PIB recua com queda na agropecuária e exportações, e economia entra em recessão técnica
Foto: José Fernando Ogura/AEN-PR
O Produto Interno Bruto (PIB), que é soma dos bens e serviços finais produzidos no país, ficou em -0,1% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o segundo trimestre, quando caiu 0,4%. Apesar da alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional, o índice foi influenciado para baixo principalmente por conta da queda de 8,0% na agropecuária e também pelo recuo de 9,8% nas exportações de bens e serviços. Já a indústria ficou estável (0,0%).
O PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014. Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 2,2 trilhões no terceiro trimestre. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, cresceu 4,0%.
No acumulado do ano até o mês de setembro, houve avanço de 5,7% em relação a igual período de 2020. Os dados são do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE. Tecnicamente, o país entra em recessão quando acumula dois trimestres em seguida de queda do PIB
Infográfico: IBGE
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A bolha da soja
Infográfico: IBGE
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O recuo na agropecuária (-8,0%) foi consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que a colheita da soja, por ser muito mais concentrada nos dois primeiros trimestres, impacta no resultado.
“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, relaciona Palis.
Economia com base em serviços
Já o crescimento dos serviços foi puxado por outras atividades (4,4%), que reúnem diversos serviços prestados às famílias. “Com o avanço da vacinação contra covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços.”, comenta Palis.
Cinco atividades da categoria apresentaram crescimento: outras atividades de serviços (4,4%), informação e comunicação (2,4%), transporte, armazenagem e correio (1,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%). As atividades imobiliárias (0,0%) ficaram estáveis e apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,5%) e comércio (-0,4%) registraram variações negativas.
“A queda nos serviços financeiros se deve em parte a um aumento nos sinistros de planos de saúde. Já o comércio, que foi um dos setores mais afetados pela pandemia, teve uma forte alta no segundo trimestre, com a reabertura e, portanto, a base de comparação estava alta e as famílias também migraram parte do seu consumo para os serviços”, explica Palis.
Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional, ficou estável (0,0%) no trimestre. Houve crescimento apenas na construção (3,9%). Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,1%), indústrias de transformação (-1,0%) e indústrias extrativas (-0,4%) tiveram queda.
“O encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética, vêm afetando o setor industrial”, ressalta Palis.
Infográfico: IBGE
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Preços na indústria crescem 2,16%
Infográfico: IBGE
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A inflação do setor industrial aumentou 2,16% em outubro na comparação com setembro, segundo dados do Índice de Preços ao Produtor (IPP), divulgado hoje (01) pelo IBGE. Com o resultado, os preços na indústria acumularam crescimento de 26,57% em 2021, o maior índice para outubro desde o início da série histórica, em 2014. Já o acumulado nos últimos 12 meses foi de 28,83%, e vem reduzindo desde junho, quando era de 36,78%.
A alta de outubro é a maior desde abril, quando registrou 2,19%, e marca uma série de mais de dois anos de inflação na indústria. A última variação negativa do IPP foi em agosto de 2019.
A pesquisa mede a variação dos preços de produtos na “porta da fábrica”, isto é, sem impostos e frete, de 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação. Dentre elas, 22 registraram alta em outubro, destaque para refino de petróleo e produtos de álcool, que apresentou a maior variação (7,14%) e também a maior influência no resultado geral (0,73 ponto percentual dos 2,16%). O setor apresenta resultados positivos desde maio.
“Essa taxa é reflexo da variação do óleo bruto de petróleo, cujo preço vem aumentando no mercado internacional”, explica o gerente da pesquisa, Alexandre Brandão. O acumulado no ano da atividade é de 60,38%, a maior taxa observada para outubro desde o começo da série histórica, iniciada em 2014.
Exportações tiveram queda de 9,8% no PIB
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias aumentou 0,9% na comparação com o trimestre anterior. E o consumo do governo também cresceu (0,8%).
No setor externo, as exportações de bens e serviços apresentaram queda de 9,8%, enquanto as importações de bens e serviços recuaram 8,3% no terceiro trimestre de 2021 frente ao segundo trimestre.
“A balança de bens e serviços negativa acabou puxando a variação do PIB para baixo na comparação com o trimestre anterior. Cabe destacar, no entanto, que na comparação interanual, ambas as atividades tiveram alta acentuada, muito por conta da retomada do turismo internacional, mas a contribuição ao crescimento ainda ficou negativa, já que as importações (20,6%) superaram em muito as exportações (4,0%)”, conclui Palis.
Na comparação interanual, dentre as exportações, aquelas que registraram melhores resultados foram produtos de metal, máquinas e equipamentos e especialmente os serviços. Na pauta de importações, as altas mais relevantes ocorreram em veículos automotores, produtos farmoquímicos, máquinas e equipamentos e produtos químicos.
Infográfico: IBGE
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País tem 13,5 milhões de desempregados
Infográfico: IBGE
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A taxa de desocupação recuou para 12,6% no terceiro trimestre deste ano, uma redução de 1,6 ponto percentual frente ao segundo trimestre. Com isso, o número de pessoas em busca de emprego no país caiu para 13,5 milhões (-9,3%). Já os ocupados chegaram a 93,0 milhões, com crescimento de 4,0%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada hoje (30) pelo IBGE.
“No terceiro trimestre, houve um processo significativo de crescimento da ocupação, permitindo, inclusive, a redução da população desocupada, que busca trabalho, como também da própria população que estava fora da força de trabalho”, diz a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy. A população fora da força de trabalho é o contingente daqueles que não estão ocupados nem buscando emprego.
Economia dependente
Foto: Unicamp/ Divulgação
Para o professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio Jr., a economia brasileira é cada dia mais dependente dos humores da economia internacional. “A recuperação, que já era pífia, perdeu fôlego de vez. Na melhor das hipóteses, voltamos para a situação de estagnação estrutural dos últimos anos. A razão é simples. A política econômica neoliberal reduz progressivamente não apenas a capacidade do país fazer políticas anticíclicas como também políticas públicas”, avalia. Para o economista, não há surpresa alguma nesse cenário de PIB em queda e desemprego em alta. “O modelo neoliberal nos condena a ser um vagão de terceira classe na divisão internacional do trabalho”, conclui.
*Com a Agência IBGE.