O conturbado período de rescisão contratual dos professores ganhou um agravante em 2016. Apesar do número de demissões ter reduzido aproximadamente 11% em relação a 2015, as instituições de ensino, que tradicionalmente confirmam os desligamentos no final do ano letivo, neste ano surpreenderam com o aumento de desligamentos no início do ano letivo, período que inviabiliza a recolocação dos professores no mercado de trabalho, uma vez que os quadros de docentes já estão fechados para o início das aulas.
Do total de 1.829 rescisões homologadas no Sinpro/RS de novembro de 2015 a fevereiro de 2016, 62,6% foram nos primeiros meses do ano. Em alguns casos registrados pelo Sindicato, os professores foram informados de sua demissão no momento em que retornariam à escola para o início das atividades. “Fui demitida uma semana antes de terminar o recesso”, desabafa uma professora da educação básica da capital. “Neguei uma proposta de trabalho em dezembro, na volta das férias, fui demitido”, relatou um professor ao assinar a rescisão. “Em uma semana a escola resolve seu problema e contrata alguém. Um profissional demitido fica desempregado por pelo menos um ano”, expõe outro professor.
Foto: Carlos Carvalo
Foto: Carlos Carvalo
Na educação superior, não foi diferente. Em fevereiro, o Centro Universitário Metodista (IPA) demitiu 43 professores, aproximadamente 15% do seu quadro de docente. Na Uniasselvi, 20 professores-tutores foram desligados. Nesta última, a assessoria jurídica do Sinpro/RS já ingressou com diversas ações por desconformidades trabalhistas e contratuais. “O Sinpro/RS repudia essa política de desligamento em massa no ensino privado. O Sindicato manifesta sua solidariedade aos professores e reafirma que continua zelando pelo cumprimento dos seus direitos”, afirma Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
A psicanalista Carla Cervera Sei, do Núcleo de Apoio ao Professor contra a Violência (NAP), que acompanhou as rescisões neste ano, aponta como relatos mais comuns dos professores a falta de humanização nas relações profissionais, o desapontamento com a mercantilização da educação e a ausência de sinalização da demissão. “Falta às instituições mais trato na hora de despedir um profissional que, muitas vezes, dedicou anos de trabalho àquele local”, afirma Carla. Ela destaca que apesar do momento ser um dos mais complexos, nenhum professor afirmou querer abandonar a carreira. “Se percebe que este é um profissional que ama o que faz. Mesmo os mais antigos sinalizam que fariam tudo novamente”, conclui.