Foto: Igor Sperotto
Faculdades, centros universitários e universidades privadas do RS nunca sofreram tanto o assédio de grupos econômicos ligados à educação como nesses tempos de ampliação do poder aquisitivo e consequente acesso ao ensino superior de amplas camadas da população. Do total de matrículas da graduação, que na última década cresceu de 3,9 milhões para mais de 7 milhões, mais de 70%, ou 5,1 milhões, estão no setor privado. Nesse mercado em expansão, empresas que dominam o ensino privado estão incorporando instituições, sejam elas de pequeno, médio ou grande portes, estejam ou não endividadas. O negócio é lucrativo para as empresas. Já para professores e alunos, se traduz, na maioria dos casos, em padronização do ensino, salas de aula lotadas, tentativas de supressão de direitos trabalhistas e contenção salarial. O acompanhamento anual do Dieese junto às instituições aponta para um reajuste acumulado de 82,61% nas mensalidades das particulares gaúchas entre 2005 e 2014, enquanto que o INPC do período foi de 58,81%. Em 2014, as mensalidades subiram 8,15% e o INPC 5,95%.
O mais recente e expressivo caso de aquisição envolve a Faculdade Porto-Alegrense (Fapa) instituição fundada há 46 anos, com 3 mil alunos, comprada pela rede Laureate International Universities (LIU). Sem transparência, a transação vinha sendo negociada há vários meses, mas só foi anunciada no dia 14 de agosto.
A compra da Fapa pela Laureate foi vista com reservas pelo Sinpro/RS, que destacou o impacto da transferência de uma instituição tradicional para o setor mercantilista, especialmente em um estado em que, historicamente, predominam instituições públicas, confessionais, comunitárias, filantrópicas e sem fins lucrativos. “O Sinpro/RS reitera a convicção de que a educação é um bem público, cuja oferta não pode estar à mercê da lógica do mercado e pautada tão somente pela expectativa de lucro. Os reflexos do avanço da mercantilização em nosso estado ameaçam o padrão de qualidade do ensino superior do RS, reconhecido em todo o país”, ressaltou a entidade em nota aos professores.
Dias depois do anúncio da venda, no entanto, os efeitos da aquisição já são sentidos por professores e alunos. Contrariando o espírito de uma parceria entre instituições que marcou o comunicado inicial sobre a transação, foi iniciado um processo de transferência de alunos da Fapa para o UniRitter, aumentando as especulações sobre o esvaziamento da instituição, cujos professores terão que se submeter a novo processo seletivo para serem admitidos pelo UniRitter, que passou a administrar o novo campus. Em reunião com a direção do Sinpro/RS, a Reitoria da UniRitter informou que manterá os professores da Fapa enquanto houver matrículas na instituição – mas deixou claro que a “marca” Fapa vai desaparecer. Os dirigentes do Sinpro/RS manifestaram estranheza com a falta de perspectiva de aproveitamento dos professores da Fapa e as iniciativas que apontam para uma iminente extinção da Fapa. “As primeiras iniciativas evidenciam que, o que houve foi, efetivamente, uma venda da Fapa, ao invés da parceria institucional inicialmente alegada pela Reitoria”, critica Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
Foto: Igor Sperotto
IPA – Cercadas de sigilo e negativas por parte de gestores, as negociações envolvendo a compra de uma parte do campus central do IPA já estariam concretizadas. O terreno já teria sido adquirido por uma incorporadora do ramo imobiliário, por R$ 50 milhões. “Há um movimento de desmonte do IPA, que passa pelo endividamento e inviabilização da instituição, para justificar a venda de patrimônio”, denuncia a empresária Lisiane Collares, integrante do movimento denominado Juntos somos mais, que reúne cerca de 2 mil ex-alunos da instituição. A mobilização, segundo o advogado Mauro Pacheco, reivindica transparência por parte da Reitoria em relação às dívidas do IPA e às notícias de venda do patrimônio. “Não somos contra a venda, mas queremos que esse patrimônio, que é a história do IPA e a identidade dos professores e alunos com a instituição, seja preservado”. Mais impactante ainda foi a especulação sobre a venda de cinco instituições metodistas do país, duas delas no RS, veiculada pelo jornal Valor Econômico, na edição do dia 5 de agosto.
TECNODOHMS – No final de agosto, outra negociação envolvendo a venda de instituição de ensino privado veio a público. Desta vez, sobre a compra da Tecnodohms, faculdade de tecnologia mantida pela Comunidade Evangélica de Porto Alegre (Cepa). A instituição demitiu diretores e chegou a comunicar a professores que a instituição estaria passando por reformulações, quando, na verdade, tratava-se de um processo de venda para a faculdade Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN). Por meio de sua assessoria, o IBGEN informou que só se manifestará quando tiver uma “posição concreta” sobre a venda. A Cepa não se manifestou