No próximo dia 20 de dezembro, sábado, os professores da rede particular de ensino realizam assembléia geral para avaliar os resultados da negociação antecipada da Convenção Coletiva para 1998. O encontro está marcado para às 14 horas, no Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre.
A proposta de 5% de reajuste salarial e a manutenção das atuais cláusulas sociais apresentada pelo sindicato patronal (Sinepe) no último dia 2 de dezembro, foram consideradas insuficientes. A média de aumento das mensalidades verificada até o momento pelo Dieese é de 9,3%.
Como contraproposta, os representantes do Sinpro/RS na mesa de negociação apresentaram duas opções, baixando a reivindicação inicial de 9%. A primeira contempla um reajuste de 6%, além da ampliação da participação das escolas no custeio do plano de saúde, o melhoramento das cláusulas que se referem ao pagamento de horas extras, normatizando a questão dos passeios, e a ampliação dos índices de gratificação por aprimoramento acadêmico, de 10% para 12% para Mestres e de 15% para 20% para Doutores. A segunda opção, mantendo as atuais cláusulas sociais, reivindica um reajuste salarial de 7%. Os representantes do Sinepe prometeram dar seu parecer sobre a nova proposta do Sinpro/RS na próxima rodada da negociação, dia 10.
PACOTE – Segundo estudo do Dieese, somente na vigência da atual legislação que estabelece as regras das anuidades escolares, publicada no final de 1994, as mensalidades ganharam um incremento de 47,3%, em média, enquanto os salários cresceram 36,4%.
As reuniões de negociação com o sindicato patronal para o fechamento do dissídio coletivo de 1998 foram iniciadas no dia 11 de novembro, um dia após o anúncio do pacote econômico do governo Fernando Henrique Cardoso. A medida provisória sobre o imposto de renda, que definia como instituições imunes somente aquelas que não cobrassem por seus serviços, mesmo assim taxando seus rendimentos e ganhos de capital sobre aplicações financeiras, chegou a diminuir o ritmo das discussões. A maioria dos estabelecimentos de ensino do estado seria atingida em cheio.
A votação do Congresso, no último dia 2 de dezembro, acabou deixando tudo como está na prática. A cobrança pelos serviços continua sendo permitida e as instituições terão isenção do IR desde que reinvistam os recursos em suas atividades-fim.
unidade – Mais uma vez, as entidades representativas dos professores e funcionários das escolas particulares do RS partiram para a negociação de suas datas-base de forma unificada. Este ano, além de cartazes e anúncios da campanha publicitária Tem gente que repara nessas coisas (veja na contracapa), mais de 10 mil buttons, com o slogam Profissional valorizado, profissional satisfeito, foram distribuidos entre as categorias.
Professores e funcionários também realizaram reuniões conjuntas no interior, com o objetivo de intensificar a mobilização e repercutir para as mais variadas regiões do estado todos os passos que foram dados na mesa de negociação, em Porto Alegre.
Delegados – A assembléia geral do dia 20 também servirá para que sejam eleitos os 38 delegados que o Sinpro/RS tem direito para se fazer representar no 3º Congresso da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado do Rio Grande do Sul (Fetee-sul), entidade da qual o sindicato voltou a fazer parte, por decisão do último Congresso Estadual dos Professores de Escolas Particulares (Cepep)
O Congresso da Fetee-sul ocorrerá nos dias 7 e 8 de janeiro de 98 no Hotel Samuara, em Caxias do Sul. Cada entidade sindical filiada à federação poderá apresentar três teses no evento. Uma de avaliação da gestão, outra sobre mudança estatutária e uma terceira sobre plano de trabalho para a próxima gestão.
Sinpro recorre à Justiça contra atraso de salários
Da Redação
Apesar das irregularidades trabalhistas, a ” lei do silêncio” vigora na principal sede da Urcamp, em Bagé (RS), impedindo a denúncia dos fatos. Este mês, em nome dos empregados da instituição, o Sinpro/RS entrou com três ações trabalhistas contra a universidade.
Os empregados estão insatisfeitos, mas evitam comentar publicamente o problema. Eles temem perder o emprego e piorar ainda mais a situação. A Urcamp é, hoje, o maior empregador privado das regiões da Campanha e Fronteira Oeste do estado. Poucos professores concordaram em conversar com a reportagem do Extra Classe, que viajou a Bagé e se comprometeu com a proteção legal da fonte sob anonimato. “Acho essa situação humilhante, gostaria de botar a boca no trombone e mostrar a cara, mas se fizer isso é demissão na certa”, desabafa uma professora com mais de dez anos de serviços prestados à Urcamp.
“Os salários vêm atrasando há mais de um ano”, confirma outra professora. “No último dia útil do mês, recebemos o contracheque. O cheque correspondente ao pagamento vem só depois. Às vezes é para o dia 5, ou 7. Mas este mês só pude depositar dia 17”, acrescenta a professora.
Os empregados são orientados a não descontarem o cheque no caixa. Só que o banco não aceita o depósito sem autorização prévia da Urcamp. “Quando o cheque não tem cobertura, o banco devolve sem carimbar e manda a gente passar outro dia”, detalha. “Ninguém tem coragem de carimbar o cheque”, assinala uma funcionária da Urcamp, demonstrando o quadro de medo que impera na relação com a direção do estabelecimento de ensino.
Ela diz que não teve outro jeito a não ser adaptar-se à realidade dos atrasos nos pagamentos. Apesar de trabalhar em outra escola, ela garante que os pouco mais de R$ 160,00 mensais que recebe da Urcamp fazem falta ao orçamento doméstico. Por isso, é obrigada a dar aulas particulares, enquanto a situação na universidade não se re-gulariza.
Para outro professor, o atraso no pagamento dos salários é uma questão de prioridade. “Apesar das dificuldades que vem atravessando, a Urcamp continua erguendo obras e reformando prédios, o que mostra que eles não estão preocupados com os funcionários”, raciocina.
Ele reclama dos prejuízos acumulados ao longo do último ano, com o pagamento de multas e juros. “Meu aluguel vence no dia 5, mas nunca consigo pagar no prazo, então já sei que vou ter de acrescentar 10% ao valor”, relata. “O cheque especial cobra os maiores juros do mercado e não tenho como não usar, sem falar nas multas por ter tido alguns cheques devolvidos. Por baixo, meu prejuízo chega a uns R$ 600,00”, estima.
PERIGOSO – Há cerca de dois meses, um terceiro professor recebeu uma carta da Caixa Econômica Federal, propondo a quitação do saldo devedor da casa própria, com um vantajoso desconto de 25%. Imediatamente fez as contas e concluiu que deveria ter em torno de R$ 20 mil na conta do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Foi ao banco, pegou o extrato e ficou decepcionado. Havia apenas pouco mais de R$ 700,00 depositados. Indignado, viu a chance de se livrar da prestação ir por água abaixo.
Pior: ficou sabendo que nesses anos todos seu patrão vem se apropriando de uma parte do seu salário todos os meses. Conta que, quando foi procurar o gerente do banco para saber o que estava acontecendo, ouviu um conselho surpreendente: “o cara disse que era melhor eu não reclamar, porque era perigoso mexer com esta gente.”
Com um salário de R$ 600,00 mensais, o professor tem recorrido a empresas de factoring para trocar os cheques que recebe da Urcamp. “Faço isto para não correr o risco de ter os meus cheques devolvidos, já que cada um custa R$ 35,00 de taxas”, justifica.
Os maiores salários, dos professores com dedicação exclusiva, estão sendo pagos em parcelas. Em novembro, quem ganha de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil só receberá R$ 500,00 no final do mês. A Urcamp alega que os atrasos são resultado da inadimplência dos alunos, que estaria em 70%. As famílias dos estudantes não estão conseguindo pagar as mensalidades. Uma aluna – que pediu para não ser identificada, porque tem uma bolsa de estudos da própria universidade – conta que na rematrícula, a Urcamp aceita até carros como pagamento de parcelas atrasadas. Outra alternativa para quem pretende continuar os estudos é o financiamento da dívida através do Banrisul.
As mensalidades foram reajustadas no final do ano passado, mas o índice não foi repassado aos salários. A evasão de alunos é grande. “Só no segundo semestre foram mais de mil desistências”, garante uma estudante.
A região da Campanha atravessa uma crise econômica sem precedentes. Desempregados sobrevivem fazendo biscates e vendendo bugigangas no centro de Bagé. Mas a Urcamp é exceção e continua crescendo. Algumas hipóteses vêm sendo levantadas para explicar a contradição: “Só espero que essa expansão não esteja sendo financiada com o nosso dinheiro”, conclui um dos professores entrevistados.
PATRIMÔNIO – A Universidade Regional da Campanha (Urcamp) tem oito campi nas regiões da Campanha e Fronteira Oeste: Bagé, Alegrete, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Rosário do Sul. Ao todo, são mais de 73 mil metros quadrados de área construída, incluindo dois teatros, dois hospitais universitários, nove bibliotecas, cinco museus e 89 laboratórios, além de 636 computadores.
No próximo vestibular, em janeiro de 1998, vai oferecer 2.570 novas vagas, em 30 cursos. A Urcamp mantém ainda uma escola de 1º grau e uma de 2º grau técnico-profissionalizante em Processamento de Dados. Em Bagé, a universidade edita o jornal diário O Minuano, impresso em cores, em gráfica própria.
O reitor da Urcamp é o advogado Morvan Meirelles Ferrugem. Ele está no cargo desde 1984, cumprindo a terceira gestão consecutiva. Antes, foi professor, superintendente acadêmico e pró-reitor da Fundação Attila Taborda, instituição que deu origem à Urcamp. A esposa dele, Diana, dirige o Centro de Educação, Comunicação e Artes. Na universidade trabalham ainda as duas filhas do casal, além do irmão, Glênio, uma cunhada e um sobrinho.