A preocupação com o mal-estar na docência teve início na Espanha, na década de 70, com um autor chamado José M. Esteve, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Málaga, que escreveu um livro e um trabalho sobre professores em conflito. Também conhecido pelo termo burnout, atinge uma quantidade enorme de professores em todo o mundo.
Este é o tema que o Sinpro/RS trouxe em 2009 para as Aulas Inaugurais que estão ocorrendo durante o mês de março em Cruz Alta (27/02), Taquara (03/03), Porto Alegre (06/03), Cachoeira do Sul (11/03) e Carazinho (13/03). O objetivo é proporcionar aos professores uma reflexão sobre sua atividade profissional, ajudar a detectar os problemas, mas, principalmente, propor melhorias para sua qualidade de vida como pessoa e educador. Os convidados para ministrar essas aulas são os doutores em Educação Juan José Morino Mosquera e Claus Dieter Stobäus, ambos da Pontifícia Universidade Católica – PUCRS e integrantes de um grupo de pesquisa que desde 1996 se aprofunda nesta temática. (Leia também a entrevista com).
As causas e o difícil diagnóstico
O médico e professor dr. Claus Stobäus conta que em seus plantões no Hospital São Lucas atende inúmeros casos de difícil diagnóstico, os chamados sintomas psicossomáticos, ou seja, distúrbios físicos supostamente causados por fatores psicológicos. Causas indefinidas como arritmia cardíaca, emagrecer ou engordar demais, problemas na tireóide, aparelho urinário, diarreia, enxaquecas, pontos de dor na coluna e pescoço endurecido são os sintomas mais comuns.
“E importante controlar o ritmo de vida, pois quando somos jovens acreditamos que podemos, que somos um superprofessor, mas de repente a pessoa se dá conta que a mente quer uma coisa e o corpo não acompanha, e que não conseguimos abraçar o mundo. E o que fazer nessa hora?Tem que mudar!”, ensina ele. Às vezes é preciso tomar uma medicação ou apenas precauções para que aqueles sintomas não retornem.
Os motivos pelos quais professores de todos os níveis de ensino, do infantil ao superior, chegam a este estado de mal-estar podem ser muitos, mas alguns aparecem mais claramente na pesquisa, que ainda não apresenta números, pois é qualitativa.
Os testemunhos dos professores têm sido muito honestos, dizem os acadêmicos. “Muitos deles têm a necessidade de extravasar. Encontramos depoimentos de pessoas que revelam boa autoimagem, por exemplo, e outras que revelam autoimagem carente”, conta Mosquera.
Alguns argumentam que os professores têm três meses de férias. “Será? Que férias são estas, se muitas vezes é para planejar o curso seguinte?”, questiona o professor Mosquera, que completa “Uma sala de aula no meu entender é um tremendo desgaste psicológico, sobretudo se tu não tiveres um grupo que atenda as tuas necessidades como professor”. Uma particularidade apresentada na pesquisa foi de que professores homens são mais realizados profissionalmente do que as mulheres. Os pesquisadores acreditam que isto se deve pelo fato do magistério não ser uma carreira competitiva, o que faz com que esses homens dediquem sua vida à profissão. Outro dado é a ansiedade trazida pelas novas tecnologias, ao usar algo que não conhece e que os alunos conhecem melhor.
O bem-estar do professor
Mais do que identificar os sintomas e os porquês dessa sensação que afeta todas áreas da vida docente, os pesquisadores vêm ampliando esses estudos para a temática do bem-estar na docência.
Qual é o fator que te faz crescer numa sala de aula? O que te leva a ser professor? Será que ser professor serve para uma pessoa que só está interessada no ganho? Ou ser professor tem algo mais? Estas são algumas das perguntas feitas pelo estudo. A principal orientação aos docentes é falar, colocar os problemas para fora, e não engoli-los deixando que se internalizem.
É consenso de que não é possível separar o lado pessoal do profissional. “O que faz que um professor seja saudável é que ele seja inteiro. E desse todo faz parte o autoconhecimento. Os professores deveriam ser preparados para possibilitar uma educação psicológica”, avalia Mosquera. E como último recado ele fala: ”Os melhores professores são aqueles que reconhecem seus sentimentos e são capazes de passar sentimento para os alunos”.
A Psicologia Positiva
A Psicologia Positiva, na qual estão inseridos os estudos do mal e bem- estar docente surgiu nos Estados Unidos, em 1998, a partir da iniciativa do psicólogo norte-americano Martin Seligman que, ao lado de renomados cientistas, começou a desenvolver pesquisas para promover uma mudança de foco na Psicologia para o estudo das coisas positivas na vida de uma pessoa, buscando um caráter preventivo. Ela também é chamada de Psicologia da felicidade.
No entanto, o professor Mosquera lembra que a Psicologia Positiva não é tão recente, visto que ela se fundamenta na Psicologia Humanista, muito trabalhada nos anos 70, 80 e 90 do século passado. Hoje, essa Psicologia renasce com os aspectos de positiva através de autores como Seligman.
“Eu diria que é uma ciência propositiva e cheia de boas intenções. Ela está preocupada em ver os melhores aspectos do ser humano, porque nós estamos acostumados a ver só aspectos negativos. Por exemplo, quando conhecemos uma pessoa já julgamos e não damos oportunidade a essa pessoa de deixar transparecer o que tem de melhor”, explica.