Foto: Cláudio Fachel
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Andar de táxi em Porto Alegre é razoavelmente barato. Mais vantajoso se forem três ou quatro passageiros porque, juntos, provavelmente, irão gastar menos do que se optassem pelo transporte coletivo. Talvez isso explique o sentimento geral de que faltam táxis na capital gaúcha. Mas será essa a realidade? A reportagem conversou com motoristas, Sindicato, órgão fiscalizador e fez algumas corridas para verificar a qualidade da frota, a qualificação dos motoristas, se estão preparados para receber turistas num evento de porte como a
Copa do Mundo de Futebol de 2014, e a realidade econômica dessa atividade. As opiniões estão bem divididas. Existem 3.925 táxis registrados na Empresa Pública de Transporte e Circulação – EPTC. Quase 10 mil pessoas trabalham nessa atividade, dia e noite. São 9.731 condutores, sendo que 3.923 são proprietários, chamados permissionários por se tratar de um serviço concedido pelo poder público. Os demais são condutores auxiliares, autônomos e comissionados. Restaram poucas empresas. Cerca de mil motoristas são mulheres. Todos devem possuir a Identidade de Condutores de Transporte Público – ICTP, mais conhecido como “carteirão”. Hoje a maioria dos táxis pertence a pontos fixos, cerca de 800 podem trabalhar somente nos pontos livres, como no início da Borges de Medeiros. As vagas nos fixos são definidas por sorteio. A Estação Rodoviária, maior ponto do estado, tem 384 carros. Alguns pontos junto aos shoppings têm entre 50 e 60 carros cada. A frota não é lá grande coisa. A maioria é carro popular, novos, seminovos e com cerca dez anos de uso. Pela legislação, podem rodar até 15 anos. Cerca de 65% dos veículos possuem o kit gás. A EPTC e o Sindicato dos Taxistas divergem sobre a idade média da frota. Na avaliação do órgão público, os carros são mais novos, têm em média dois anos e 11 meses. Já o Sinditáxi sustenta que a idade da frota gira em torno de cinco anos. Mas não é difícil encontrar Uno, Corsa e Parati em condições precárias, com pneus carecas, bancos sujos, tortos, cheirando a cigarro. Depende do cuidado do motorista e se ele é ou não dono do veículo. Tem taxista que alega problemas no ar-condicionado para economizar combustível. O Siena domina o cenário devido ao kit gás promocional de fábrica, e tem outros modelos mais novos em pontos fixos estratégicos como em shoppings e hotéis de luxo. O gás veicular é um dos itens exigidos para concorrer ao sorteio público do ponto. E destacam-se também os 141 táxis do aeroporto, que são diferenciados. Os carros brancos até podem pegar passageiros em qualquer ponto da cidade, mas dificilmente isso acontece porque não arriscam perder uma viagem até a Região Metropolitana, algo comum de acontecer no Salgado Filho. Os motoristas, em geral, têm bom comportamento, mas não dão muita conversa, mesmo durante o dia. A insegurança é total, afirmam. Alvos fáceis de assaltos, alguns trabalham tensos. Outros são descontraídos, dependendo do tipo de passageiro. Os mais experientes são desconfiados. À noite, a situação complica. Depois das 22h, preferem atender às chamadas pelo rádio da central. Entre a ida e a volta das corridas, também atendem ao público das boates e danceterias. Se o motorista bater ou for assaltado, o prejuízo é todo do permissionário. Contratar um seguro total para um táxi custa muito caro, entre R$ 5 mil e R$ 6 mil, dependendo do modelo e do ano. Só é viável o seguro para cobrir prejuízos de terceiros. Existem cursos de formação profissional, aperfeiçoamento e táxi-turismo, sendo que o curso de formação, oferecido pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), é obrigatório para quem for dirigir táxi, inclusive o motorista tem que ter uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) profissional, indicando que pode exercer tal atividade. Só depois que tiver o diploma e o prefixo do carro no qual irá trabalhar é que o profissional poderá se inscrever na EPTC. Antônio Cláudio, 25 anos de atividade, 13 no turno da noite, trabalha no bairro Jardim Botânico. Divide o carro com o proprietário e não esconde que recusa alguns passageiros. “Se o indivíduo não for suspeito, eu paro, mas também não levo para qualquer lugar. Já aconteceu de recusar corridas. Sinto muito, mas fazer o quê?”, explica.
Tarifas baixas, serviço precário No ano passado, a EPTC registrou uma média de 253 reclamações por mês, oito a nove por dia, grande parte referente à imprudência no trânsito. Os taxistas justificam a pressa pela necessidade de realizar o maior número de corridas diariamente devido ao baixo valor da tarifa. Os usuários andam pouco, em média 4 ou 5 quilômetros e gastam entre R$ 10 e R$ 15 por corrida. O ganho mensal de um taxista auxiliar varia muito, oscila entre R$ 700 e R$ 1,5 mil. Os proprietários não gostam de comentar seus rendimentos. A valor da largada é o mesmo para as bandeiras um e dois – R$ 3,36 – o que muda são os valores do quilômetro rodado, sendo R$ 1,68, na bandeira um, e R$ 2,18, entre 22h e 6h e aos domingos e feriados. São cobradas taxas extras para transportar animais, objetos de médio e grande portes, como bicicletas, e sacolas que excedam 12 unidades. O último reajuste da tarifa, no início de 2009, foi de 8,14%. O presidente do Sinditáxi, Luiz Nozari, diz que a quantidade de prefixos na cidade é suficiente para atender à demanda. “Hoje, o serviço está bom porque a tarifa é uma das mais baixas do país. É a 17ª entre as capitais. Se aumentarmos a tarifa, vamos ter muito táxi, mas como o valor está baixo, o sentimento é de que existem poucos, o que não é verdade, porque Porto Alegre tem três vezes mais do que o parâmetro mundial, que é de um táxi para cada mil pessoas. Aqui, nós temos um para cada 356 habitantes”, afirma. Em Florianópolis, segundo Nozari, há 250 carros para uma população de 400 mil habitantes. “Eles vão realizar um concurso para novas placas, porque no verão tem muito mais gente”, revela. Em 19 de maio, uma quarta-feira, a partir das 13h30min, durante 13 minutos, na avenida Ipiranga, próximo ao número 4.740, passaram 21 táxis, sendo que 11 estavam sem passageiros. Nozari destaca o desequilíbrio que existe entre os modais de transporte na capital gaúcha. O ônibus e o lotação já tiveram aumento neste ano. O táxi ficou para trás. “Numa corrida média, o casal e dois filhos provavelmente vão gastar o mesmo usando um lotação, então não está certo. Os táxis prestam um serviço individual, de porta a porta, a tarifa tem que ser mais cara. Mas como a nossa planilha está vinculada à variação do IGP-M, que está estável, não aumentamos”, explica. “Pelo menos não somos mais reféns da EPTC, que usava como parâmetro os gastos com o carro, sem contemplar os motoristas”, completa. O sindicalista adverte para a necessidade de se remunerar a qualidade do serviço. “Quanto mais barato for a tarifa, pior é o serviço prestado. Aí teremos uma frota sucateada, porque o taxista vai rodar muito, trabalhar estressado, ganhar pouco e investir pouco na manutenção do carro. E vai demorar mais para trocar por um veículo mais novo”, ressalta. Para o dirigente, os táxis com mais de dez anos são exceções, e devem estar envolvidos em questões judiciais que impedem mudanças nos prefixos. “Não compensa ficar com um táxi velho, os gastos em manutenção são muito grandes, porque o veículo tem que estar em perfeitas condições na vistoria. O que o Sindicato estimula é a troca a cada dois anos. Até 2014 queremos reduzir a idade média dos carros para três anos”.
Incentivos para renovar a frota
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Luiz Nozari, do Sinditáxi: “cor maldita”
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Os proprietários de táxis têm isenção de imposto federal (IPI) e estadual (ICMS) para compra de carro zero a cada dois anos. E tem um recurso que ainda está sendo testado para valorizar o carro na hora de venda, que é a adesivagem ou o envelopamento. O adesivo já vem na cor do táxi, vermelho ibérico. O taxista não precisa mandar lixar e pintar o carro, o que provoca a perda da garantia do fabricante e desvaloriza o veículo em 30%. “O vermelho ibérico do táxi, hoje, é uma cor maldita, muito desvalorizada. O taxista demora mais para trocar de carro porque o valor de revenda é baixo”, diz Nozari. Segundo ele, existem cinco carros rodando com o adesivo, como teste. “Só estamos esperando a resolução da EPTC para substituir a pintura, que também polui bastante o meio ambiente. E será falta de inteligência do sujeito que não fizer isso a cada dois anos porque é só retirar o adesivo e ele estará com a pintura original intacta e a mecânica mais conservada”, justifica o sindicalista. O custo da adesivagem gira em torno de R$ 1,8 mil e, para retirar, custa R$ 300. Vistoria avalia cem itens
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De 786 táxis vistoriados, EPTC reprovou 20%
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A EPTC dispõe de 13 inspetores e um engenheiro mecânico, nos turnos da manhã e tarde, para realizar as vistorias nos táxis, lotações, carros para locação, ônibus de linha e escolares. Mais de cem itens são avaliados em cerca de 30 minutos. Há uma tabela com os prazos de vistoria, que variam de acordo com o ano de fabricação do carro. Quanto mais antigo for o veículo, mais frequente deve ser a inspeção. Para os táxis com até cinco anos, a vistoria acontece a cada seis meses; até dez anos, a validade da inspeção é de três meses; e para os mais velhos é obrigatório passar pelos inspetores veiculares todo mês. Em abril deste ano, foram vistoriados 786 táxis, tendo sido reprovados 20%. De acordo com o chefe do setor da EPTC, Ivo Hoerlle, o número de veículos que ficam fora de operação ainda é positivo. “Esse percentual está no limite do padrão aceito. Já fizemos um teste com veículos particulares e reprovamos 80% dos 500 carros vistoriados”, avalia Hoerlle. Ele lembra que a EPTC ainda realiza vistorias- surpresa em pontos fixos e livres. “Ali o fiscal vê se não tem uma sinaleira quebrada, um pneu careca, numa rápida avaliação”, explica.
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De 786 táxis vistoriados, EPTC reprovou 20%
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Há quem não goste. Taxista de um ponto no centro reclama que se um fiscal achar que tem um pneu gasto, o obrigam a comparecer na EPTC naquele instante e pagar uma multa. “Acho injusto se eu estou dentro do prazo de validade da vistoria”, argumenta o motorista de um Uno 2008. Outros não veem problema com as visitas-surpresa dos “azuizinhos”. Nelson Shlatter, taxista há 43 anos, acha até melhor essa fiscalização, porque obriga o motorista a estar sempre de olho no carro. Ele é proprietário de um Siena 2006 e divide o veículo com o filho num ponto da avenida Princesa Isabel. Acredita que o movimento está bom porque a tarifa é baixa, e já planeja trocar de carro. “Todos ganham com a segurança, taxista e passageiro”, constata Shlatter.
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Carros com muitos anos de uso e em más condições ainda circulam pela cidade
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Projeto seleciona os táxis seguros
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O número de acidentes envolvendo táxis cresce desde 2005. No ano passado, a EPTC registrou 1.850 ocorrências com danos materiais, 351 com feridos e uma com vítima fatal. A EPTC pretende divulgar dentro de dois meses o resultado das avaliações nos táxis inscritos no Projeto Táxi Seguro, uma parceria do órgão público municipal com a ONG Global Road Safety Partnership, vinculada ao Banco Mundial. A iniciativa vai conferir selos de qualidade aos táxis, nas categorias Participante, Bronze, Prata e Ouro, de acordo com os pontos obtidos nas avaliações. Os critérios levados em conta para a avaliação técnica passam pela qualificação profissional dos condutores, autuações sofridas, condições do veículo, reclamações dos usuários, envolvimento em acidentes de trânsito, entre outros itens.