EDUCAÇÃO

Novo campus do UniRitter em shopping reforça opção da Laureate pelo mercantilismo

Após demissão em massa, Centro Universitário anuncia novas instalações para 4 mil alunos no Iguatemi Business, que integra o complexo comercial localizado em bairro nobre de Porto Alegre
Por Flávio Ilha / Publicado em 10 de janeiro de 2018

Campus do UniRitter em shopping reforça opção mercantil da Laureate

Foto: Iguatemi/Divulgação

Foto: Iguatemi/Divulgação

Menos de um mês depois de anunciar a demissão de 127 professores – que atingiu inclusive a reitora e a pró-reitora acadêmica da instituição – e uma semana após fechar seu campus voltado exclusivamente à pós-graduação, o Centro universitário UniRitter oficializou nesta quarta-feira, 10, a abertura de uma unidade de ensino no Shopping Iguatemi, no bairro Chácara das Pedras, região nobre de Porto Alegre.

Segundo comunicado da universidade, o novo campus está sendo planejado há dois anos e terá capacidade para 4 mil alunos em graduação, pós e cursos de extensão. As aulas deverão iniciar ainda no primeiro semestre de 2018.

“É surpreendente porque o anúncio ocorreu imediatamente após uma demissão massiva de professores, o que nos leva a concluir que a estratégia do UniRitter é fazer economia à custa da qualidade do ensino”, avaliou o diretor do Sinpro/RS Amarildo Pedro Cenci. Para o dirigente, os professores que serão contratados para atender à demanda no novo espaço terão redução salarial em relação aos dispensados.

Inicialmente, serão ofertadas disciplinas para nove cursos de graduação, em Administração, Arquitetura e Urbanismo, Design de Moda, Design de Produto, Design de Games, Direito, Psicologia, Publicidade e Propaganda e Relações Internacionais, além de oito programas de MBA e especialização.

O espaço, ainda de acordo comunicado oficial do grupo Laureate International Universities, que controla o UniRitter, terá disciplinas da grade inicial desses cursos, que continuarão com suas atividades nos campi Zona Sul e Fapa, ambos em Porto Alegre, e no campus Canoas.

A UniRitter publicou, 20 dias depois das dispensas em massa, uma série de anúncios para a contratação de 37 professores em vários cursos onde houve demissões – 19 dos quais para o cargo de professor auxiliar, a maioria das vagas para 20 horas semanais. A instituição não informa os salários.

Um dos 22 professores demitidos do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário, que prefere não se identificar, disse que a motivação para as demissões foi essencialmente econômica: foi dispensado quem ganhava mais. “Está claro que vão contratar menos professores e com salários menores. Depois de 30 anos de ensino, em que valorizamos a performance do curso de Arquitetura em nível internacional, chegaram à conclusão que éramos muito caros”, avaliou o professor.

Contratado em regime de 40 horas semanais e com uma hora-aula superior ao dobro do piso da categoria, o docente estima que quem o substituir deverá receber menos da metade do seu salário. O piso do professor de ensino superior definido em convenção coletiva é de R$ 33,52 pela hora-aula.

Campus do UniRitter em shopping reforça opção mercantil da Laureate

Foto: Iguatemi Divulgação

Foto: Iguatemi Divulgação

O UniRitter vem desativando paulatinamente várias disciplinas e cursos inteiros ofertados no Campus Fapa, na zona norte de Porto Alegre, e no Campus Zona Sul, como forma de concentrar as atividades, em médio prazo, numa região de maior apelo comercial da cidade. A nova unidade será instalada acima da praça de alimentação do shopping e também em três andares do Iguatemi Business, em uma estrutura total de 3,7 mil metros quadrados de área.

O campus Fapa, a título de comparação, tem quase 90 mil metros quadrados de área para 20 cursos de graduação. É um espaço incompatível com a estratégia do grupo, de valorizar o ensino a distância e Segundo comunicado oficial da universidade, a UniRitter pretende “proporcionar um ambiente de estudos que, ao mesmo tempo, permita fácil acesso aos serviços e às conveniências de um dos maiores complexos comerciais da capital”.

Segundo Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS, o anúncio da abertura de uma unidade universitária num shopping center materializa a expressão mercantilista da educação superior privada no Brasil. “Mais do que convivência, estamos falando da coabitação entre consumo e educação. É a materialização dessa tendência”, lamentou o diretor.

O novo reitor da UniRitter, Germano Schwartz, praticamente referenda essa estratégia. “Um ambiente tão inovador para o ensino inspira a criatividade. Proporcionar esse novo espaço aos alunos reforça nossos princípios de instigar os estudantes pela busca do conhecimento, propondo novas metodologias cada vez mais próximas da realidade do mercado”, salientou também por meio de nota.

REUNIÃO DE PROFESSORES –  O anúncio do novo campus causou surpresa até mesmo nos professores de cursos que passam a ofertar vagas no novo campus a partir de fevereiro. Um docente da área de Publicidade e Propaganda disse que ninguém sabia das articulações para a instalação da unidade. “Nunca se tratou desse tema nas reuniões de departamento. Nunca. Teremos de remanejar as grades de horário pois muitas disciplinas, até onde sabemos, serão oferecidas apenas no Iguatemi”, informou.

Campus do UniRitter em shopping reforça opção mercantil da Laureate

Foto: AssCom Sinpro/RS

Professores se reuniram no Sindicato para debater negociação

Foto: AssCom Sinpro/RS

Nesta quarta-feira, 10, o Sinpro/RS sediou uma reunião com professores demitidos. Na próxima semana, haverá uma nova rodada de conciliação entre os professores demitidos e a UniRitter convocada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Haverá um pedido de reintegração, depois que a liminar que suspendeu as demissões, obtida pelo Sinpro junto à Justiça estadual, foi cassada pelo presidente da Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Ives Gandra Martins Filho.

Segundo Amarildo Pedro Cenci, a reforma evidencia ainda mais o tratamento de mercadoria dado à educação superior pelas entidades de ensino privadas.“O ponto de vista do presidente do TST é clássico: um trabalhador, no caso os professores da UniRitter, não são diferentes de um pneu. Se eu paguei, posso usar e descartar como quiser”, comparou. O diretor do Sinpro/RS afirma que o sindicato vai continuar recorrendo da decisão, levando a questão ao pleno do TST. Ainda mais que muitos ministros já demonstraram intenção de limitar as novas regras trabalhistas a contratos novos, por meio de uma Súmula que está em discussão no âmbito do Tribunal.

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