A Revista Playboy de setembro será disputa por jovens de todo o Brasil. Ainda não pelas curvas de Débora, a trabalhadora sem-terra, tão esperada por ter sido fotografada como veio ao mundo e umas maquilagens a mais. Mas porque a publicação traz a 16ª edição do Ranking das universidades, uma avaliação anual das instituições que estão no topo em matéria de ensino superior no país, segundo critérios de avaliação elaborados pela própria revista. O jornalista Ricardo Castilhos, 32 anos, responsável pela equipe de jornalistas que faz a pesquisa, explica que a cada ano esses critérios são aperfeiçoados.
Para o ranking 97, foram enviados 20 mil questionários a serem respondidos por professores universitários de todo o país. “Retornam mais ou menos quatro mil questionários divididos por área. Há uma série de questões sobre o curso, valendo a opinião pessoal do professor, e outros quesitos técnicos, como currículo, carga horária, número de projetos, teses, equipamentos, laboratórios, enfim, um questionário bastante amplo”, relata Castilhos.
Outras perguntas, também divididas por área, são enviadas às melhores ou maiores empresas do Brasil que desenvolvem programas de trainee sobre a qualidade do trabalho dos egressos das universidades. A Playboy recebeu 83 respostas para a pesquisa que será divulgada em setembro. A última etapa corresponde às visitas nas faculdades. “Este ano, visitamos 10 escolas nas capitais e 16 no interior do país”, revela Castilhos. As visitas são planejadas: em grandes universidades, como a UFRGS, são escolhidos alguns cursos; já nas de pequeno porte, caso de Viçosa, por exemplo, a cobertura é total. “É feito um revezamento: num ano, visitamos determinada faculdade, no outro, procuramos as que faltaram”. Para completar o trabalho, a Playboy se abastece de dados fornecidos pelo MEC, Capes e CNPq.
FAMECOS – Em 16 anos, há faculdades que sempre despontam no ranking. Em contrapartida, algumas faculdades famosas nunca despontaram. Para evitar melindres, a revista publica as 10 melhores de cada área, o que não impede a chateação de quem ficou de fora da lista. A Faculdade dos Meios de Comunicação Social – Famecos – da PUC/RS está sempre entre as melhores do país. Segundo Ricardo Castilhos, isso se deve ao amplo investimento em equipamentos e na qualificação dos professores. Jerônimo Braga, diretor da Faculdade, atesta a informação. “Pelo Projeto PUC 2000, investimos na qualificação de professores. Para fazer parte do nosso quadro, o professor tem de ter, no mínimo, mestrado. Outro ponto é a permanente preocupação com as questões laboratoriais. Exemplo disso é o Vídeo-PUC, que atende às necessidades pedagógicas. Nesse semestre, inauguramos o estúdio de rádio digital, que atende inclusive o mercado de fora”.
Atender ao mercado é, aliás, uma polêmica que a Famecos (2.100 alunos nos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda, relações públicas e turismo) enfrenta há muitos anos. Afinal, os equipamentos não deveriam ser para uso exclusivo dos alunos? Braga acha que não e argumenta que, se fosse para atender somen-te às necessidades pedagógicas, a capacidade ficaria ociosa. “Eles também servem como campo de estágio dos alunos. A TV Universidade, da qual a PUC faz parte, ao entrar no ar, também terá espaços reservados para os alunos”.
Entre as instituições públicas, a faculdade de comunicação da USP está sempre entre as primeiras. Já a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Social da UFRGS – Fabico – nunca aparece. Castilhos argumenta que sempre teve problemas para catalogar a faculdade. “Até já marcamos visitas, mas encontramos as portas fechadas. Isso dificulta, para nós, que saímos de São Paulo. A revista paga todas as nossas despesas e não obtemos retorno. Talvez, conversando com quem faz o trabalho, os professores pudessem compreender os critérios e até mostrar o que fazem e aí aparecer na pesquisa”.
O diretor da Fabico, Ricardo Schneiders, tem outra visão do fato. Para ele, a pesquisa feita pela revista é superficial. “Eles mandam questionários para professores e empresas, mas nosso corpo docente não quer responder, por considerar os quesitos artificiais”. Schneiders admitiu que a Playboy marcou uma visita aos cursos de comunicação em Porto Alegre no ano passado. “Mas, naquele dia a UFRGS estava paralisada, as portas estavam fechadas”. Para ele, o importante é que os egressos da Fabico são disputados no mercado. “Há 10 anos, houve uma reformulação no currículo, que hoje contempla uma parte teórica e outra experimental. Os alunos desenvolvem laboratórios, editoração eletrônica, computação gráfica, etc. A aceitação das empresas é muito boa”. Assinala também a grande procura dos estudantes pelos cursos da faculdade no vestibular: biblioteconomia e comunicação social (jornalismo, relações públicas e publicidade e propaganda).
Além disso, todo o ano a UFRGS abre as portas para que alunos do 2º grau se inscrevam e conheçam o curso que pretendem fazer em nível superior. “A Fabico teve 300 inscritos”, diz Schneiders. Para ele, deve ser levada em conta a avaliação de universidades do Ministério da Educação, o chamado provão, segundo ele, feita com critérios mais precisos. O jornalismo será incluído no provão do próximo ano.
“A Playboy leva em conta coisas como o número de volumes na biblioteca ou a quantidade de laboratórios. Temos 650 alunos na comunicação e 280 na biblioteconomia. Nossas turmas são pequenas e não precisamos ter 40 computadores numa sala de aula porque trabalhamos com uma média de 12 alunos. Esse é o problema do tipo de avaliação que a revista faz”.
Schneiders revela que a Fabico está preparando uma pesquisa com os egressos da faculdade, algo inédito, que deverá estar pronta agora em setembro. A idéia é saber como e onde os ex-alunos estão sendo aproveitados no mercado. Mas os problemas da Fabico com o ranking da Playboy não acontecem em outras áreas da UFRGS, como Direito e Economia, que costumam ser bem cotadas.
A Faculdade de Economia e Administração da USP (FAE) está sempre no topo da pesquisa Playboy e os alunos de seu curso de administração, junto com os da Fundação Getúlio Vargas, são sempre os mais disputados pelas empresas. “Temos tido uma visão bastante atualizada do processo administrativo. Além do que há uma grande integração entre professores e alunos, que procuramos estimular”, comenta o professor Cláudio Felizoni de Ângelo, vice-chefe do Departa-mento de Administração e coordenador do curso de pós-graduação.
A faculdade costuma fazer um fead-back com o mercado – lideranças empresariais são sempre chamadas para cursos e palestras -, investe em revistas e em convênios com universidades estrangeiras para que alunos e professores possam se aperfeiçoar. “De nossos bancos escolares saem pessoas que se posicionam muito bem no mercado de trabalho. São presidentes de empresas, vice-presidentes, diretores, inclusive do Banco Central”. Entre os diversos nomes, cita Raul Rosenthal, vice-presidente do Grupo Abril.
Nova tendência
A pesquisa da Playboy deste ano detectou uma grande alteração no ensino universitário, que deve se refletir no ranking de 98. Muitos professores das universidades públicas estão se aposentando e indo para as particulares, levando consigo a filosofia da pesquisa, do ambiente acadêmico. “A tendência é de que as universidades que apresentam esse fenômeno melhorem no ranking”, observa Castilhos. Quer dizer, as universidades públicas poderão perder posição para as particulares.
O sucateamento e a crônica falta de recursos que afeta as escolas públicas é a causa desta evasão. O diretor da Fabico confirma que estão havendo aposentadorias precoces “por culpa da falta de política do governo”. Em geral, são pro-fessores altamente especializados, muitos dou-tores, que se aposentam com medo de perder suas vantagens. “A defasagem salarial é muito grande. A escola pública paga 50% do que se ganha numa universidade privada”, revela. Desde 96, quatro professores da Fabico se aposentaram e foram dar aula na PUC: dois doutores e dois mestres. “Quer dizer, a universidade inves-tiu na qualificação, para perdê-los logo depois. Nós investimos e os outros levam”.
A Revista Playboy publica o ranking das universidades para atender a uma ampla fatia de seu público, formada por jovens em idade de vestibular. “Começamos o trabalho há 16 anos e adquirimos know-how”, ressalta Castilhos. Todos os anos, os questionários são atualizados e aperfeiçoados pelos próprios professores. “É a única pesquisa que tem contato direto com os professores e também importantes empresas, como Nestlé, Swift, Ipiranga e Petrobras”.