China suspende importação de carnes brasileiras
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Maior importador de alimentos do planeta, a China comprou meio milhão de toneladas de carnes de frango, suína e bovina do Brasil em 2019 e injetou 2,7 milhões na economia em 2019, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Neste ano, as relações comerciais entre os dois países vem sendo ameaçada pelo comportamento de autoridades brasileiras em relação ao controle da Covid-19, declarações ofensivas e fake news publicadas em redes sociais pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pelo filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e pelo ex-ministro do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que provocaram incidentes diplomáticos e ameaças de sanções comerciais.
No Rio Grande do Sul, os frigoríficos respondem por mais da metade dos surtos de contágio por Covid-19. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), dos 44 focos identificados em maio, 23 envolvem abatedouros de 17 municípios gaúchos. A maioria são frigoríficos que já foram autuados ou interditados na região Norte do estado desde o início da pandemia. Passo Fundo e Lajeado são os dois municípios com a maior incidência da doença no estado depois de Porto Alegre.
O setor tem grandes empresas relacionadas pelo Ministério Público Federal e pelo Ibama a crimes ambientais, como desmatamentos e queimadas e grilagem de terras públicas. Além disso, é o segundo em autuações por ocorrências de acidentes de trabalho no país.
Sem relacionar o descontrole da pandemia no Brasil, que detém o maior número de contágios pelo novo coronavírus do mundo, atrás apenas dos EUA, agora as autoridades aduaneiras chinesas passaram a vetar a importação de carnes de frigoríficos que não apresentarem a certificação de produtos livres da Covid-19.
A embaixada chinesa alega que a medida é uma preocupação com a pandemia e se estende a todos os parceiros comerciais. No sábado, o site da Administração Geral de Alfândega da China (GACC) publicou um comunicado no qual identifica os frigoríficos pelos códigos do Serviço de Inspeção Federal (SIF), sem detalhar o motivo da suspensão.
Seis plantas frigoríficas já foram atingidas pelas restrições de venda ao mercado externo, sendo duas do Rio Grande do Sul.
Na lista de empresas suspensas estão duas de abate e processamento de bovinos do Mato Grosso, a Mafrig, de Várzea Grande, com capacidade de abate de 80 cabeças por hora; e a Agra Agroindustrial, 40 cabeças por hora, em Rondonópolis.
No RS, a suspensão atinge duas unidades da gigante JBS, uma de processamento de carnes suínas da marca Seara em Três Passos e outra de aves, em Passo Fundo, a mesma unidade interditada por fiscais do Ministério da Economia devido à reincidência de focos de contágio entre trabalhadores. Um frigorífico da multinacional BRF, de abate e beneficiamento de suínos, em Lajeado, e a de frangos da Minuano, em Lajeado, também deverão apresentar certificados de carnes e embalagens livres de Covid-19.
JBS E BRF – Em nota, a JBS afirma que não comentará a decisão das autoridades aduaneiras de embargo às importações e reitera que “não tem medido todos os esforços para a garantia do abastecimento e da produção de alimentos dentro dos mais elevados padrões de qualidade e segurança além da máxima proteção dos seus colaboradores”.
A empresa argumenta que implementou uma série de medidas de controle, prevenção e segurança em todas as suas unidades e que estão em conformidade com a Portaria interministerial nr. 19, de 18 de junho de 2020, dos ministérios da Saúde, Agricultura e Economia.
“As medidas também seguem as orientações dos governos estaduais e municipais, além de contar com a consultoria e recomendação de médicos infectologistas especializados, como Dr. Adauto Castelo Filho, e instituições de referência, como o Hospital Albert Einstein”, ressalta a JBS.
Também em um comunicado, a BRF informa que está atuando junto às autoridades brasileiras e chinesas, incluindo os ministérios da Agricultura e de Relações Exteriores, à embaixada e a Administração Geral das Alfândegas da China, para reversão da suspensão de exportações de carne suína provenientes de sua unidade de Lajeado no menor prazo possível “e tomando todas as medidas cabíveis para restabelecer tal habilitação”.
A empresa ressalta que, entre os trabalhadores da planta gaúcha, não há registro de caso ativo da doença. “Desde o início do surto de Covid-19, em janeiro, a BRF adotou protocolos de saúde e planos de contingência em todas as unidades nas quais tem operação no Brasil e no mundo. Vale salientar ainda que os órgãos chineses já realizaram testes em mais de 50 mil amostras de alimentos de forma aleatória procedentes de diversos países e das mais variadas empresas e nada foi constatado até o momento”. As outras empresas atingidas pelo embargo não se manifestaram.
INTERPRETAÇÃO – “Não houve nada de errado com os frigoríficos, que estão testando todos os seus funcionários em relação à covid-19. Tomamos todas as precauções com as pessoas”, afirma a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Segundo ela, há um ruído na interpretação da legislação brasileira. “Muitas vezes, acontece de os chineses não entenderem nossa legislação, não compreenderem como um Ministério Público pode, eventualmente, ser contra uma portaria do governo, por exemplo”, argumenta.