EDUCAÇÃO

“Exército dos Sonhos” faz alerta

Dóris Fialcoff / Publicado em 1 de julho de 1998

Espetáculo teatral produzido pela Fundação Thiago Gonzaga integra a campanha Vida Urgente, que faz um trabalho sistemático de educação para o trânsito. A estréia é em agosto e escolas poderão agendar sessões especiais.

No próximo mês de agosto as instituições de ensino públicas e privadas da região metropolitana estarão recebendo uma correspondência da Fundação Thiago Gonzaga, oferecendo a apresentação da peça Exército de Sonhos, que estreará em setembro, na Assembléia Legislativa, durante a Semana Nacional de Trânsito. O trabalho nasceu do desejo da Fundação de ser um agente facilitador para que o tema trânsito seja abordado e efetivamente debatido nas escolas, como prevê o novo Código Nacional de Trânsito.

Até o final do ano serão realizadas cem apresentações. Os interessados já podem fazer contato com a Fundação Thiago Gonzaga para escolha da data. As escolas receberão previamente um material elaborado pela Fundação, para que o trabalho já possa ser iniciado em sala de aula. Ao término de cada apresentação, os atores batem um papo com o público, descontraidamente. A peça continuará em cartaz em 1999.

Exército dos sonhos é uma produção inteiramente gaúcha. O texto é do roteirista Eduardo Cabeda e a direção de Ângela Gonzaga, tia de Thiago, cuja morte em acidente de trânsito originou a Fundação Thiago Gonzaga. O elenco é composto por quatro atores, todos jovens — uma exigência de Diza Gonzalez, mãe de Thiago e presidente da Fundação, para a identificação imediata do público. O espetáculo, que tem o apoio do Detran, também mostrará músicas exclusivas, criadas por Jacques Klein e Álvaro Zacarias Alves Vilaverde, também responsável pelo cenário e figurinos.

O produtor executivo, Antônio Flávio Nunes, salienta que eles procuraram criar situações muito próximas às que os jovens encontram na vida, nas noites, para que pensem o que fariam naquelas situações. Ângela fala da dificuldade que o grupo está enfrentando para mostrar a violência do trânsito, sem impôr, através do medo, uma repressão. “Não significa que ter um carro nas mãos não é maravilhoso. Ele é perigoso quando não se tem consciência da sua utilização correta”, esclarece Ângela.

Para a diretora, o espetáculo consegue transmitir muito bem a mensagem de que as pessoas têm a voz da consciência dentro de si, mas, muitas vezes, não lhe dão ouvidos, por não quererem passar por medrosos perante o grupo. “Sabemos que, enquanto adolescentes, o grupo é uma coisa muito forte, e as pessoas perdem a indivi-dualidade em função do grupo. Não que isso seja errado, mas em determinadas situações, em que colocam vidas em risco, o grupo não pode ser mais forte”, preocupa-se Ângela.

Um dos atores, Luciano Fernandes, de 22 anos, já está envolvido com a Fundação há mais tempo, desde que perdeu um amigo em acidente de moto, no ano passado. “Eu também tenho moto e para mim foi muito forte o que aconteceu. Eu me coloquei na mesma situação e imaginei como meus pais sofreriam e como mudaria a vida de toda a família, assim como mudou a deles”, desabafa Luciano. Michelle Leão, 18 anos, também faz parte do elenco e este é o seu primeiro contato com a campanha Vida Urgente da Fundação Thiago Gonzaga. Ela acha que está sendo muito importante fazer esse trabalho, “até para pensar mais nisso, que é uma coisa que eu não fazia muito”, avalia Michelle.

O ator Michel Capeletti, também de 18 anos, diz que esse espetáculo os pegou em uma fase propícia: “nós também estamos vivendo isso, es-tamos quase com o carro na mão e aprendendo a dirigir. Até tínhamos consciência, mas ficava muito no papo”. Michel diz saber que atingir o público adolescente é difícil, e, para comprovar isso, analisa que só são vistos nos palcos espetáculos infantis ou adultos, mas não juvenis, por que não são feitos. “Nós só queremos dizer assim: eu sou o Michel, tenho 18 anos, e quero falar sobre uma coisa importante que vocês precisam ouvir. É simples”.

Fernanda da Costa Zantz, atriz, 17 anos, compartilha da idéia de que estar fazendo Exército dos Sonhos está servindo para refletir sobre o as-sunto. “Eu já perdi um amigo em acidente de trânsito, faz uns dois anos, mas foi uma coisa que passou em branco. As pessoas sofreram e sentem saudade dele, mas nunca falaram sobre isso. Preferiram esquecer, e eu também, nunca tinha mexido com isso. E agora, fazendo esse espetáculo, nos ensaios, estão vindo umas coi-sas; e é muito melhor”, alivia-se Fernanda.

“Talvez, se quisermos salvar vinte mil vidas, a gente não consiga. Mas uma vida tem um valor que não tem medida, não tem preço”, pondera Ângela. “Se um desses adolescentes pensar nisso, lembrar na gente, do espetáculo, e disser não, hoje eu não vou beber… talvez a gente tenha conseguido salvar a vida dessa pessoa”, encoraja-se, citando a mãe de Thiago, Diza Gonzaga: “se eu conseguir um, eu consigo uma vida inteira, e essa vida envolve um monte de outras vidas”.

O telefone da Fundação é (051) 221.6899.

Notas 

Conselho
Em reunião no último dia 22 de julho, em Brasília, ministros da Educação de 34 países de todo o continente Americano criaram uma espécie de conselho de segurança para a educação, no âmbito da OEA, Organização dos Estados Americanos. Eles integram o Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral da OEA e decidiram reforçar os sistemas nacionais de avaliação da qualidade da educação através de indicadores comuns. O objetivo é medir e comparar desempenho do sistema nos vários países.

Gasto menor 1
O Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed) garante que o governo federal está aplicando menos dinheiro do que deveria no ensino fundamental. A denúncia se baseia na lei que dispõe sobre o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de valorização do Magistério (Fundef), mais conhecido como fundão. Conforme o Consed, se a lei fosse seguida à risca, o valor mínimo aplicado por aluno deveria ser de R$ 400,00 em 98. O valor que está sendo pago é de R$ 315,00.

Gasto menor 2
O Fundef é um fundo contábil criado para agregar recursos que podem ser aplicados exclusivamente no ensino fundamental. Neste ano, o fundão deverá contar com R$ 13,3 bilhões. O número de alunos matriculados no ensino fundamental em todo o país é de cerca de 33 milhões.

Desafios
De 14 a 15 de outubro, acontecerá o 7º Encontro Internacional A Educação e o Mercosul/Conesul – Desafio Político e Pedagógico, em Santiago, Chile. Dirigido a educadores e aos interessados em geral no projeto educativo de seus países, o encontro tem como objetivo promover o debate e a busca de alternativas educacionais – através do estudo das semelhanças e diferenças dos Sistemas Educacionais dos países do Conesul – capazes de viabilizar políticas públicas de educação que atendam aos interesses e necessidades de integração dos povos latino-americanos.

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