Milei pode levar Argentina ao caos econômico, dizem economistas
Foto: Benedikt von Loebell - Fórum Econômico Mundial/CC BY-NC-SA 4.0
Mais de 100 economistas renomados internacionalmente divulgaram no dia 8 de novembro uma carta alertando que uma possível vitória de Javier Gerardo Milei nas eleições presidenciais da Argentina pode agravar a economia do país que já se encontra há anos em uma profunda crise.
Os economistas dizem no documento: “ainda que aparentemente soluções simples possam ter seu apelo, elas provavelmente causam mais devastação no mundo real no curto prazo, enquanto reduzem de forma severa o espaço para políticas no longo prazo”.
Para eles, as propostas de Milei são divulgadas como “saída radical para o pensamento econômico tradicional”, mas, concretamente, se baseiam no “laissez-faire econômico” que representa um grande risco de provocar mais danos à economia da Argentina e a sua população.
Entre os que assinam a carta estão o francês Thomas Piketty, autor do best seller O Capital no século XXI, a indiana Jayati Ghosh, presidente do Centro de Estudos Econômicos e Planejamento da Universidade Jawaharlal Nehru, Nova Délhi, e o sérvio-americano Branko Milanović, professor do Centro de Pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova Iorque, do London School of Economics, no Institut Barcelona d’Estudis Internacionais e pesquisador do Luxembourg Income Study, um importante centro de pesquisas sobre desigualdade.
Dolarização é volta ao pesadelo econômico argentino
Milei foi o mais votado nas prévias eleitorais argentinas deste ano e o segundo colocado no primeiro turno do dia 22 de outubro. Agora, sua disputa no segundo turno no próximo dia 19 será com o ministro da Economia e candidato governista Sergio Massa.
Milei é um ultradireitista que se vende como um crítico das elites e prega rupturas como forma de recuperar a economia da Argentina.
Entre suas propostas econômicas polêmicas, Milei defende o fechamento das empresas públicas argentinas, a saída do país do Mercosul, o fechamento do seu Banco Central e a substituição da moeda, o peso argentino, pelo dólar americano.
Mas foi uma política de quase dolarização na década de 1990 que deu lugar a uma crise no início dos anos 2000 que tem reflexos até hoje.
A paridade forçada entre o peso e o dólar moldou um traço cultural econômico no país, o de usar a moeda americana em transações corriqueiras.
Crítica às elites e laços com bilionário
Milei é formado em Economia pela Universidade de Belgrano (Licenciatura) e com dois Mestrados no Instituto de Desarrollo Económico e Social (IDES) e na Universidade Torcuato di Tella. Ele se tornou economista-chefe da Máxima AFJP (empresa de previdência privada), economista-chefe do Estudio Broda (empresa de assessoria financeira) e consultor governamental do Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas Sobre Investimentos. Ele também era economista sênior do HSBC.
Foi assessor econômico de Antonio Domingo Bussi quando este, embora indiciado por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura, foi eleito deputado em 1999.
Dirigiu a partir de 2012 a divisão de Estudos Econômicos da Fundación Acordar, um think tank de âmbito nacional. Ele também é membro do B20, do Grupo de Política Econômica da Câmara de Comércio Internacional (um consultor do G20) e do Fórum Econômico Mundial. É especialista em crescimento econômico e já foi professor de diversas disciplinas econômicas em universidades argentinas e no exterior. Ele é autor de nove livros.
Além disso, Milei manteve ligações profissionais durante décadas com o magnata armênio-argentino Eduardo Eurnekián, de que ainda é muito próximo. Eurnekián é o quinto mais rico da Argentina e multiplicou sua fortuna durante a dolarização proposta pelo Plano Cavallo, na década de 1990.