O 8º Congresso Estadual dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Cepep), realizado pelo Sinpro/RS de 18 a 20 de maio, no Hotel Campestre do Sesc, em Porto Alegre, debaterá o tema ‘Profissionalismo e Empregabilidade’. Até o dia 15, todos professores sócios do Sinpro/RS podem inscrever-se diretamente no site: www.sinprors.org.br/cepep. Até o fechamento desta edição, mais de 250 professores já estavam inscritos. De acordo com a diretora do Sinpro/RS e integrante da comissão organizadora do Congresso, Cecília Farias, as inscrições superam as expectativas do Sindicato. “Consideramos que o interesse dos professores está na conjugação de atividades pedagógicas, atividades lúdicas e, especialmente, espaços de discussão que irão subsidiar o planejamento das políticas do Sinpro/RS para o próximo período”, destaca.
A programação começa no dia 18, com o credenciamento dos participantes a partir das 17h. Às 20h, será apresentada a palestra ‘Ensino Privado: Profissionalismo e Empregabilidade’, pelo professor Celso dos Santos Vasconcellos (leia entrevista nesta página).
No dia 19, a primeira mesa temática será A legislação trabalhista no contrato dos professores de EaD, apresentada por representantes da Justiça do Trabalho. A professora da PUCRS e da Smed, Salete Campos de Moraes, abordará a temática ‘O cotidiano da escola e a violência simbólica’, na segunda mesa temática do Cepep. “O que se busca é refletir sobre as práticas escolares que, de tanto serem reproduzidas, são encaradas como “naturais” por professores, coordenação pedagógica, direção, funcionários, alunos e pais, na e com a instituição escolar”, antecipa Salete.
Beatriz Kulisz, pedagoga e mestre em Educação, palestrante da mesa temática ‘Educação Infantil – Professores em cena: o que faz a diferença?’, apresentará o resultado de uma pesquisa sobre qualificação profissional. “Vamos descobrir que referenciais curriculares o professor precisa ter e que práticas fazem a diferença”, resume.
‘ O estresse e a atividade docente’, com o médico da PUCRS pós-graduado em Sexologia e pesquisador em Medicina Preventiva, Afeto e Comportamento Alexandre Dahmer, encerra as mesas temáticas. Segundo ele, os professores estão mais expostos ao estresse em virtude do seu comprometimento em transmitir conhecimento. “O ‘produto’ e o ‘consumidor’ nessa relação de trabalho são altamente estressantes”, analisa. Dahmer afirma que as crianças absorvem mais o estresse e transferem para o educador. “Pode-se dizer que o professor lida com um produto altamente tóxico”, compara. Também integram a programação atividades lúdicas e culturais, visitas à Casa do Professor e à Fundação Ecarta, discussão das propostas, resoluções e plenária deliberativa a partir das 10h do dia 20 de maio.
A transformação cabe ao professor
O professor Celso Vasconcellos é filósofo, mestre em História e Filosofia da Educação pela PUCRS, escritor com diversas obras publicadas sobre planejamento, políticas pedagógicas, currículo, avaliação e outros temas da Educação, fará a palestra de abertura do 8° Cepep, com uma abordagem sobre profissionalismo e empregabilidade no ensino privado. Em entrevista ao Extra Classe, Vasconcellos antecipa alguns temas que serão debatidos com os participantes do Congresso.
Por Gilson Camargo
EC – O senhor afirma que o sucesso ou fracasso de qualquer política educativa depende do professor. Por quê?
Celso Vasconcelos – O mais concreto da Educação ocorre no processo de ensino-aprendizagem, na sala de aula ou nos espaços de estudo na escola. De pouco adianta alterarmos os salários, a formação, as condições de trabalho, se isso não se traduzir em uma nova prática em sala de aula, e não só em termos individuais, mas coletivos, pois o que um professor faz em um ano ou em uma aula, o outro pode desfazer no ano seguinte ou na aula seguinte, não por maldade, mas por simples falta de articulação. Se trata sempre de um projeto coletivo. Quem está na escola todo dia é o professor. Mudar é de seu interesse.
EC – No ensino privado, o que está em jogo no que se refere ao profissionalismo?
Celso Vasconcelos – Creio que a questão básica é disputar a hegemonia do pedagógico, que é o específico do nosso trabalho. Na consolidação do pedagógico como o elemento fulcral da atividade escolar, defendo dois aspectos fundamentais: o projeto político-pedagógico e o espaço de trabalho coletivo constante (as reuniões pedagógicas semanais). São relativamente comuns a não-participação ou a presença formal do professor no momento da elaboração e discussão do PPP, por achar que é uma formalidade, um documento que “vai ficar na gaveta”. Depois, nos momentos em que o econômico se sobrepõe, não há ponto de apoio para um confronto no plano das idéias, e tudo fica como se fosse uma questão pessoal. Em uma época de medo de perder o emprego, podemos imaginar as conseqüências: a mantenedora passa como um trator por cima.
EC – O senhor não acha que há disparidades entre concepções de educação de parte a parte?
Celso Vasconcelos – O que dizer de um profissional da eEducação que nem sequer sabe como se dá o processo de conhecimento, não domina o próprio sentido do que ensina? Em alguns casos mais extremos, sequer domina o próprio conteúdo que ministra, ou, em outros, quando domina, ensina baseado na mera transmissão. Não se trata de um julgamento moral. Ele também sofre os reflexos do desmonte social, de uma lógica desumana e excludente. Sabemos que os resultados das escolas privadas também são muito fracos.
EC – Por que os professores têm dificuldade em impor limites aos alunos?
Celso Vasconcelos – Do ponto de vista mais geral, a crise dos limites comportamentais está ligada à crise de objetivos (de vida e da escola) e ao consumismo. A ausência de projeto provoca um grande estrago na sala de aula: “Afinal, para que me comportar se não vejo sentido naquilo que estou fazendo?”. Porém, a este fator vêm se acrescentar outros dois, um de ordem circunstancial e outro estrutural. Em função do modelo econômico baseado na produção de bens que não são de primeira necessidade, passa a ser fundamental quebrar os limites das pessoas, a fim de liberar para o consumismo; sem limites bem definidos, as pessoas agem sob o impulso.