O Rio Grande do Sul está hoje em uma situação privilegiada, se comparado a outros estados brasileiros. O serviço é considerado eficiente, sem intermitência e significativo volume de reserva. Em Porto Alegre, pelo DMAE, o serviço é prestado a um preço de 0,83 centavos o metro cúbico. Vale comparar: na Argentina, o metro cúbico custa em torno de US$ 6. Em solo gaúcho, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) conseguiu investir, em 2000, R$ 2,00 por habitante/mês, um gerenciamento de recursos que garante acesso à água de qualidade.
Mesmo não sendo consideradas tarifas caras, as duas empresas públicas gaúchas conseguem obter um excedente que é revertido em obras. Excedente, na linguagem da iniciativa privada, é o lucro. “Se as nossas empresas forem privatizadas, os seus excedentes serão o lucro dos proprietários”, analisa Todeschini. No caso do DMAE, os R$ 30 milhões anuais de excedente são aplicados em melhorias e qualificação do sistema.
Para o diretor-presidente da Corsan, Dieter Wartchow, a água é um bem universal, essencial à saúde e à vida. Portanto, não deve ser vista como uma mercadoria. “Todo cidadão deve ter acesso à água potável, independente de sua condição sócio-econômica”, ensina. Wartchow acredita que, com um bom gerenciamento, uma gestão pública eficaz e com a participação da população nas ações, é possível garantir a universalização do saneamento.
Enquanto se delineiam as bases para a privatização, empresas privadas, especialmente as transnacionais, percorrem o Brasil, visitando as empresas públicas mais cobiçadas. “Já recebemos várias visitas dessas aqui no DMAE. Pensei que fosse só aqui, mas Belo Horizonte também já reclamou ter recebido pressões constantes”, relata Todeschini.
Segundo ele, os representantes dessas empresas “vêm com o pretexto de ajudar e nunca falam a palavra privatização, preferindo dizer que querem formar uma parceria conosco, informando que têm muito dinheiro para nos ajudar”. Irritado com o assédio, ele lança um desafio à iniciativa privada. “Pelo DMAE, 99,5% das residências possuem água. O que eles podem oferecer em contrapartida?”, questiona.
Na lista das empresas privadas que querem abocanhar esse mercado estão entre outras, a inglesa Thames Water e a francesa Suez, que já atuava no Brasil com o nome de Lyonnaise des Eaux. Esse ano, o grupo Suez reuniu todas as suas atividades com a água na nova marca Ondeo Services. Ela tem em suas mãos os serviços das cidades de Limeira (SP) e Manaus. Seu novo alvo é a Embasa, da Bahia, e a transação deve ocorrer agora, no segundo semestre.
“Esperamos ter 10% do mercado de saneamento até 2005”, avisa o representante da Ondeo, Newton Azevedo. Em matéria divulgada recentemente no site saneamento básico, Azevedo avisa que o maniqueísmo só atrapalha e o que sua empresa quer é buscar soluções. “Conhecemos esse mercado e queremos investir nele”. Realmente, um mercado promissor, pois o saneamento básico no Brasil movimenta R$ 15 bilhões por ano. Com a nova regulamentação em andamento, a participação das empresas privadas no setor deverá ser de 25%.