Inflação dos insumos da construção é de 51,21%
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Empresários da construção civil estão preocupados com a alta dos preços dos materiais de construção e insumos para o segmento. Conforme dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o tema foi citado por 46,7% dos empresários do setor em levantamento da entidade intitulado Desempenho Econômico da Indústria da Construção Civil e Perspectivas, divulgado nesta segunda-feira, 25.
Segundo a CBIC, trata-se do percentual mais alto registrado desde o primeiro trimestre de 2015. Para as construtoras, o custo dos materiais é o principal problema do setor já há sete trimestres consecutivos.
A inflação registrada para materiais e equipamentos usados pela indústria da construção ficou em 51,21% entre janeiro de 2020 e março de 2022, se for levado como referência, o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC). Entre as variações expressivas destacadas pela CBIC figuram a de condutores elétricos (91,9%), tubos e conexões de PVC (91,8%), vergalhões e arames de aço ao carbono (81,5%) e eletroduto de PVC (70,8%).
PIB
O Produto Interno Bruto (PIB) do setor também foi impactado pelo aumento de gastos, gerando crescimento de 9,7% em 2021. Segundo Ieda Vasconcelos, economista da CBIC, a variação do PIB da construção civil surpreendeu em 2021, mas isso se deve às bases de comparação, uma vez que, houve um recuo no ano anterior de 6,7% nesse item.
Conforme a economista, a projeção para 2022 é de crescimento de 2,5%, mas isso se deve também à base de comparação com os 9,7% de 2021. O problema é que, se continuarmos crescendo apenas 2,5% ao ano, somente em 2033 o país voltará ao nível de atividades observado em 2014, quando o programa de habitação popular do governo ainda era o Minha Casa, Minha Vida. Mantendo este índice, o setor vai trabalhar ainda por 11 anos abaixo do seu pico de atividades”, explicou a economista.
Rentabilidade menor
Ieda ressaltou que, mesmo com esse crescimento, o setor perdeu participação no PIB nacional, caindo para 2,6% em 2021. “É o menor patamar da história”, explicou.
Para se ter uma ideia de como é ruim essa participação atual do setor de construção civil no PIB nacional, a CBIC o compara com os anos de pico – entre 2010 e 2014 – quando o PIB se mantinha sempre acima de 6,2%, chegando a 6,5% em 2012.
O presidente da CBIC, José Carlos Martins, explicou esse crescimento do setor, que veio acompanhado de perda de participação no PIB do país. “O que cresceu foi o valor agregado, porque considerou o aumento dos insumos. Isso acabou por tirar rentabilidade daqueles que executam as obras. Assim sendo, o resultado não ficou com o setor, mas com os fornecedores”.
Alta de juros
Um outro fator que tem sido fonte de preocupação dos empresários do setor é a alta de juros. “A preocupação com a alta de insumos divide espaço com a preocupação que temos com a alta de juros”, afirmou o presidente da CBIC.
Segundo ele, a preocupação com os juros é a que mais tem ganhado força, sendo citada entre os principais problemas da construção civil por 26,7% dos empresários do setor no primeiro trimestre de 2022.
“Este é o maior patamar desde o segundo trimestre de 2017 (27,9%). Em relação aos primeiros três meses de 2021, que era 11,6%, a alta [dos juros] foi de 15,1 pontos percentuais”, detalhou.
Habitações populares
A alta dos juros dificulta também o poder de compra das famílias, o que preocupa a CBIC. Por isso, a entidade defende programas sociais voltados a habitações “mais simples”. Atualmente o único programa de habitação popular é o Casa Verde Amarela.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
“Precisamos recompor o poder de compra das famílias. Além disso, estados que receberam menos apoio desse programa foram os que apresentaram os piores índices. Por isso, precisamos ter em mente o aspecto de que arrumar desequilíbrios regionais é muito importante”, acrescentou ao citar Pará, Maranhão, Tocantins, Amapá, Roraima, Rondônia, Acre, Piauí, Paraíba, Amazonas, Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte.
Outra preocupação destacada pelos empresários consultados pela CBIC é a “falta ou o alto custo do trabalhador qualificado”, citado por 18,2% dos participantes da pesquisa, além da demanda interna insuficiente, mencionada por 16,5% dos empresários.