EDUCAÇÃO

O professor de língua estrangeira no Brasil: alguns fatos e uma ficção

Paulo R.S. Ramos / Publicado em 29 de maio de 2006

A necessidade e mesmo a utilidade do ensino e aprendizado de línguas estrangeiras parece, num primeiro momento, questionável num mundo onde algumas línguas são muito faladas e discutidas, enquanto outras, à margem, perdem seu status de meio comunicativo. Quando se transporta a questão para dentro das fronteiras do Brasil, onde o acesso mesmo à educação se configura em algo limitado a uma minoria o quadro poderia ficar mais adverso.

Se levarmos em conta que a chamada língua geral (ou mais exatamente línguas gerais, pois eram mais de uma) que dominava o Brasil Colônia não era português, mas sim versão simplificada das línguas faladas pelos índios tupis e que somente deixou de ser amplamente utilizada quando do decreto do Marquês do Pombal instituindo o ensino do português como obrigatório, tem-se que o que é hoje ensinado como língua materna foi há menos de 200 anos encarado como língua estrangeira.

Nosso país seguiu de perto as variações metodológicas mundiais: do método de tradução e gramática do século XIX passando pelo método direto e pelo audiolingualismo até a chamada abordagem comunicativa. Todas estas e muitas outras tiveram vez e algumas ainda permanecem da prática docente de alguns profissionais do ensino de línguas. Cada método ou abordagem, como ressalta Crystal (1987), baseia-se numa maneira particular de ensinar uma língua e em última instância na própria concepção de linguagem que cada grupo ou sociedade tem.

Em 1982, o Comitê dos Ministros do Conselho da Europa redigiu a Recomendação R (82) 18, a qual foi adotada e que informa de maneira clara as questões envolvidas no ensino e aprendizado de línguas modernas. As premissas gerais foram três: 1) assegurar, até onde for possível, que todas as seções da sua população tenham acesso a meios efetivos de adquirir conhecimento de línguas de outros estados membros (ou de outras comunidades dentro de seu próprio país) bem como as habilidades de uso daquelas línguas que irão ajudar o cidadão a satisfazer suas necessidades comunicativas e outros usos para propósitos específicos; 2) promover, encorajar e apoiar os esforços de professores e alunos de todos os níveis em aplicar para suas situações específicas os princípios da construção ‘programa de línguas européias’ do conselho europeu) e 3) promover pesquisa e programas de desenvolvimento que levem a introdução, em todos os níveis educacionais, de métodos e materiais mais bem adequados a habilitar as turmas e tipos de estudantes a adquirir uma proficiência comunicativa adequada às suas necessidades específicas. As premissas do Conselho da Europa também se fizeram sentir neste país em virtude das relações históricas, econômicas e culturais como muitos dos estados membros.

O Brasil sempre teve lugar de destaque para o educador especializado no ensino de língua estrangeira. Desde o ensino de português para usuários das línguas gerais até ensino de línguas estrangeiras modernas, tem-se a figura de um profissional que utiliza os meios mais diversos para auxiliar os aprendizes a adquirir o conhecimento que necessitam para as suas necessidades. Esses profissionais parecem enfrentar uma alarmante situação, qual seja, querem fazê-los crer que não são professores, mas sim ‘pessoas que auxiliam no aprendizado de uma peça cultural – a língua estrangeira’. Após inúmeras décadas de trabalho e busca de legitimidade, algumas instituições e organizações, apoiadas por um artificialismo mercadológico, ensejam a negação da prática docente de um sem número de profissionais do ensino. A equação é bastante simples. Não há outro nome senão professor para aqueles que exercem atividade de ensino de idiomas. Os indivíduos que são empregados nesta atividade são legitimados, em proporções variadas, pelos bancos das universidades e/ou pela práxis da docência. Quem necessita de ‘instrução’ são aqueles que se recusam a reconhecer tal realidade. Instrução cognitiva.

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