Única fabricante de microchips do país, Ceitec terá investimentos de R$ 220 milhões
Foto: Bruno Johann/ Ceitec
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou um investimento de R$ 220 milhões no Centro Nacional de Tecnologia Avançada (Ceitec). A estatal federal e única fabricante de microchips do país havia entrado na lista de privatizações, demitiu em massa e chegou a ser fechada no governo Bolsonaro.
Em coletiva realizada na última quinta-feira, 5, no auditório da companhia em Porto Alegre, com a presença do presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Celso Pansera, e do presidente da Ceitec, Augusto Gadelha, de forma virtual, a ministra explicou que o investimento será aplicado na adequação da plataforma industrial do Ceitec.
A empresa havia anunciado a retomada das atividades a partir do dia 14 de novembro, depois de passar por um processo de extinção que acabou revertido por decreto pelo governo Lula.
Com os investimentos anunciados nesta semana, o Ceitec passa a produzir em escala semicondutores de carbeto de silício (SiC), utilizados em dispositivos de potência, na transferência de tecnologia e na internalização de novos processos produtivos.
“Não temos dúvidas que o Ceitec reúne as condições para o desenvolvimento e a fabricação de dispositivos que atendam aos desafios globais, como o da transição energética, fornecendo insumos para painéis fotovoltaicos, veículos elétricos e híbridos. Já há, inclusive, encomendas de chips feitas”, destacou a ministra.
O aporte de R$ 220 milhões será dividido em três anos: R$ 96,5 milhões em 2024; R$ 101,5 milhões em 2025; e R$ 22,36 milhões em 2026. Os recursos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
O presidente da Finep, Celso Pansera, lembrou que o Ceitec passou por sérios desafios nos últimos anos, como o processo de liquidação que foi revertido a partir de 2023 pelo governo Lula. Segundo ele, os investimentos estratégicos demandam tempo para serem bem sucedidos. “A transição energética precisa muito de semicondutores, e a Ceitec tem condições de ocupar esse mercado”, disse.
Já o presidente do Ceitec, Augusto Gadelha, destacou o papel do investimento no avanço da estratégia industrial do país. “É com grande satisfação que comemoramos esse acordo do FNDCT e da Finep. Esses recursos vão ajudar a trilhar a nova tecnologia ao novo processo tecnológico para a Ceitec ser bem sucedida e contribuir para o progresso do país”, afirmou.
O investimento proporcionará condições para que o Ceitec inicie a produção de chips de carbeto de silício (SiC), um componente com maior eficiência, essencial a ser usado em dispositivos de potência. Eles terão aplicações estratégicas, como em sistemas de conversão de energia solar e em módulos de controle para veículos elétricos, setores-chave para a transição energética e a sustentabilidade.
“A produção local desses semicondutores posicionará o Ceitec como uma peça fundamental no fortalecimento da cadeia tecnológica nacional e no atendimento às demandas de mercados em expansão”, enfatizou a ministra.
Investimento estratégico
Centro Nacional de Tecnologia Avançada (Ceitec) é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que atua no segmento de semicondutores desenvolvendo soluções para identificação automática (RFID e smartcards) e para aplicações específicas (ASICs).
A empresa projeta, fabrica e comercializa circuitos integrados para identificação animal, identificação veicular, identificação pessoal, identificação de entidades e identificação sensorial além de serviços relacionados ao setor.
Seus produtos aplicam-se a soluções de identificação de animais, medicamentos, hemoderivados, pessoas e veículos, além de autenticação, gestão de inventário, controle de ativos, entre outras.
No início de novembro, o presidente Lula assinou o decreto 11.478, que exclui a empresa pública do Plano Nacional de Privatizações e revoga sua qualificação no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República (PPI).
No âmbito da privatização da estatal determinada pelo governo anterior, foram demitidos em maio 33 trabalhadores concursados. No final de junho, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) determinou que o governo reintegrasse os demitidos.
A desembargadora Tânia Regina Silva Reckziegel afirmou que houve dispensa coletiva. “Essa decisão afeta não somente os empregados considerados individualmente, como também a categoria profissional e a comunidade na qual a empresa está inserida, ensejando incremento no índice de desemprego e redução da capacidade econômica dos indivíduos”
Para o governo federal, o Ceitec “representa um meio de aquisição, pelo Brasil, do conhecimento científico, tecnológico e produtivo detido por poucos países, em um setor no qual tem ocorrido nos últimos anos uma expressiva transformação tecnológica, impulsionada principalmente pelo amplo uso de chips semicondutores em componentes eletrônicos, presentes em praticamente todas as atividades da sociedade moderna”.
A retomada operacional da empresa estabelecerá a indicação de novos dirigentes e dos Conselhos de Administração e Fiscal, e vai ainda recompor os quadros técnicos e a elaboração de um plano de recuperação das atividades para atender às demandas dos setores público e privado.
Um plano de negócios será preparado, segundo o ministério, “com novas rotas tecnológicas e industriais definidas para que a empresa possa atuar no mercado nacional e internacional”. A expectativa do governo é a de que, com a reversão, o país garanta a produção de chips, semicondutores.