Apesar da quebra, Conab mantém projeção de safra de grãos acima de 300 milhões de toneladas
Foto: Wenderson Araujo/ ABr/ Divulgação
A produção brasileira de grãos deve chegar a 306,4 milhões de toneladas. A estimativa é do 4° Levantamento da Safra de Grãos 2023/24, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e traz uma nova redução na estimativa de colheita no atual ciclo.
No geral, as condições climáticas instáveis, com chuvas escassas e mal distribuídas, aliadas a altas temperaturas na região central do país, além de precipitações volumosas na região Sul, provocaram e ainda persistem no atraso do plantio da safra, além de influenciarem de maneira negativa no potencial produtivo das lavouras.
Se confirmado, esse volume representa uma queda de 13,5 milhões de toneladas ao obtido em 2022/23.
Já para o Rio Grande do Sul, a Conab prevê uma safra de 38,8 milhões de toneladas, ou seja, 40,8% a mais em relação a 2022/23.
A área total destinada ao cultivo de grãos no estado é de 10,477 milhões de hectares, o que representa um aumento de 1,7% em comparação ao ciclo passado.
Soja, arroz e feijão
Principal cultura cultivada no país, a soja deve apresentar uma produção de 155,3 milhões de toneladas.
O resultado representa uma quebra de 4,2% na expectativa, uma vez que as primeiras projeções apontavam para uma colheita de 162 milhões de toneladas.
As condições climáticas também foram determinantes para alguns produtores migrarem para outras culturas, contribuindo para a redução da área em relação ao levantamento divulgado em dezembro.
Outro importante produto para os brasileiros, o arroz tem uma estimativa de produção de 10,8 milhões de toneladas.
Se por um lado os preços do grão foram incentivos para o aumento de área em alguns estados produtores, por outro, o atraso no plantio, o volume excessivo de chuvas ou de períodos de veranicos que ocorreram em regiões diversas, além das dificuldades nos tratos culturais, são variáveis para o registro de impactos desfavoráveis na produtividade.
Para o feijão é esperada uma estabilidade na produção quando se compara com a safra passada, chegando a uma colheita de 3,03 milhões de toneladas.
Porém, a implantação da primeira safra da leguminosa caminha para a conclusão e vem apresentando alterações negativas, devido à instabilidade do clima.
Milho, algodão e trigo
No caso do milho, a produção total está estimada em 117,6 milhões de toneladas, redução de 10,9% em relação ao ciclo anterior.
A queda é reflexo de uma menor área plantada e de uma piora na expectativa de rendimento das lavouras.
A primeira safra do cereal, que representa 20,7% da produção, vem passando por situações adversas como, elevadas precipitações nos estados do Sul, baixas pluviosidades acompanhadas pelas altas temperaturas no Centro-Oeste.
Segundo o boletim da Conab, para a segunda safra do grão, além de avaliar os custos, as decisões dos produtores dependem de fatores climáticos, de disponibilidade de janela para o plantio e dos preços de mercado.
Já para o algodão é esperado um crescimento na área cultivada de 6,2% sobre a safra 2022/23.
Com a semeadura se aproximando de 32% no país, a área estimada em cerca de 1,77 milhão de hectares poderá variar, já que parte da área que deveria ser replantada com soja em Mato Grosso poderá ser utilizada com o plantio da fibra. Atualmente, a projeção é de uma colheita de 3,1 milhões de toneladas de pluma.
Com a colheita encerrada, o trigo registra uma produção de 8,1 milhões de toneladas.
Até o início da fase reprodutiva, as condições climáticas vinham beneficiando a cultura, com perspectivas de uma safra recorde semelhante à de 2022.
Mas a partir de setembro, teve início o período com chuvas excessivas que persistiu até a colheita, situação que causou perdas na produtividade.
Mercado
Quanto às informações do comportamento de mercado das commodities brasileiras, a redução na estimativa da produção de soja apontada pelo Boletim da Conab, motivada por problemas climáticos nos principais estados produtores, deverá implicar também uma menor exportação da oleaginosa em grãos neste ano.
Além disso, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou o aumento de biodiesel ao diesel, de 12% para 14%, o que indica que haverá um incremento na demanda interna de óleo de soja.
Para o arroz, a previsão da safra brasileira de 2023/24 é de 7,2% a mais do que a safra de 2022/23, com um volume de 10,8 milhões de toneladas.
A estimativa é de manutenção do consumo nacional em 10,3 milhões de toneladas.
A recuperação produtiva e a menor oferta de importantes países exportadores, possivelmente, resultarão em um aumento para 2 milhões de toneladas no volume exportado pelo Brasil.
A Conab projeta uma manutenção do volume importado em 1,5 milhão, em razão ainda da necessidade de recomposição da oferta nacional. Os estoques devem ficar próximos da estabilidade, estimados em 1,7 milhão de toneladas.
A se confirmar a projeção de uma queda na produção de milho para a safra 2023/24, somada à maior oferta disponível no mercado internacional (em meio à boa safra norte-americana), o resultado poderá ser uma redução no volume de exportações brasileiras do grão em 2024.
Mas de acordo com o Boletim da Conab, o Brasil deve continuar a ser o maior exportador de milho do mundo.
Já para o trigo, apesar de ter sido colhido um pouco mais de 8 milhões de toneladas, devido aos problemas climáticos houve perda qualitativa e será necessário importar mais trigo com PH panificável, acarretando em um ajuste no quantitativo de importações, passando de 6 milhões para 6,2 milhões de toneladas.
Com as alterações, a safra 2023/24 de trigo deve se encerrar com estoque de passagem de 393,6 mil toneladas.
O algodão teve aumento de área sinalizado em 6,2% nesta safra, porém, a redução da produtividade, devido a questões climáticas menos favoráveis, deverá torná-la ligeiramente menor do que a anterior e atingir 3,1 milhões de toneladas.
A melhora que vem ocorrendo no desempenho da economia nacional tende impulsionar o consumo interno da pluma de algodão em 2024, que deve ficar em torno de 730 mil toneladas.
Como as exportações apresentam um crescimento e devem atingir 2,5 milhões de toneladas, o estoque final de algodão deverá cair para 2,04 milhões de toneladas.
Apoio à cadeia do arroz no RS
Foto: Julia Chagas/ Seapi/ Divulgação
Uma comitiva do governo federal se reuniu na quarta-feira, 10, em Porto Alegre, com representantes do governo do Rio Grande do Sul e do setor do arroz, para tratar sobre a cadeia orizícola no estado.
Entre os participantes, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller; o presidente da Conab, Edegar Pretto; o secretário estadual da Agricultura, Giovani Feltes; o presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros (Federarroz), Alexandre Azevedo Velho; e o presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Rodrigo Machado.
Na pauta do encontro, a projeção da produção e a comercialização de arroz. De acordo com o 4º levantamento de Safra de Grãos 2023/24 da Conab, o RS deve produzir cerca de 7,66 milhões de toneladas, um aumento de 10,5% em relação ao ciclo passado (6,9 milhões de toneladas). A área total plantada no estado é de 923 mil hectares, 7% a mais do que na safra anterior (862 mil hectares).
Pretto destacou que o Brasil teve, na safra 2022/23, a menor área plantada de arroz e feijão em 47 anos, o que preocupa o governo federal por se tratar da diminuição da oferta de comida.
Conforme o presidente, o governo está atuando para garantir o abastecimento interno e fortalecer o setor no país e, em especial, no Rio Grande do Sul, que é responsável por 70% da produção nacional de arroz.
“Nós queremos dialogar, queremos que todos os produtores sintam a mão amiga do governo federal, para que a gente possa garantir uma produção maior e um produto com preço mais acessível ao consumidor”, ressaltou Pretto.
Conforme informações da Federarroz, o custo de produção do arroz aumentou, em média, 60% nos últimos dois anos. A entidade observa que, em anos de El Niño, a produtividade diminui em cerca de 5% a 10%. Isso reforça a importância de manter a área plantada na safra 2022/23, a fim de modular os investimentos em função dos riscos climáticos e a manter o preço do cereal. No mercado, a saca de 60 kg de arroz está, em média, R$ 126.
“Há uma reação no preço do arroz, que é bom para o produtor, mas impacta o consumidor que acaba pagando mais caro pelo alimento na cesta básica. Há uma necessidade de ampliar a oferta do produto, sem recorrer à importação, e este tema é de interesse do governo brasileiro para não pesar no bolso do consumidor”, reforçou Pretto.