Importância do trabalho voluntário é mais percebida nas calamidades
Foto: Raquel Losekann/ Divulgação
Assim como aconteceu nas diversas situações de emergência registradas no país nos últimos anos, a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul deu visibilidade a um movimento que está presente em todos os setores da economia e na vida em sociedade, mas que nem sempre tem o devido reconhecimento: o trabalho voluntário.
Diante de tantos desabrigados, os gaúchos, assim como todos os brasileiros, foram confrontados com a importância da ajuda, de ações de salvamento e resgate ao simples ato de estender a mão ao próximo ou mesmo de exercitar a compaixão pelos animais em situações extremas. Esse exercício de empatia, no entanto, está presente no cotidiano de milhares de pessoas que trabalham com o voluntariado.
Muitos cidadãos que atuavam há anos como voluntários só tiveram o destaque merecido devido à repercussão nacional e mundial da situação de calamidade decorrente de eventos climáticos extremos no estado. Os olhos da população também se voltaram para o terceiro setor e o seu impacto na economia nacional, rompendo as barreiras de sua ajuda social e abrangendo um número ainda maior de brasileiros.
O trabalho voluntário no Brasil teve origem em 1543, na Santa Casa de Santos, atividade que foi regulamentada nos anos seguintes. Em 2021, o país tinha 57 milhões de voluntários, o que representa 56% da população.
A Pesquisa Voluntariado do Brasil, promovida pelo Instituto Datafolha deste mesmo ano revelou que, em média, cada um desses brasileiros dedica 18 horas por mês para o voluntariado, o que totaliza 12 bilhões de horas dedicadas ao trabalho voluntário por ano. A média de idade é de 39 anos entre os homens e de 43 anos entre as mulheres. Segundo o Mapa das Organizações da Sociedade Civil (Mosc), o Brasil possui mais de 815 mil ONGs e elas respondem por 4,27% do PIB nacional.
Foto: Divulgação
A internacionalista Raquel Losekann tem 25 anos e atua como voluntária desde criança, quando acompanhava sua mãe que era coordenadora do Banco de Alimentos, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).
“Lembro de mim pequenininha, entregando o panfleto e pedindo alimentos para as pessoas”, recorda.
Em 2019, Raquel atuou na África do Sul, em um projeto nomeado Ubuntu de children care (cuidado com crianças) de acolhimento a órfãos. “A gente fazia trabalho de brincadeiras, promoção de educação, recreação, o projeto ficava na Cidade do Cabo”, informa.
Atualmente, ela atua nos abrigos e organizações que estão auxiliando os desabrigados das enchentes, principalmente na coleta, triagem e organização das doações. Raquel atuou no Centro Ítalo Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações (Cibai) e no campus São Leopoldo da Unisinos, com ênfase no estoque de doações, recreação com crianças e loja.
“A loja é a parte de distribuição e atendimento às pessoas abrigadas com relação aos itens que são entregues a cada pessoa atendida”, explica.
Sobre as motivações para ser voluntária, Raquel explica que sua pesquisa de doutorado é sobre ajuda humanitária em casos de conflitos armados. Ela almeja um dia trabalhar em organizações humanitárias.
“O voluntariado me proporciona essa aproximação com as minhas aspirações, tanto profissionais, quanto pessoais”, resume.
Já o estudante de jornalismo Pedro Curi, 20 anos, atua como voluntário há cerca de cinco anos. Começou a atuar nesse setor antes de se formar.
A primeira experiência dele com trabalho voluntário foi no colégio Maria Imaculada, na zona Sul de Porto Alegre, que mantinha um grupo de voluntários que atuava no Asilo Padre Cacique, auxiliando no convívio entre os idosos, organização de itens básicos e no recebimento de mantimentos no local.
Depois entrou para o grupo Marmitas do Bem, que atua com pessoas em situação de rua, distribuindo alimentos, roupas, cobertores e insumos básicos. O momento mais gratificante desse trabalho, relata Curi, ocorre no final do ano: os voluntários fazem uma grande arrecadação de brinquedos e cestas básicas e promovem o Natal do bem, num mutirão que faz a festa da criançada na comunidades mais carentes de Porto Alegre.
Não faltam formas de ajudar quando o assunto é ser voluntário. Os relatos comprovam que há diversas áreas de atuação, independente das motivações. Pedro relembra que começou por curiosidade, que rapidamente se transformou em algo muito maior: “Na escola, por ser novo na turma, inicialmente ia para fazer novos amigos e conhecer meus colegas, mas logo o trabalho voluntário ganhou outro significado, muito mais importante. Me senti parte de uma comunidade, ajudando outras pessoas e não apenas sendo passivo em relação aos problemas alheios”, define.
Bárbara Neves é estagiária de jornalismo. Matéria elaborada com supervisão de Gilson Camargo.