Ataques a governadores escondem falhas do governo no socorro a empresas
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Nos últimos dias, manifestações foram realizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro contra medidas que estão sendo adotadas nos governos estaduais para aumentar o isolamento social de suas populações. A ofensiva bolsonarista em especial se dá por conta do fechamento momentâneo de serviços não essenciais, principalmente setores do comércio. Economistas, no entanto, apontam que falhas do governo federal no socorro às pequenas e médias empresas durante a pandemia se mostraram prejudiciais a economia do país.
Para analistas, a movimentação serve mais como uma espécie de cortina de fumaça, que tem por objetivo esconder a essência da política pública do governo federal na pandemia para pequenas e médias empresas. E que foi resumida pelo ministro da Economia Paulo Guedes, na célebre reunião ministerial ocorrida em 22 de abril passado e que se tornou pública por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF): “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”.
Foto: AssCom/Ministério da Economia/Divulgação
Desafetos presidenciais
Na manhã desta quinta-feira, 18, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB) fez alusão ao dito por Guedes para desvelar contradições do governo federal.
“Paulo Guedes cumpre pelo menos uma promessa. Ele afirmou que o Governo Federal não apoiaria pequenas empresas para não perder dinheiro”, lembrou.
O tucano registrou que o programa paulista Desenvolve SP solicitou R$ 1 bi ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para emprestar às micro e pequenas empresas do turismo do seu estado em 90 dias.
“Salvaria muitos empregos”, disse Dória. Segundo ele, não houve nenhuma resposta. “Um descaso com a população. E desprezo com a economia”.
O governador de São Paulo ainda disse que o Fundo Geral do Turismo, do Ministério do Turismo, cortou repasses a Desenvolve SP. Os recursos garantiriam 14 mil empregos no Estado. “O Ministério enviou os recursos a Caixa Econômica Federal – R$ 1,2 bi, que estão lá parados. Nada foi repassado”, afirmou.
Contrapondo-se as afirmações de Bolsonaro de que os governadores querem que “ele pague a conta”, Dória informou: “São Paulo enviou ao Governo Federal R$ 441 bi em impostos federais em 2020 e recebeu de volta apenas R$ 55 bi. É muito menos do que arrecada”.
Foto: Sergio Andrade/Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
Leite questiona R$ 30 bi a Bolsonaro que nunca retornaram ao RS
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, é outro que questiona os ditos de Bolsonaro. Segundo ele, o presidente disse que enviou R$ 40 bilhões de reais em recursos para o Estado, misturando repasses que são obrigatórios e constitucionais.
“O Estado mandou R$ 70 bilhões em impostos para Brasília. Onde estão os outros R$ 30 bilhões que não voltaram?”, questionou Leite.
Para o governador gaúcho, que virou alvo de Bolsonaro desde que seu nome passou a ser ventilado como possível candidato à presidência em 2020 entende que as manifestações contrárias às políticas mais restritivas que objetivam conter a disseminação da Covid-19 são frutos da política estimulada por Bolsonaro.
“O presidente força uma narrativa de quem quer se esquivar das responsabilidades de um quadro dramático da pandemia pela negação dessa doença. Insiste na divisão, no conflito, no confronto, quando o inimigo é um só, o vírus. Quando enfrentamos um período crítico, ao invés de ofertar ajuda, o presidente nos oferece ataques e incentiva a sua militância a disseminar mentira e desinformação para confundir as pessoas com distorções”, conclui
Mais de um milhão de empresas fechadas
Ricardo Franzoi, responsável pelo escritório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) falou que reações a fechamentos de setores da economia para enfrentar a pandemia não só ocorrem no Brasil. “Mas, a Inglaterra, por exemplo, financiou salários, sustentou empresas e trancou tudo”, registrou.
Segundo ele, as críticas, em geral, vêm do setor financeiro que diz que esse tipo de ação aumenta o déficit fiscal.
Vivian Machado, economista do Dieese de São Paulo, informou que, apesar do governo federal ter criado uma série de programas para o enfrentamento da crise sanitária na economia, eles não chegaram a tempo.
Segundo os dados do Dieese, por falta de incentivo e apoio adequado o ano de 2020 terminou com 1,04 milhão de empresas fechadas.
Abertura de MEIs e trabalho precarizado
Foto: Dieese/Divulgação
Viviam ressalta ainda que, apesar de indicadores apontarem que em 2020, por outro lado, cerca de 3 milhões de empresas foram criadas, 2,6 milhões foram Micro Empresas Individuais (MEI).
“É gente que perdeu o seu emprego e teve que criar um CNPJ para tentar prestar serviços. Enfim, precarização do trabalho”, revela.
Os dados de 2020 do próprio ministério da Economia registram que o ano de 2020 encerrou com 19,9 milhões de empresas abertas no Brasil. Destas, 11,2 milhões eram MEI (56,6%).
No total, em todos os recursos que foram injetados em linhas de crédito para enfrentar os efeitos da pandemia tanto nas pessoas físicas quanto nas jurídicas, R$ 2 trilhões foram de fato emprestados.
Segundo Vivian, no final das contas, quem mais foi beneficiado foram as grandes empresas.
De R$ 918 bilhões transacionados, em maior parte pelos bancos privados, metade foram para grandes empresas. Para as micro e pequenas empresas, os privados destinaram R$ 113,5 bilhões. “Os bancos não quiseram se arriscar”, disse a economista.
Ainda segundo os dados do Dieese, quem mais socorreu pessoas físicas foram os grandes bancos públicos. Dos R$ 442,5 bilhões transacionados por esse segmento, R$ 258,7 bilhões foram para Pessoas Físicas, contra R$ 76,2 bilhões para as micro e pequenas empresas.