Adriano Pires desiste de indicação para presidência da Petrobras
Foto: Pedro França/Agência Senado
Indicado por Jair Bolsonaro (PL) no dia 28 de março para assumir o comando da Petrobras, o economista e consultor Adriano Pires Rodrigues desistiu do cargo depois que vieram à tona suas ligações com o mercado privado de energia. Com a desistência, Caio Paes de Andrade voltou a ser sondado para o cargo. Andrade é secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do ministro da Economia e é alinhado com as ideias privatistas do ministro Paulo Guedes e Bolsonaro. Em 2021, ao participar de um painel da Convenção do Clima (COP-26) na Suécia, apesar dos altos índices de desmatamento e incêndios criminosos na Amazônia que escandalizavam a comunidade internacional, ele tentou convencer investidores a investir no Brasil e afirmou: “somos verdes”. Ele também deve ser barrado pelo compliance da Petrobras por não entender nada do setor de energia.
Em carta ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o economista Adriano Pires admitiu na segunda-feira, 4, que a sua atuação profissional em consultorias o impede de assumir a função. “Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da Presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo”, destacou Pires no documento.
Pelo mesmo motivo, também caiu o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, indicado no dia 7 de março por Bolsonaro para assumir o Conselho de Administração da estatal.
Pires tinha sido indicado para substituir o general da reserva Joaquim Silva e Luna na presidência da estatal. No entanto, diversos acionistas minoritários questionaram conflito de interesses decorrentes da atividade profissional do economista.
A possibilidade de desistência de Pires tinha provocado tensões na bolsa de valores ao longo do dia. As ações da companhia caíram 0,85% (ações ordinárias) e 0,94% (ações preferenciais) nesta segunda-feira.
Conflito de interesses
O nome dele vinha sendo contestado desde a indicação porque o economista presta consultoria há mais de duas décadas a empresas privadas do setor de energia, algumas delas concorrentes diretas da Petrobras ou em litígio com a estatal.
Pires é sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), uma consultoria privada para assuntos estratégicos no setor de energia.
No CBIE, coordena projetos e estudos para a indústria de gás natural, a política nacional de combustíveis, o mercado de derivados de petróleo e gás natural.
O economista também assessora o empresário Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e dono de empresas de distribuição de gás natural que transacionam com a Petrobras.
Pires já havia sido nomeado para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em 2018, mas foi vetado pelo TCU a pedido do Ministério Público por conflito de interesses por sua ligação com o mercado privado de energia.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu investigação sobre o possível conflito de interesse antes da nomeação de Pires à presidência da Petrobras.