Comunidade acadêmica pressiona por eleições diretas
Até o final de dezembro estará definida a forma de escolha do próximo reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS). A decisão está nas mãos dos dez integrantes do Conselho Diretor da Fundação Universidade Caxias do Sul, a mantenedora, que conforme o atual estatuto é a instância deliberativa da instituição. A UCS é uma das poucas universidades comunitárias do Rio Grande do Sul que ainda não possui eleições diretas para Reitoria.
“Caxias é uma cidade com tradição na luta democrática. Não é aceitável que a Universidade não tenha acompanhado o processo de redemocratização”, destaca o diretor do Sinpro/RS, Marcos Führ. Unidos em um fórum, representantes dos professores, funcionários e alunos pressionam para garantir que, ao menos, se repita o processo de escolha de 2006, que levou à Reitoria o professor Isidoro Zorzi. Naquele ano, mais de 8,5 mil pessoas puderam expressar sua preferência entre os candidatos. A consulta, no entanto, não tinha caráter deliberativo.
“A sorte foi que o atual reitor venceu entre todas as categorias e era também o preferido pelo Conselho Diretor. Se houvesse discordância, não temos certeza do desfecho”, avalia a presidente da Associação dos Docentes da UCS, Maria Elisa Fontana Carpena. Justamente por esse histórico – a consulta representou um avanço no processo – há otimismo entre as categorias. “Acredito que chegou o momento de um debate direto”, avalia o coordenador de patrimônio e finanças do DCE Gabriel Ferreira Neves. O problema é que até agora os diretores da mantenedora não sinalizaram claramente qual a tendência do órgão. “Só o que ouvimos são reticências”, reclama Maria Elisa.
SILÊNCIO – A reportagem do Extra Classe procurou os representantes do Conselho Diretor da Fundação Universidade Caxias do Sul, que se negaram a dar entrevista. “Não há uma definição”, limitou-se a informar o vice presidente e membro do Ministério da Educação, padre Roque Grazziotin. Ele acredita que há possibilidades de avanço na participação democrática. “Mas para isso precisaremos mudar o estatuto”, observa.
A maior preocupação dos professores é que a abertura caminhe a passos lentos e ceda espaço a vontades partidárias. Como os representantes das três esferas do governo têm assento no Conselho Diretor, que conta também com a participação de entidades da sociedade civil, há temor de que os interesses das siglas prevaleçam aos da comunidade acadêmica. “A discussão é porque não podemos exercitar democraticamente nosso voto”, alfineta a professora Maria Elisa. O Conselho Diretor afirma que a definição do “processo de transição” será anunciada ainda em dezembro. A escolha do próximo reitor não pode acontecer depois de abril, já que o mandato de Zorzi termina em maio de 2010.
Ação Civil Pública contesta filantropia
No dia 17 de novembro, a Justiça Federal acatou uma Ação Civil Pública encaminhada pelo Ministério Público Federal questionando a filantropia da Universidade de Caxias do Sul. Uma das irregularidades apontadas é que o ex-reitor e hoje deputado federal pelo PSDB Ruy Pauletti recebia dividendos como presidente da Fundação Universidade Caxias do Sul, o que seria um impedimento para a concessão do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas). “Verificamos também o pagamento de despesas pessoais com viagens suas e de familiares”, revela Moraes.
Também não foram comprovados 20% mínimos de gratuidade de serviços. “É uma instituição de educação e saúde. Não de assistência social”, contesta o procurador. Segundo Moraes, a UCS lista entre as atividades filantrópicas o uso da biblioteca pela comunidade, o atendimento que graduandos em Direito e Medicina prestam e até visitas ao zoológico. “São complementos dos cursos e não serviços para a comunidade”, avalia. O Cebas contestado pelo MPF de Caxias é referente ao período entre 2003 e 2006. “O certificado anterior, que valeu entre 2000 e 2003 será questionado pela Procuradoria de Brasília”, antecipa Moraes.