Pandemia aumentou a desigualdade para as mulheres no mercado de trabalho
Foto: Agência Brasil
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A comparação dos indicadores de desemprego dos estados no terceiro trimestre de 2019, antes da pandemia, com o mesmo período de 2020, em meio à crise sanitária mostra que as mulheres formam a força de trabalho mais impactada pela covid-19.
Um estudo especial do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base e dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnadc), do IBGE, comparou as informações sobre a ocupação por gênero em todos os estados e no Distrito Federal e contatou que as mulheres foram a força de trabalho mais atingida pela crise sanitária no país. Entre as mulheres negras, quase 20% perderam os empregos.
Infográfico/ Dieese
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“A pandemia alterou as dinâmicas de vida e trabalho da população brasileira. Nesse cenário, parcela expressiva de mulheres perdeu sua ocupação e muitas nem buscaram uma nova inserção por conta da própria falta de oportunidades de trabalho e da ampliação dos cuidados com a família em razão da crise sanitária”, destaca Daniela Sandi, economista do Dieese.
Entre o 3º trimestre de 2019 e o período equivalente de 2020, o contingente de mulheres fora da força de trabalho aumentou 8,6 milhões. Nesse período, a ocupação feminina diminuiu 5,7 milhões. Foram mais 504 mil mulheres que passaram a ser desempregadas.
Agravamento da pobreza e exclusão social
Infográfico: Dieese
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As trabalhadoras domésticas sentiram o forte efeito da pandemia em suas ocupações, uma vez que 1,6 milhões de mulheres perderam seus trabalhos, sendo que 400 mil tinham carteira assinada e 1,2 milhões não tinham vínculo formal de trabalho.
Já o contingente de trabalhadoras informais, exceto as do emprego doméstico, passou de 13,5 milhões para 10,5 milhões, indicando outro grupo expressivo que perdeu o trabalho e a renda.
Os resultados para este contingente de mulheres negras e mais pobres refletiram um agravamento da situação de pobreza e de exclusão social. “A conciliação dos cuidados com os filhos fora da escola, a preocupação com os idosos sob sua responsabilidade, os afazeres domésticos e as longas jornadas tenderam a agravar problemas de saúde física e mental dessas mulheres”, constata a pesquisa.
Diferenças salariais pela cor da pele e gênero
Infográfico: Dieese
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Para o grupo de mulheres, com maior escolaridade, que trabalhou em casa, entre 2019 e 2020, o rendimento médio por hora aumentou, apesar do abismo salarial recortado por gênero e raça: entre as mulhere
s negras o rendimento médio passou de R$ 10,95 para R$ 11,55 e entre as não negras, de R$ 18,15 para R$ 20,79.
Essa elevação se deu principalmente por efeito estatístico, quando da saída de mulheres com menores rendimentos do mercado de trabalho e a permanência daquelas com maiores salários.
Em 2020, as trabalhadoras seguiram ganhando menos, mesmo quando ocupavam cargos de gerência ou direção. Para as mulheres, o valor recebido por hora trabalhada foi de R$ 32,35 e, para os homens, R$ 45,83. As diferenças salariais persistem em relação à escolaridade. Mulheres em condições iguais de escolaridade, ou seja, com o mesmo nível de escolaridade dos homens, ganhavam em média R$ 3.910,00. A média salarial dos homens com a mesma formação dessas mulheres era de R$ 4.910,00.
Rio Grande do Sul
Em relação ao recorte dos dados para o Rio Grande do Sul, a taxa de desemprego das mulheres no estado aumentou de 10,7% em 2019 para 11,7% no terceiro trimestre de 2020. A crise sanitária, econômica e social reforçou a distância salarial entre homens e mulheres em 2020 e elas seguiram ganhando menos. A pesquisa revelou que o salário médio das mulheres gaúchas (R$ 2.205,00) equivalia a 70% do auferido pelos homens (R$ 3.136,00) em 2020, desigualdade essa que foi ampliada frente a 2019, quando o salário feminino (R$ 2.099,00) era equivalente a 73% ao masculino (R$ 2.873,00). “Importante registrar que essa elevação se deu principalmente por efeito estatístico, quando da saída de mulheres com menores rendimentos do mercado de trabalho e a permanência daquelas com maiores salários”, destaca a economista.
Negociação coletiva e home office
Foto: Mídia Ninja
No plano sindical, a negociação coletiva tem sido um importante instrumento na busca de equidade de gênero e garantias ao trabalho da mulher, explica. “É crescente a presença de cláusulas relativas ao trabalho de mulheres e à igualdade de gênero no processo de negociação coletiva. Importantes avanços por meio de acordos e convenções coletivas, em especial, em aspectos relativos às licenças maternidade e paternidade, bem como em questões ligadas ao cuidado infantil e à reafirmação dos princípios de não discriminação e de remuneração igual para trabalhos iguais”. Mais recentemente, com advento da pandemia e com a intensificação dos meios digitais e home office, sindicatos têm negociado cláusulas que asseguram o direito à desconexão (entendida como nenhuma obrigação ou responsabilidade de utilizar quaisquer aplicativos ou meios de comunicação fora de sua jornada de trabalho acordada) e regulamentação do home office, conquistas importantes.