Para não perder alunos, escolas públicas e privadas têm oferecido propostas pedagógicas diefrenciads. Diminuição da repetncia e maior participação da comunidade na formulação dos currículos escolares
Diminuir a repetência e a evasão escolar. Para alcançar esses objetivos, diferentes escolas particulares e públicas têm inovado em suas propostas pedagógicas. A mais nova são os chamados ciclos de formação, já implantados em Porto Alegre, Alvorada, Gravataí e Caxias do Sul, que poderão inclusive ser estendidos a toda a rede estadual de ensino dependendo dos resultados da Constituinte Escolar, iniciada em 22 de abril e com término previsto para julho do ano que vem.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) prevê a possibilidade do sistema de aprovação automática, podendo o ensino fundamental ser dividido em ciclos. Marco Antônio Mello, coordenador da divisão de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação estadual, diz que durante o período de debates da Constituinte serão realizados estudos das realidades de cada comunidade e apresentação das práticas pedagógicas das escolas e administrações populares. Ao final, serão definidos temas que nortearão a construção de uma Escola Democrática e Popular.
“Nosso programa de governo prevê que a escola que sonhamos precisa romper com a lógica da seriação e da disciplinaridade”, explica. Mello enfatiza que o processo está em construção e que, portanto, é cedo para afirmar que o Estado irá implantar ciclos. No entanto, o mecanismo de debate tem sido semelhante ao que outras administrações petistas fizeram, e que culminaram com a implantação dos ciclos.
Com o modelo, na prática não há mais repetência: as crianças são divididas em turmas com idades semelhantes e, no caso de não alcançarem as expectativas para aquele ano, no próximo seguem em sua turma com um trabalho individualizado nos Laboratórios de Aprendizagem. Em outra possibilidade, entram em uma Turma de Progressão, para crianças com defasagem de idade.
Iole Trindade, professora da Faculdade de Educação da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explica que os pressupostos teóricos dos ciclos são resultado de estudos anteriores, que a escola seriada já utilizava de forma segmentada. Sandra Corazza, professora do Departamento de Ensino e Currículo da mesma faculdade, questiona a descrição de infância utilizada nos ciclos, uma vez que a criança de hoje não é a mesma de anos atrás. “A escola já não é a principal formadora intelectual da criança, em função do acesso à televisão, Internet, jogos e outros meios de informação”, defende.
O Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, em Porto Alegre, segue uma avaliação parecida, apesar de não ser ciclado. Ao final de cada trimestre os alunos recebem pareceres ou relatórios, dependendo do nível de ensino. Suas produções são avaliadas a partir de objetivos, sem haver mensuração de notas. Os alunos só são classificados no final do trimestre, recebendo conceitos A (atingiu todos os objetivos), R (necessita de recuperação) ou NA (não atingiu). Durante o ano as crianças têm possibilidade de realizar estudos de recuperação.
Currículo participativo também é novidade nas escolas
Seguindo a linha de uma escola mais democrática, o Colégio Cenecista São Roque, de Bento Gonçalves, delegou à comunidade a oportunidade de participar da escolha dos conteúdos escolares a serem desenvolvidos durante o ano letivo, assim como acontece nas escolas cicladas. Ao final do ano, a comunidade, através de um questionário, determina suas prioridades. Além disso, é ouvida também nas reuniões com a diretoria da instituição.
Sara Pedrini Martins, vice-diretora da escola, acredita que os conteúdos devem estar relacionados aos interesses da comunidade. Por isso, apesar de existirem conteúdos mínimos a serem trabalhados por bimestre, as sugestões dos alunos são aceitas e inseridas por meio de projetos interdisciplinares. Atualmente, por sugestão da comunidade, toda a escola está envolvida em um estudo de reciclagem de lixo. Junto com a mudança no planejamento, a escola implantou a recuperação paralela, no turno inverso do aluno, diminuindo a repetência de 20% em 1997 para 3% em 1998.
Com investimento superior a R$ 50 mil, o Colégio João XXIII, de Porto Alegre, está mexendo não só na forma, mas também na estrutura. Desde o ano passado, a instituição implantou salas ambientais em que, ao invés dos professores fazerem o rodízio, são os alunos que passam de sala em sala para assistir às aulas. “Assim a gente não fica com cãibra de tanto ficar sen-tada”, diz a aluna Gabriela Bins. Mas não se trata de uma simples troca: cada local é preparado para uma disciplina específica, de diferentes níveis.
Com isso, a João XXIII pretende favorecer a aprendizagem e, por isso, os períodos foram conjugados, ou seja, os alunos dispõem de mais tempo para trabalhar cada disciplina, quase sempre em dois períodos. Segundo a coordenadora pedagógica da escola, Gilca Coimbra, houve uma melhora significativa na aprendizagem dos alunos, em que o índice de reprovação baixou de 2% para algo em torno de 1%.