Ao observarmos a pesquisa Condições de Trabalho e Saúde dos Professores do Ensino Privado no RS, elaborada pelo Diesat som chancela do Sinpro-RS e outras entidades de classe, percebemos que grande parte dos problemas apresentados pelos docentes está intimamente relacionada com o tempo de trabalho.
A pesquisa mostra que 70% dos professores executam tarefas fora de suas jornadas contratuais, leia-se, via de regra, em suas casas, nos seus horários de folga. Somente 20% deles tem horários “completos” para seus lazeres o que resulta em esgotamento e cansaço de outros 78%.
A pesquisa é alarmante. Pois, a qualidade de vida dos professores está submergida em horas e horas de trabalho, que parecem, em determinados momentos, intermináveis e insuficientes (42% dos professores afirmam que, “frequentemente” tem a sensação de que não darão conta do trabalho e 21% sentem isso “às vezes”).
Este tempo de trabalho, antes material, registrado, sólido, se tornou imaterial, flexível e invisível. As ferramentas, antes localizadas, agora povoam todos os espaços. A internet se transformou em uma espécie de “pan-óptico” para os professores, ou seja, não há lugar, não há horário, não há limite.
O professor é sempre acessado. Seja em sua casa, na escola, na rua (estamos na época dos iphones e dos bluetoothes). Ele está sempre disponível, sempre alerta. Não há mais uma carga horária semanal específica, conhecida e respeitada.
E o que dizer das mais variadas formas de avaliação estabelecidas pelas instituições? São pareceres descritivos, psicopedagógicos, de rendimento e pareceres para os pais. Turmas cada vez mais conglomeradas para contenção de gastos. Redução de auxiliares de administração, fazendo com que os professores exerçam quase que uma função de escriturários.
A atual organização social do trabalho nas instituições exige do professor uma capacidade de comunicação e cooperação, tanto em relação a sua equipe de trabalho, quanto em relação aos pais e alunos.
As escolas desenvolvem seus projetos estratégicos a partir da conjugação entre o comprometimento de seus professores e as estratégias de manutenção de sua clientela (com a oferta das mais variadas ferramentas e facilitadores de acesso de pais e alunos aos conteúdos). Isso acaba produzindo não só a individualização das capacidades, mas a precarização da prestação do trabalho e da remuneração do mesmo.
E não há qualquer espaço para discussão de mecanismos de contenção dos danos que estas novas estratégias educacionais, e porque não dizer de consumo, podem gerar na vida dos professores. Há uma recusa permanente dos empregadores de discutir o limite de alunos por turma e a hora-atividade, por exemplo.
Nossa constatação não poderia ser outra, que em tempos fluidos, não mais medidos pelos ponteiros dos relógios, mas de jornadas invisíveis, trabalhadas na intimidade do lar de cada educador, os professores estão adoecendo.
Departamento Jurídico do Sinpro/RS
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