Os lingüistas estão mesmo soltando o verbo contra a ditadura das normas. Outra obra de publicação recente e que se dedica também à análise da nossa língua é “Gramática de Usos do Português” (Editora Unesp), de Maria Helena Moura Neves. No livro, a autora mostra como a língua portuguesa está sendo usada no Brasil, recorrendo a 70 milhões de ocorrências de palavras armazenadas no Centro de Estudos Lexicográficos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara. É uma gama de textos de diferentes gêneros que, em conjunto, aprofunda os conhecimentos sobre o português oral. A diferença deste tipo de livro (uma gramática de usos) para as gramáticas tradicionais é que ele traz os dados “falando” por si só, independente da interpretação dos próprios gramáticos.
São mais de mil páginas, que se constituem uma espécie de mapa do português contemporâneo escrito e falado. Um dos pontos levantados pela autora foi mostrar que os diferentes tipos de textos retirados do banco de dados mostram que o gênero literário é tão variado que não pode ser utilizado exclusivamente para fixar normas, o que, geralmente, acaba ocorrendo nas escolas brasileiras. Marcos Bagno lembra a importância do “excelente” trabalho de Moura Neves, e acrescenta que ela apresenta uma descrição da língua tal como ela é, simplesmente analisando seus fenômenos. “É o contrário das gramáticas tradicionais que são prescritivas, isto é, tentam impor de antemão algumas regras como as únicas ‘certas’ sem se dar ao trabalho de verificar se elas realmente ainda estão em vigor na língua”, conclui.