Supermercados faturam mais com a pandemia
Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Apesar do fechamento da grande maioria de estabelecimentos de rua e dos shoppings centers a partir da segunda metade de março com a proliferação do novo coronavírus e o reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o comércio varejista manteve o volume de vendas no período. As vendas de itens de primeira necessidade, como alimentos, inclusive, aumentaram com as medidas de isolamento social – e na carona do comportamento atípico dos consumidores, os preços não pararam de subir. O fechamento dos demais estabelecimentos previstos no decreto estadual e no modelo de distanciamento social mantido pelo governo do estado acabou beneficiando ainda mais o segmento supermercadista , já que é a unica opção de compra de artigos de cama, mesa e banho, eletrodomesticos, utensílios para casa.
De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas em todo o país no mês de fevereiro deste ano foram 15,8% superiores às do mesmo mês em 2019 – resultado deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em abril, o desempenho foi semelhante: 15,9%. Entre janeiro e fevereiro de 2020, a alta foi de 4,61%. No acumulado do ano até fevereiro, o setor registrou alta de 10,35% em relação ao ano passado.
Uma pesquisa divulgada em maio pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostra que 61% dos clientes que compraram on-line durante a quarentena aumentaram o volume de compras nessa modalidade devido ao isolamento social. Em 46% dos casos, o aumento de compras foi superior a 50% e a demanda por alimentos e bebidas para consumo imediato cresceu para 79% dos entrevistados.
Questionada sobre o volume de vendas desde o início da crise sanitária, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) respondeu que houve um posicionamento institucional de não mensurar as vendas do setor no primeiro semestre.
“Entendemos que é um contrassenso falarmos em crescimento de vendas quando muitas pessoas, empresas e setores estão em grandes dificuldades, por isso optamos por, ao menos temporariamente, descontinuar esta pesquisa”, informou a assessoria da entidade.
O autosserviço iniciou 2020 com um dos maiores resultados dos últimos nove anos, 5,11%, e em fevereiro continuou em alta, registrando 4,61% de crescimento sobre janeiro. O desempenho é o melhor para o setor desde 2012, comemora o presidente da Abras, João Sanzovo Neto. Sobre o efeito do isolamento social nas vendas, a entidade, os supermercados receberam um número de clientes acima da média entre 14 e 21 de março, “a maioria com o objetivo de estocar comidas para ficar mais tempo em casa”, avalia Sanzovo.
Alimentação e moradia consomem 61,2% da renda familiar
Arte: Dieese/RS
Arte: Dieese/RS
As informações da Receita Estadual com base nos dados dos documentos fiscais eletrônicos e outras informações fiscais também revelam o aumento do volume de vendas ao consumidor nos itens essenciais (alimentação) e variação negativa na venda direta do setor industrial (móveis, calçados, vestuário, veículos).
De acordo com a economista Daniela Sandi, do Dieese-RS, entre as mercadorias com maiores variações positivas do valor das vendas ganham destaque produtos do setor de alimentos, como cereais, que lidera a lista com aumento de 26% nas vendas, óleos, leite, carnes, frutas e hortícolas; e itens da indústria química, como sabão para lavar roupa e álcool em gel.
Também é importante lembrar que a alimentação já havia subido o dobro da inflação em 2019. Enquanto a Cesta Básica de Porto Alegre registrou alta de 8,95%, o INPC/IBGE foi de 4,48% em 2019.
Enquanto o setor fatura sem parar, a renda das famílias míngua cada vez mais com a escalada de remarcações nas gôndolas. Aquelas com renda mensal de até dois salários mínimos, de acordo com o IBGE, gastam 22% com alimentação e 39,2% com habitação.