EDUCAÇÃO

Ataques às universidades federais favorecem grupos privados

Ações dos controladores da Anhanguera, Unopar, Pitágoras, Estácio, São Judas e UniBH dispararam depois que governo anunciou cortes de verbas das instituições públicas
Por Gilson Camargo / Publicado em 20 de maio de 2019
Weintraub, que assumiu o MEC no lugar do atrapalhado Véles, levou quatro caixas com 25 chocolates cada uma para representar o orçamento das instituições federais em coletiva no início de abril. Ele confundiu 30% com 3%, mas as instituições mercantilistas da educação entenderam o recado

Foto: Reprodução

Weintraub, que assumiu o MEC no lugar do atrapalhado Véles, levou quatro caixas com 25 chocolates cada uma para representar o orçamento das instituições federais em coletiva no início de abril. Ele confundiu 30% com 3%, mas as instituições mercantilistas da educação entenderam o recado

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As ações dos três maiores grupos educacionais privados do país dispararam desde que o governo anunciou cortes de recursos das universidades federais. As primeiras declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de “contingenciamento de recursos” nas federais ocorreram no início de abril. Logo depois da posse, Weintraub começou uma série de ataques ao ensino superior público, desqualificando o ensino de humanas nas federais. Primeiro ele anunciou um corte de 30%. Diante da repercussão negativa, o MEC divulgou nota afirmando que o impacto seria de “apenas” 3,4% do orçamento total das universidades, o que o ministro tentou explicar de forma desastrada em uma coletiva ao lado do presidente. Weintraub separou 3,5 chocolates de um pacote de 100. Em meio à confusão mental do ministro, Bolsonaro comeu a metade de um dos bombons.

As ações da Kroton Educacional S. A (Anhanguera, Unopar, Pitágoras), Estácio Participações S. A (Estácio de Sá), GAEC Educacão S. A. (São Judas e UniBH) e SER Educacional S. A (Univeritas, Uninassau), negociadas na bolsa de valores de São Paulo (BOVESPA), registraram uma tendência de alta a partir de 7 de maio. As ações da Laureate Education Inc (Anhembi Morumbi e FMU), negociada na Nasdaq e as ações da Adtalem Global Education (Ibmec), negociadas na bolsa de Nova York, apresentaram uma alta a partir de 8 de maio.

A Kroton Educacional, a Estácio Participações e a Ser Educacional continuam apresentando tendência de crescimento. O ponto mais baixo da Kroton foi R$ 9,25, no dia 7 de maio. As ações chegaram a ser vendidas a R$ 9,95. Na mesma semana, a Estácio atingiu seu ponto mais baixo, sendo vendida a R$ 26,48. Na segunda-feira, 13, a ação da Estácio chegou a ser avaliada em R$ 28,46. A Ser bateu em R$ 22,46 e foi vendida nesta segunda-feira, 20 de maio, a R$ 24,09. No período, a Bolsa fechou em baixa (-0,58%).

Entre os dez maiores grupos educacionais privados do Brasil, a Unicesumar é exemplar do crescimento dos conglomerados privados no governo Bolsonaro: atingiu em março a marca de 120 mil alunos em todo o país, 100 mil na educação a distância e 20 mil do ensino presencial

Foto: Unicesumar/ Divulgação

Entre os dez maiores grupos educacionais privados do Brasil, a Unicesumar é exemplar do crescimento dos conglomerados privados no governo Bolsonaro: atingiu em março a marca de 120 mil alunos em todo o país, 100 mil na educação a distância e 20 mil do ensino presencial

Foto: Unicesumar/ Divulgação

O comportamento das ações desses grupos comprova o otimismo com os empreendimentos educacionais logo depois dos anúncios negativos para o setor público, observa o professor, doutor em Educação, Penildo Silva, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Hoje os grupos hegemônicos no mercado brasileiro têm majoritariamente capital estrangeiro, controlam faculdades com milhões de alunos na educação superior, e estão adquirindo editoras e sistemas de ensino para entrar fortemente na educação básica, algo que foi impulsionado pela reforma do ensino médio desde o governo Temer. O recado é claro: à medida que o setor público for perdendo espaço, que os campi universitários e dos institutos federais forem fechados, haverá um campo maior para a iniciativa privada, um mercado de consumo aberto para garantir a ampliação dos negócios”, aponta.

O desmonte das instituições universitárias, o forte contingenciamento nos recursos da Educação Básica e a destruição de programas de apoio a esse nível de ensino, incluindo a ameaça de extinção do Fundeb, afirma o professor, “advêm de uma orientação política para permitir a apropriação de “estoques de riqueza” do Brasil por interesses privados”.

INCLUSÃO – Pesquisa sobre o perfil dos estudantes universitários das universidades federais da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições federais de Ensino Superior (Andifes), publicada no dia 17, indica que o percentual de estudante com renda até 1,5 salários mínimos per capta, a faixa social mais pobre na universidade, aumentou de 66% em 2014 para mais de 70% em 2018. “Isso significa que as universidades federais se popularizaram mais ainda. Os estudantes universitários egressos de escolas públicas se tornaram maioria e o percentual de negros aumentou nesse mesmo período”, assinala Silva.

A popularização das instituições indica que a população que hoje está nas federais não teria condições de arcar com mensalidades em instituições privadas, além do fato de que a extinção das universidades públicas e a transferência do alunado para as instituições privados seria desastroso do ponto de vista da qualidade do ensino e para a produção científica, cultural e tecnológica, escreve o professor. Apesar dessa constatação, “o interesse do setor empresarial por esses novos alunos é expresso na alta da cotação das ações de suas empresas. Nesse momento difícil de ataque às instituições públicas, o objetivo das empresas de abertura de mercado para ter mais alunos vem acompanhado do pleito da transferência de recursos públicos para esse setor, o que explica seu otimismo”, constata.

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