O Rio Grande do Sul entra no novo século com a perspectiva de se
tornar, em curto prazo, um pólo de alta tecnologia abrigando empresas da área de informática nas áreas de software e hardware. A parceria estabelecida entre o Governo do Estado e a Motorola para a criação do Centro de Excelência Ibero-Americana em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), os avanços do Pólo de Informática de São Leopoldo e a adoção de medidas que visam a democratização da internet e uma ampla campanha em prol do software livre são indicativos de um futuro promissor e próximo para o setor. Além de estabelecer a parceria com a Motorola para a criação do Ceitec, o Governo do Estado lança o Programa Gaúcho de Informática. Em Porto Alegre, o Projeto Tecnópole, lançado em 1995, possibilitou a criação de incubadoras tecnológicas e prevê a construção do Condomínio de Empresas do 4º Distrito com 20 empresas de eletrônica e informática. A Prefeitura quer criar ainda o Pólo de Tecnologia da Saúde, que reunirá os principais hospitais e universidades da área médica da capital.
O ano de 2002 deve ser promissor para o setor de informática gaúcho com a inauguração aqui no Estado do primeiro laboratório de prototipagem de chips para computadores da América Latina, o Ceitec – Centro de Excelência Ibero-Americana em Tecnologia Eletrônica Avançada. A iniciativa, concretizada através de uma parceria do Governo do Estado com a Motorola, aparece como uma das alternativas para impulsionar o desenvolvimento tecnológico do Rio Grande do Sul. “A tecnologia pode ser considerada como um eixo de reforço para a nossa estrutura econômica, muito baseada no setor primário. Por isso nos concentramos nesta questão ao estabelecer parceria com a Motorola e lançar recentemente o Programa Gaúcho de Informática”, explicou o secretário de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Zeca Moraes. Para ele, o fato de investir em tecnologia possibilita a atração de segmentos estratégicos com potencial em nível mundial. “Com a instalação do Ceitec, o Estado vai se tornar referência em todo o mundo no que se refere à fabricação e prototipagem de chips”, diz Moraes.
A finalidade do Centro – uma entidade sem fins lucrativos – é a produção, em pequena escala de chips para computadores. “É importante a criação de uma base para desenvolvermos inteligência. Todas as grandes fábricas deste tipo foram precedidas pela existência de uma unidade como o Ceitec”, comenta o secretário.
Para a construção do Ceitec será realizado um investimento de US$ 25 bilhões, divididos entre a Motorola, o governo estadual e a Prefeitura de Porto Alegre, outra parceira no projeto. Segundo Zeca Moraes caberá à Motorola a doação de equipamentos e a prestação de suporte técnico, o que equivale a 50% do valor do projeto. O restante será dividido entre o Estado e a Município, que responderão pela infra-estrutura, com a construção e manutenção do espaço, e pela parte de recursos humanos.
O secretário de Ciência e Tecnologia, Adão Villaverde acredita que o Ceitec “é uma forte articulação do governo junto com as universidades e empresas locais para criar um centro de pesquisa que consiga projetar e fabricar circuitos integrados avançados”. Para ele, o Estado poderá se tornar um centro de produção de recursos humanos especializados na área de informática, com alta capacidade de agregação de valor. “Isto significaria a possibilidade de qualificar as empresas de software e hardware aqui do Rio Grande do Sul e a atração de investimentos de fora”, reflete.
No embalo do lançamento do Ceitec surge o Programa Gaúcho de Informática, outra alternativa para desenvolver tecnologia. Através de um conjunto de ações sugeridas durante o Fórum de Desenvolvimento da Informática Gaúcha, o programa tem como objetivo apoiar o crescimento do setor e facilitar o acesso da população à internet.
O trabalho realizado em conjunto com a Companhia de Processamento de Dados do Rio grande do Sul (Procergs), Banrisul, BRDE e diversas secretarias de Estado vai tratar de quatro linhas temáticas: Infra-estrutura e Democratização da Informação, Recursos Financeiros, Pesquisa e Desenvolvimento e Acesso a Mercados.
Conforme o presidente da Procergs, Marcos Mazoni, o tópico que trata da democratização da informação vai permitir a instalação de computadores em locais públicos – universidades, prédios estaduais e associações – com sites que permitem acesso gratuito. Além disso, caberá à Procergs a implantação do Portal de Serviços Públicos, que hospedará gratuitamente páginas de prefeituras de diversos municípios gaúchos.
Outra novidade que também está em fase de implantação é o Projeto Software Livre, que busca transformar o Rio Grande do Sul em um centro de referência no desenvolvimento e aplicação de programas deste tipo. “Além de reduzir custos, a iniciativa proporciona um ambiente de liberdade de apropriação da pesquisa e conhecimento com maior segurança”, completa Mazoni. Para ele, a implantação do Software Livre é uma possibilidade de apoiar o desenvolvimento econômico e a inteligência local.
No que se refere à questão dos recursos financeiros, foram estabelecidas linhas de crédito do Banrisul e do BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – voltadas para empresas se software, serviços e hardware. O secretário Zeca Moraes diz que serão disponibilizados R$ 9 milhões pelo Banrisul e R$ 3 milhões pelo BRDE para compra de equipamentos, desenvolvimento de produtos e investimentos no Pólo de Informática de São Leopoldo.
De acordo com o secretário, a Sedai – Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais – vai coordenar a linha temática referente ao Acesso a Mercados, com a expansão da Rede Trade Point, que permite o acesso de pequenas e médias empresas a informações sobre comércio internacional, o apoio à participação de empresas brasileiras em feiras e a elaboração do Plano de Marketing, que define uma marca para a informática do Rio Grande do Sul.
A outra ação proposta pelo Programa Gaúcho de Informática diz respeito à Pesquisa e Desenvolvimento. Segundo o secretário Adão Villaverde, estão incluídos neste tópico o Encontro Estadual de Pesquisadores de Informática, o Programa Estadual para Captação e Aplicação da Lei 8248/91, lei da informática e a ampliação da Rede Estadual de Informação em Ciência e Tecnologia, Rede Tchê que interliga universidades gaúchas. “Além disso temos ainda o Edital da Fapergs – Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul – que contempla cerca de 30 projetos e tem investimentos de R$ 1 milhão para aumentar a qualidade e produtividade do setor de informática”, ressalta Villaverde.
O presidente da Fapergs, Renato de Oliveira diz que o Estado foi pioneiro na pesquisa aplicada na informática e que ela representa um forte potencial de desenvolvimento. “A microinformática é a chave para que possamos desenvolver a economia. Hoje em dia ter domínio sobre esta área é um negócio elementar para que a economia não sofra um processo de marginalização”, comenta Oliveira.
De acordo com ele, o edital tem como objetivo selecionar projetos que contemplem geração de tecnologia inovadora, na forma de novos produtos de hardware ou software, o que permite a integração entre atividades de pesquisa e desenvolvimento das empresas e dos grupos de pesquisa do Estado.
Também estão inseridos no programa iniciativas como o Via Empresa, um portal lançado recentemente que facilita a inserção de pequenas e médias empresas no nova economia e o projeto Fábrica de Software, que forma uma rede de produtores de programas para computadores.
O Pólo de Informática de São Leopoldo, criado em 1996 para abrigar uma incubadora empresarial, um condomínio para empresas em crescimento e um parque tecnológico, também está inserido no Programa Gaúcho de Informática. De acordo com o presidente da comissão de implantação do Pólo, Siegfried Koelln, em janeiro deste ano o Governo do Estado repassou R$ 324 mil para o Pólo. “Esta verba será destinada para construção do Parque Tecnológico e para infra-estrutura do terreno com o objetivo de formar um ambiente tecnológico em todo o município”, conta.
A Unidade de Desenvolvimento Tecnológico da Unisinos (Unitec) – como é chamada a incubadora – já está em funcionamento e é de responsabilidade da universidade. Ela acolhe projetos de desenvolvimento de software e serviços com tecnologia de informática. Segundo Koelln, a Unitec também pode abrigar projetos de outras áreas tecnológicas. “A incubadora é para empresas nascentes ou para as já constituídas, mas que ainda não se firmaram no mercado”, explica.
A Unitec tem sete empresas em incubação que recebem diversos benefícios como infra-estrutura de secretaria, sala de cursos, sala de reuniões, auditório para palestras, sala individualizada para instalação da empresa com ramal telefônico e acesso à internet e biblioteca. As empresas também recebem apoio de consultoria e tecnológico, em áreas de seu interesse, fornecido pela Unisinos e através de convênio com o Sebrae/RS, que cobre parte dos custos de treinamento gerencial, consultorias, participação em eventos, etc.
Após a fase inicial, as empresas que alcançarem maturidade técnica para desenvolver seus próprios trabalhos serão abrigadas pelo condomínio, que será construído nos próximos três anos. Depois de passar pela incubadora e pelo condomínio a empresa está pronta para integrar o Parque Tecnológico, concebido para abrigar empresas que desenvolvem software e prestam serviços na área de informática, mas que já estejam consolidadas no mercado. Segundo Siegfried Koelln, na primeira fase do Parque Tecnológico se instalarão dez empresas numa área de 10.100 metros quadrados. “A previsão é de que os prédios estejam prontos até o segundo semestre de 2001”, completa.
Desde 1995 os porto-alegrenses ouvem falar no Projeto Porto Alegre Tecnópole, uma espécie de carro-chefe dos investimentos da Administração Municipal em ciência e tecnologia, com o objetivo de tornar Porto Alegre, e sua região metropolitana, num ambiente propício à inovação.
De acordo com o supervisor de empreendimentos e tecnologia da Secretaria Municipal de Produção Indústria e Comércio, Eduardo Raupp, a primeira iniciativa mais concreta na área de tecnologia foi a criação da Incubadora Empresarial Tecnológia – Ietec – inaugurada em 1991. “Ela foi a primeira incubadora do país feita por uma entidade estatal, no caso a Prefeitura”, revela Raupp. O objetivo da Ietec é apoiar a criação de novos produtos e processos desenvolvidos por micro e pequenas empresas. Atualmente, a incubadora abriga 23 empresas, distribuídas nas modalidades de incubação interna, externa e pós incubação. Com o trabalho da Ietec foram criados até agora mais de 150 produtos e serviços e 144 postos de trabalho de forma direta.
Segundo Raupp, através do Porto Alegre Tecnópole outras entidades, parceiras no projeto, puderam colocar em prática diversas iniciativas na área de ciência e tecnologia como no caso da Ufrgs, que conta hoje com duas incubadoras em atuação, com possibilidade de inaugurar outras três em 2001. O Governo do Estado também teve a oportunidade de criar a sua primeira incubadora tecnológica, a Cientec. Além disso, explica Raupp, foi inaugurado pela Fiergs – Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul – o Centro de Negócios Brasil-França fruto da cooperação dos dois países na concepção do Projeto Tecnópole.
Eduardo Raupp revela a existência de uma pesquisa e de um projeto urbanístico, já apontado no Plano Diretor da cidade, para transformar um trecho da Avenida Ipiranga em um pólo de alta tecnologia na área de saúde. “A proposta é localizar este pólo próximo ao Arroio Dilúvio já que nos arredores da sua bacia hidrográfica se concentram 27 dos 34 hospitais de Porto Alegre, além de laboratórios, faculdades de Farmácia e da Área Biomédica, o que forma um núcleo de pesquisa na área de saúde”, conta.
Através da parceria do Prefeitura Municipal com o Governo do Estado empresas e universidades, foi elaborado ainda o projeto para criação do Condomínio de Empresas do 4º Distrito. “A idéia é transformar o local, próximo aos bairros Floresta, Navegantes e São Geraldo, em um parque tecnológico urbano nas áreas de eletrônica e informática. Num primeiro momento teríamos a condomínio abrigando cerca de 20 empresas consolidadas, que já passaram pelas incubadoras”, revela Raupp. De acordo com ele, o projeto propõe a transformação do Condomínio de Empresas do 4º Distrito em um centro de serviços de alta tecnologia que serviria como um atrativo para que outras empresas se instalem no parque tecnológico.
Notas
O Centro de Desenvolvimento Infantil (Cedi) realiza, nos dias 29 (tarde) e 30 (manhã e tarde) de setembro, a I Jornada de Educação Inclusiva. O encontro será no Colégio Americano, em POA. Entre os palestrantes, a Dra. em Educação Maria Teresa Mantoan e a especialista em Estimulação Precoce e Educação Pré-escolar Maria Lucia Madrid Sartoretto. Mantoan é pesquisadora e professora da Unicamp. Sartoretto é pedagoga, diretora do Centro de Apoio da Afad, de Cachoeira do Sul. As inscrições podem ser feitas até o dia 8 de setembro com custo de R$ 25,00. Associados do Sinpro/RS têm desconto de 20%.
A Faculdade Ritter dos Reis, de Porto Alegre, está oferecendo 10% de desconto para os professores na rede privada de ensino nos cursos de pós-graduação em Letras. Informações pelo fone 51. 233.7166.