Mordida do leão é maior que reajuste de salários
A nova tabela não vale para a declaração de ajuste anual do IR de 2002, ano-base 2001, mas apenas para os fatores geradores ocorridos a partir de janeiro deste ano. A faixa de isenção passa de R$ 900,00 para R$ 1.058,00 – muito abaixo do índice da inflação. Os contribuintes que recebem entre R$ 1.058,01 a R$ 2.115,00 terão o IR pela alíquota de 15%. Acima de R$ 2.115,01 a alíquota será de 27,5%. Mesmo insuficiente, esse reajuste na tabela só ocorreu devido a uma forte pressão de setores da sociedade, como o Sinpro/RS, CUT, OAB/RS, Sintrajufe/RS e Amatra IV, para que fosse feita a correção da tabela.
Ao serem editadas em janeiro as normas do Imposto de Renda para este ano, o reajuste de retenção mês a mês de 17,5% pode minimizar a mordida do leão para parte dos trabalhadores brasileiros, mas não corrigirá uma defasagem que já dura seis anos: o congelamento da correção da tabela do IR, que faz milhares de novos trabalhadores passarem a contribuir com o Leão. O limite de isenção, que até o ano passado era de R$ 900,00, deveria ficar em torno de R$ 1.300,00 se fosse computada a inflação (INPC) entre janeiro de 1996 e fim de 2001.
A tabela do IR não é reajustada desde janeiro de 1996, engrossando ainda mais o número de contribuintes de menor renda. Nesse tempo, quem ganhava menos de R$ 900,00 e teve aumento salarial, começou a contribuir. Segundo estudo da Unafisco, cerca de 67% do IR é pago por pessoas que ganham mensalmente até R$ 1,5 mil. O presidente da Unafisco Paulo Gil destaca que o reajuste da tabela de Imposto de Renda deveria ficar em torno de 46%, conforme a inflação. “Essa defasagem provoca o que se chama de confisco. Um grande confisco com todas as letras”, denuncia Gil: “Houve aumento nominal de salário, mas não um aumento real. Não houve aumento de renda e de poder aquisitivo, mas o salário está sendo tributado em valores maiores”.
Essa defasagem da não-correção da tabela desde 1996 é mais grave ainda ao se considerar que este dinheiro arrecadado não voltará mais ao bolso do contribuinte, nem com ação judicial. Quem mais perde com isso são os contribuintes com menores rendas. Em simulação feita pelo Unafisco, o contribuinte com renda mensal de R$ 2.000,00, sem reajuste salarial desde 1996, com dois dependentes, paga hoje R$ 876,00 de imposto de renda ao ano, quando deveria recolher cerca de 80% menos, ou seja, R$ 179, 31. Se esse mesmo contribuinte tivesse uma renda mensal de R$ 8.000,00, atualmente pagaria R$ 19.726,00 quando deveria pagar R$ 18.065,47. Recolhe 9% a mais do que deveria. Quanto maior a renda, menor o impacto da não-correção da tabela. O mesmo estudo mostra que o contribuinte com remuneração quatro vezes menor acaba pagando 43 vezes mais. Veja tabela.
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