Banco Central leva otimismo da indústria nacional à incerteza em uma canetada
Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil
Caiu como um balde de água fria sobre a indústria nacional o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) realizada nesta quarta-feira,11. O último encontro sob o comando de Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL), aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual. A situação preocupa mais porque, mesmo antes da posse de Gabriel Galípolo, que foi indicado por Lula à presidência do Banco Central, em 25 de janeiro próximo a ata do Copom projeta mais dois aumentos consecutivos.
O bolsonarista Campo Neto deixa o Banco Central depois de cinco anos como o primeiro a conduzir o Copom com a independência legal da autoridade monetária. De um lado há os que dizem que a incerteza dos rumos da economia global com a eminente posse de Donald Trump na presidência dos EUA e a incerteza sobre corte de gastos pressionaram os juros e o dólar.
De outro, em um olhar político, há analistas que viram um presente bilionário para os rentistas do mercado financeiro e uma espécie de vingança de Campos Neto com o governo do petista que está fazendo de tudo para não penalizar as camadas mais pobres no ajuste fiscal.
Decisão incompreensível e injustificada
Se em setembro empresários de 26 dos 29 setores industriais demonstravam otimismo para 2025, conforme o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) setorial divulgado na ocasião pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ontem, em uma dura manifestação, os representantes da indústria reagiram à alta dos juros, demonstrando preocupação com uma possível desaceleração da economia e até com um período recessivo.
Em nota, a CNI classificou como “incompreensível e injustificada” a decisão de elevar a taxa Selic para 12,25% ao ano, em uma terceira alta consecutiva, iniciada exatamente em setembro quando a entidade demonstrava o otimismo do setor com os rumos da economia nacional no governo Lula.
Para a CNI, a decisão contraria o atual cenário econômico que aponta para desaceleração da inflação e efeitos positivos do pacote de corte de gastos do governo federal. A entidade também destacou que o aumento desconsidera a retração do PIB no terceiro trimestre e a tendência de redução de juros em economias como a dos Estados Unidos, que caminha para o terceiro corte consecutivo.
A alta, segundo a CNI, prejudica investimentos, empregos e renda e agrava a queda na confiança empresarial que se iniciou logo após a primeira alta da Selic, em setembro.
Na próxima terça-feira,17, a CNI realizará coletiva de imprensa para apresentar o relatório Economia Brasileira 2024-2025. A edição especial do documento traz as principais projeções da CNI para a economia no ano que vem.
Ação do Banco Central
Para se ter uma ideia da rápida mudança de cenário, mesmo com a primeira alta da Selic em setembro, desde outubro de 2022 não havia otimismo em tantos setores ao mesmo tempo, registrava a CNI.
Na ocasião, migraram da falta de confiança para confiança no monitoramento da confederação os setores da metalurgia, couro e artefatos de couro, máquinas e equipamentos, produtos de metal, biocombustíveis, equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos.
A confiança, na ocasião, cresceu entre empresários de todas as regiões do país, com destaque para o Sul, região tradicionalmente refratária ao presidente Lula.
Uma semana antes da última reunião do Copom, por exemplo, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) apostava em um crescimento local acima da média nacional em 2025, projetando um acréscimo de 4,1% no PIB gaúcho, apesar da catástrofe das enchentes que assolaram o estado em maio passado.
Em julho, a conceituada consultoria empresarial Deloitte projetava cenário otimista para o mais variados setores da indústria nacional em 2025, da química, à manufatura e ao setor de Engenharia e Construção.
Termômetro da economia em alerta
Foto: Divulgação
O setor de embalagens de papelão ondulado é considerado um termômetro da economia, pois o aumento da produção de caixas indica que o consumo está alto. Nele, a elevação dos juros acendeu um alerta.
“Uma Selic mais alta eleva o custo do crédito, dificultando o acesso a financiamentos para investimentos em maquinário, tecnologia e expansão da capacidade produtiva. Além disso, o encarecimento do crédito pode afetar a demanda, pois consumidores tendem a reduzir o consumo de bens duráveis, que frequentemente são financiados. Para a indústria, isso representa uma possível retração no volume de pedidos e na produção”, analisa Eduardo Mazurkyewistz, CEO do Grupo Mazurky, indústria que fabrica embalagens de papelão em Mauá, SP.
Sobre maquinário, referido por Mazurkyewistz, dois dias antes da decisão do Copom, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) realizava um encontro de encerramento do ano com balanço positivo e expectativas promissoras para 2025.
“O otimismo se torna mais presente quando usamos como referência a Política Industrial em curso idealizada pelo governo federal, a Nova Indústria Brasil (NIB). Além do Programa Brasil Mais Competitivo, temos hoje uma agenda de ações estratégicas voltadas ao apoio à Pesquisa e Inovação, Transição energética, Economia verde e o desenvolvimento destas cadeias produtivas ao longo dos próximos anos, sendo que somente no âmbito da NIB, até setembro deste ano, as operações de crédito aprovadas pelo BNDES para a indústria somaram R$ 154 bilhões”, afirmava o presidente do Conselho de Administração da Abimaq, Gino Paulucci Jr.
Indústria automobilística mantêm otimismo
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou nesta quinta-feira, 12, os números da indústria automobilística de novembro e fez sua tradicional projeção do mercado para 2025. De acordo com a associação, a produção brasileira atingirá 2,8 milhões de veículos no próximo ano.
O número é otimista, mas que poderia ser ainda melhor caso o governo tivesse conseguido manter a taxa Selic em 9,25% no fechamento de 2024, conforme projeções indicavam. Neste cenário, a Anfavea apontou a possibilidade de atingir o número expressivo de 3 milhões de unidades produzidas no país.
São os resultados de 2024 que justificam o otimismo do setor. Mesmo antes do fechamento do ano, 2024 já é considerado histórico para indústria automobilística, pois registrou o maior crescimento do mercado brasileiro desde 2017.
Não é à toa que, após um hiato de sete anos, em 2025 a Anfavea irá retomar o Salão do Automóvel, principal evento da indústria automobilística da América do Sul.
Ele ocorrerá em novembro e no anúncio realizado em outubro, o presidente da Anfavea, Márcio Lima Leite, disse: “Agradeço aos presidentes das nossas associadas, que se esforçaram para essa retomada. E também ao impulso dado pelo Presidente Lula, em razão de sua ligação histórica com o setor automotivo”.