma cirurgia. A morte do cineasta foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras (ABL), para a qual fora eleito em 2018 e ocupava a cadeira 7, que era de outro cineasta, Nelson Pereira dos Santos.

Um dos precursores do movimento artístico Cinema Novo, Cacá Diegues nasceu em 19 de maio de 1940, em Maceió (AL), e mudou-se para o Rio de Janeiro, com a família, aos seis anos de idade.

Começou no cinema quando ainda estava no Diretório Estudantil da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), onde fundou um cineclube e passou a fazer produções cinematográficas amadoras, junto com colegas como Arnaldo Jabor.

O cineclube foi um dos núcleos de fundação do Cinema Novo, movimento inspirado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, e marcado pelas críticas políticas e sociais, principalmente durante a ditadura militar.

Movimento do cinema

Cineasta Cacá Diegues morre aos 84 anos no Rio

Foto: Embrafilme/ Divulgação

Bye Bye Brasil foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1980 e ganhou o prêmio de Melhor Diretor do Festival de Havana

Foto: Embrafilme/ Divulgação

Entre suas produções dentro do movimento Cinema Novo, destacam-se Ganga Zumba (1964), A Grande Cidade (1966) e Os Herdeiros (1969). Em 1969, deixou o Brasil e foi morar na Europa, por ter participado da resistência intelectual e política à ditadura. Ao retornar, na década de 1970, dirigiu Quando o Carnaval Chegar (1972), Joanna Francesa (1973), Xica da SilvaChuvas de Verão (1978) e Bye Bye, Brasil.

No período de retomada do cinema brasileiro, lançou Tieta do AgresteOrfeu (1999) e Deus é Brasileiro (2002). O Grande Circo Místico (2018) foi seu último lançamento como diretor.

Ao longo de sua carreira, conquistou prêmios em inúmeros festivais nacionais e internacionais e concorreu ao Oscar sete vezes. Em 2018, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Nelson Pereira dos Santos.

Xica da Silva foi visto por mais de 3 milhões de brasileiros no cinema. Zezé Motta levou o troféu de melhor atriz em quase todos os principais festivais de cinema daquele ano. Além disso, a obra ganhou prêmios no Festival de Brasília de 76 de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz. Bye Bye Brasil foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1980 e ganhou o prêmio de Melhor Diretor do Festival de Havana. Tieta ganhou os prêmios de Melhor Diretor do Festival de Havana e de Melhor Filme do Festival de Cuiabá.

Thriller sobre a ditadura militar

“Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística, abordando temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mantendo-se sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema”, lembrou a ABL em nota.

Na coluna que publicava semanalmente no jornal O Globo, o cineasta chegou a revelar que se sentia incapaz de realizar novos filmes desde que perdera a filha. A atriz Flora Diegues, que faleceu em 2019, aos 32 anos, em decorrência de um câncer, foi dirigida por ele em O grande circo místico (2017), dirigido por Cacá, e de novelas como Além do tempo (2015) e Deus salve o Rei (2018) e havia estreado em Tieta do Agreste (1996), dirigido pelo pai.

Em uma entrevista ao jornal La Nación por ocasião do lançamento de seu penúltimo filme, O grande circo místico, Diegues mencionou a diversidade de gêneros do cinema brasileiro e o surgimento de novos diretores.

“Acredito que o Brasil vive atualmente o melhor período da história do cinema. Os jovens cineastas no Brasil têm muito estilo, personalidade, com uma diversidade que é muito importante. Porque o cinema brasileiro não pode ser uma coisa só, já que o Brasil é um país diverso”, afirmou. Seu novo projeto, A Dama, um thriller político, com Betty Faria, que volta à herança da ditadura militar, ficou inacabado.

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