Novas diretrizes de ensino procuram privilegiar ações de cidadania para estender os conteúdos da educação ambiental às comunidades e aos pais dos estudantes
Os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, em Porto Alegre, serão adultos preocupados com o meio ambiente. Desde o ano passado eles fazem parte de um programa piloto que tem como objetivo a difusão de informações sobre reciclagem de materiais, desenvolvimento sustentável, economia ecologicamente viável. Junto com ela, há outras 13 colégios no estado que recebem os mesmo conteúdos, ainda que as matérias não façam parte do currículo escolar. “Os 25 alunos envolvidos mais diretamente com o projeto limpam os canteiros da escola, desenvolvem uma horta e multiplicam as informações em casa e na comunidade”, relata a professora Magda Madeira, uma das coordenadoras do programa na escola.
A preocupação com as questões ambientais, por isso, deve começar cedo. Alguns estudantes do grupo tem oito, nove anos de idade; outros estão na adolescência. No Rio Grande do Sul, o esforço para tornar a matéria curricular pode ser visto nas assembléias da Constituinte Escolar, que discutem o modelo de ensino que será implantado. “Estamos construindo um processo de conscientização em cada escola do Rio Grande do Sul, para que possamos associar as questões ambientais à realidade de cada comunidade” salienta o professor Marco Antônio Mello, coordenador de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação.
A questão ambiental, segundo Mello, é um dos 25 temas que estão em debate nas reuniões daConstituinte Escolar. Cada tema ganhou um caderno específico com informações para subsidiar as discussões. O objetivo é fazer com que as comunidades escolares debatam criticamente a realidade para buscar diretrizes e soluções ambientais específicas para seu caso. “Mesmo as escolas-pólo estão passando por uma ressignificação de conteúdos”, adverte o coordenador.
Na Santa Rita é o que está ocorrendo. Integrante do projeto desde 1998, a escola reservou uma sala só para arquivar e expor o material resultante dos projetos ambientais. Como o colégio está situado numa área de degradação ambiental de morro em Porto Alegre, os alunos puderem aprender a recuperar áreas, aproveitar espaços para o desenvolvimento de hortas produtivas e multiplicar as informa ções pela comunidade.
No ano passado, por exemplo, uma gincana promovida pela escola mobilizou o morro Santa Tereza durante uma semana. No final da gincana, os alunos saíram em passeata pelas ruas do bairro para ajudar os moradores a entenderem a importância da educação ambiental. “Foi uma atividade extremamente produtiva em termos de cidadania”, reflete a coordenadora do projeto.
Aí está uma palavra-chave para entender o processo. Como adverte Magda Madeira, a educação ambiental na escola não se resume a difundir conteúdos de Biologia ou Botânica para os mais de mil estudantes nos três turnos de aula. “Não podemos nos limitar ao conteúdo formal. Ecologia se ensina nas aulas de Português, de Matemática, nos passeios que realizamos aos galpões de reciclagem de lixo. Ecologia é cidadania”, completa. Por isso ela entende que a discussão sobre a formalização dos conteúdos ecológicos deve ser muito aprofundada.
É claro também que desenvolver conteúdos em apenas 14 escolas do estado, num universo de mais de 3 mil unidades de ensino, não é ideal. Mas é o possível antes da I Conferência Estadual da Constituinte Escolar, que se realiza na última semana de agosto deste ano. Para Mello, é lá que se radicalizará a discussão sobre um novo modelo de desenvolvimento e de escola. “Trata-se de uma discussão política, sobre o modelo de desenvolvimento sócio-econômico que queremos e sobre o que é ecologicamente viável”, diz.