Dowbor analisa história recente do capital
Foto: Lóryen Bessa
Foto: Lóryen Bessa
“Em vez de comentar ou lamentar como o capitalismo que conhecíamos vem se transformando, procuro buscar o futuro que se forma no horizonte”, fala o veterano professor da PUC/SP. O trabalho, no entanto, está desde o final de maio à disposição de forma gratuita em versão on-line no site da Edições Sesc.
De forma modesta, o também autor de A era do capital improdutivo (Outras Palavras & Autonomia Literária, 316p.), diz que a nova empreitada é “um livro sobre os caminhos da sociedade”. Exatamente por isto que Dowbor explica a iniciativa do Sesc de “acelerar” a distribuição. “Está todo mundo à procura de caminhos, no meio de todos os recentes acontecimentos”, lembrando a própria pandemia do novo coronavírus.
Em síntese, o economista diz que o capitalismo pode estar passando por uma transformação definitiva para um sistema informacional. Em suas palavras, “um novo mundo que supere o próprio capitalismo.”
Para Dowbor, a mudança é tão sofisticada quanto, por vezes discreta. “É o modo de produção no seu conjunto que se desloca. O raciocínio aqui não é econômico, é sistêmico, e procura traçar novos rumos”, fala.
Outra coisa nascendo
Não seria o capitalismo que está mudando, na análise do professor. “Está nascendo outra coisa, que não é a indústria 4.0, é uma mudança tão profunda como da era feudal-agrária para a da indústria”, acredita.
Dowbor de fato entende que o mundo caminha para “muito além de uma indústria 4.0”. E, dentro desta perspectiva, aponta algo que pode ser avaliado como otimista: a possibilidade da instituição de uma renda básica universal. Isso, apesar de reafirmar que a concentração de renda deve continuar enorme, devido o controle exercido pelo capitalismo financeiro.
No livro, o economista trata de elencar o que chama grandes eixos de mudança. “Novo não significa necessariamente melhor”, pondera. Se por um lado a perspectiva de uma sociedade mais informada, conectada e colaborativa se abre, “o controle individualizado sobre as populações, por meio de algoritmos e de inteligência artificial, já é muito presente”, reflete.
Isso, na opinião de Dowbor não nega que algo novo está sendo gerado. E o essencial, conforme ele, é que “para o bem ou para o mal, o mundo está passando a funcionar de modo diferente. É uma mudança sistêmica”.
Prego no caixão
Na opinião do professor, a pandemia “é um prego no caixão” de um sistema que produziu grandes tragédias ambientais. Dowbor evidencia que, apesar de chefes de Estado como Donald Trump e Bolsonaro negarem, o atual sistema impacta no clima. O sistema, continua o professor, também está “enchendo os oceanos de plásticos e nos enchendo de produtos químicos que causam câncer”.
Dowbor entende que “as grandes mudanças acontecem em momentos de crise”. No entanto, ressalta que, com ou sem pandemia, a elite “não vai soltar a sardinha de graça”.
Em sua análise, Dowbor aponta que, concretamente, a transformação social que está ocorrendo vai gerar uma sociedade do conhecimento. Para ele, assim como houve uma sociedade agrária e uma sociedade industrial, essa nova perspectiva também trará implicações profundas.
Se na sociedade agrária o controle social se deu no controle da terra e na sociedade industrial dos novos meios de produção, a dúvida que levanta o professor é: “Para a era do conhecimento, da revolução digital, é possível fazer um ordenamento sistêmico semelhante?”.