Estácio demite em massa na Fargs
Igor Sperotto
O Grupo Estácio de Sá, que adquiriu a Faculdade Rio-Grandense (Fargs), de Porto Alegre, demitiu 20% do quadro de docentes em fevereiro. A iniciativa da nova mantenedora contrariou o compromisso de expansão e investimentos com preservação dos postos de trabalho assumido pelo Grupo na ocasião da compra, em agosto de 2012. Segundo relatos dos professores desligados, o mesmo discurso foi reforçado em reunião interna logo após a compra e nas festividades de final de ano, quando foi reafirmado que, por cláusula de contrato, ninguém seria demitido pelo período de dois anos.
“A demissão em massa de professores tem sido prática recorrente em empresas de capital aberto que adquirem instituições no Brasil. Para o Sindicato, essa é uma prática de “empresas educacionais” que consideram a educação como simples mercadoria”, afirma Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
A maior parte dos docentes tinha muitos anos de atuação na instituição e nível de mestrado. Muitos possuíam dedicação exclusiva e já estavam com os planos de aulas prontos para o início do semestre letivo. Ainda em fevereiro, o Sindicato publicou nota de repúdio às demissões no jornal Correio do Povo.
No dia 25 do mesmo mês, cerca de 60 alunos da instituição realizaram assembleia que foi acompanhada por representante do Sinpro/RS. Os alunos reclamaram de não receberem informações sobre as mudanças, da falta de professores para algumas disciplinas e de falta de isonomia nas mensalidades para os estudantes antigos da Fargs e os novos da Estácio.
Demissões geram desgaste
De dezembro de 2012 até 25 de fevereiro deste ano foram realizadas 1.321 rescisões de contrato de trabalho de professores em todos os níveis educacionais do ensino privado, segundo levantamento do Sinpro/ RS, sendo 941 da educação básica e 380 da educação superior. As rescisões são homologadas pelo Sindicato, que disponibiliza há vários anos também um atendimento psicológico aos professores. A doutora em Psicologia, Márcia Vitorello, que acompanhou as homologações neste ano, diz que continua recorrente na prática das escolas as demissões sem alegação de motivos, indicativos anteriores ou feedbacks das direções. “O fato de a educação ter se tornado um negócio perpassa todo o discurso dos professores, pois o educador tem suas particularidades de natureza intelectual, mas com a lógica capitalista atual o professor se torna descartável. A voz que é dada aos alunos e aos pais também é muito forte“, avalia a profissional.
Evasão na educação infantil
O Sindicato realiza, a cada ano, um número maior de homologações de rescisões de contrato de professoras de escolas de educação infantil, segundo Celso Stefanoski, diretor do Sinpro/RS. Cresce também o número de profissionais que desistem de atuar neste nível educacional.
Uma professora, que pediu demissão e prefere não ser identificada, estava há dois anos em uma instituição da região Metropolitana de Porto Alegre. “Desisti porque não vale a pena, eu tinha que trabalhar até mesmo nos intervalos e horário de almoço. Não tinha auxiliares e faltava material. Nosso piso é muito baixo, especialmente fora da capital, é muita diferença”, desabafa a professora, que vai buscar emprego em outra área. Outra docente, que atuava em escola da capital, pediu demissão após três anos pois conseguiu uma oportunidade em uma escola que oferta todos os níveis de educação.
“O aumento do registro de rescisões na educação infantil se deve à atuação do Sindicato na regularização do contrato de trabalho dos professores. A maioria das escolas atualmente já tem profissionais contratados como professores como exige a legislação educacional, porém as condições de trabalho desfavoráveis em muitas instituições e o baixo salário faz com que o Sindicato priorize a atuação nessa etapa da educação”, destaca Stefanoski.