Desde setembro do ano passado sem receber salários em dia, os professores da Ulbra aprovaram, em assembleia realizada no dia 28 de fevereiro, proposta de parcelamento dos salários atrasados. A proposta foi negociada entre o Sinpro/RS e a Reitoria da Ulbra e avaliada por professores de diversos campi e unidades de ensino da instituição, que lotaram o auditório da Amrigs. Pelo acordo, os vencimentos em atraso e as multas serão parcelados a partir deste mês. “O Acordo Salarial representa a aposta da categoria na continuidade da instituição”, avalia Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
Confira a íntegra do acordo no site www.sinprors.org.br/ulbra.
O dirigente ressalva que os professores estão conscientes de que a crise que ameaça a Ulbra não está superada, pois é consenso que os problemas resultam do modelo de gestão sem foco na Educação, da diversidade de negócios, das decisões centralizadas, da falta de transparência. Os docentes também referem-se à intimidade da instituição com o poder público, a exemplo da aposta em uma solução vinda das esferas federais e das ligações com o poder público municipal. Jairo Jorge, que foi pró-reitor da Ulbra e se licenciou para concorrer à prefeitura de Canoas, indicou o reitor, Ruben Becker, para o Conselho de Desenvolvimento.
MP DAS FILANTRÓPICAS – No início de fevereiro, beneficiada pela polêmica MP das Filantrópicas (446/08), mais de 2,5 mil instituições, entre as quais a Ulbra, obtiveram a renovação da sua condição de entidades filantrópicas. A MP renova automaticamente certificados e inclui instituições com possíveis irregularidades investigadas pelo Fisco. A Ulbra retomou o status de entidade filantrópica e as isenções fiscais retroativamente a 2004. O ato do governo não a isenta do repasse de outras contribuições e obrigações retidas dos trabalhadores, algumas delas, inclusive, em cobrança judicial. Consta na Justiça processo em andamento relativo ao período 2001 a 2003, certificado este que foi cassado por decisão da Justiça Federal. A MP foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, o que, no entanto, não anula os certificados emitidos na sua vigência, pois a Constituição prevê a covalidação de todos os atos realizados durante a vigência da MP se, no prazo de 60 dias, o Congresso não aprovar um decreto sobre o assunto.
JUSTIÇA FEDERAL – A Ulbra vem acumulando decisões judiciais desfavoráveis, como a penhora do campus de Canoas, pela Justiça Federal, para garantir o pagamento de dívidas de R$ 2 bilhões com a União. O valor informado pela Receita é contestado pela Ulbra, que admite débitos inferiores a R$ 400 milhões. Em setembro de 2008, a Ulbra teve o Certificado de Filantropia cassado por decisão do juiz federal Guilherme Pinho Machado que, em outra ação, penhorou a renda dos jogos do Sport Club Ulbra disputados em Canoas. Machado também mandou lacrar os automóveis do Museu da Tecnologia da fundação que tem o nome do reitor, Ruben Becker. A GM, que mantinha veículos no Museu, decidiu recolher os seus carros antigos.
BATALHA JUDICIAL – Desde que se evidenciou a crise da Ulbra, em setembro, iniciou-se uma batalha judicial para garantir a prioridade das receitas da instituição para o pagamento dos salários dos professores. O Sinpro/RS obteve na Justiça do Trabalho o bloqueio de contas da Ulbra, o que garantiu o repasse de valores para pagamento dos salários de outubro. Depois disso, a Justiça do Trabalho suspendeu os bloqueios de valores nas contas da Celsp/Ulbra, que priorizou os vencimentos dos trabalhadores da saúde. Os professores passaram o Natal e o Ano-Novo sem o salário de novembro e sem o 13º. No dia 29 de dezembro, a Justiça decidiu pela retomada dos bloqueios, mas a própria instituição pagou o salário de novembro na primeira semana de janeiro. Em 9 de janeiro, a Justiça do Trabalho ampliou os bloqueios para todas as contas do complexo Celsp/Ulbra, incluindo os CNPJs em nome do presidente da Celsp, Delmar Stahnke, e do reitor, Ruben Becker. Recursos oriundos das penhoras permitiram o pagamento parcial do salário de dezembro. Essa situação “privilegiada” dos professores, frente às demais categorias, decorrente de decisões judiciais, levou o Judiciário trabalhista à proposição de um acordo de rateio de valores para estabelecer um mesmo patamar de pagamento dos salários.
COMISSÃO EXTERNA – A Comissão Externa da Câmara dos Deputados, instituída para acompanhar a crise da Ulbra, limitou-se a dar conselhos sobre mudanças no modelo de gestão e recomendar o diálogo em seu relatório sobre o acompanhamento da instituição. A avaliação é do diretor do Sinpro/RS, Marcos Fuhr. “Relatório que, aliás, após a aprovação demoramos a receber”, critica. No dia 12 de dezembro, em audiência na sede estadual do Sinpro/RS, dirigentes das entidades sindicais dos trabalhadores do complexo Ulbra apresentaram à comissão relatos sobre as condições de trabalho e dos reflexos dos atrasos salariais, e condicionaram qualquer auxílio público à mudança da Reitoria da Ulbra.