EDUCAÇÃO

Cine Kaingang: luz, câmera, resistência

Crianças da comunidade Kaingang Por-Fi, em São Leopoldo, produzem audiovisuais sobre o cotidiano na aldeia
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de maio de 2019
Crianças da comunidade Kaingang Por-Fi, em São Leopoldo, produzem audiovisuais sobre o cotidiano na aldeia

Foto: Múltiplas Leituras/Divulgação

Crianças da comunidade Kaingang Por-Fi, em São Leopoldo, produzem audiovisuais sobre o cotidiano na aldeia

Foto: Múltiplas Leituras/Divulgação

O jornalista Washington Novaes oferece em seu livro Xingu, uma flecha no coração do Brasil o caminho para o respeito à cultura dos povos originários. “Entender o índio, a sua cultura e respeitá-lo implica despirmo-nos desta nossa civilização. Porque o encontro com o índio é um mergulho em outro espaço, em outro tempo.”

Em uma perspectiva semelhante, o projeto Múltiplas Leituras – povos indígenas e interculturalidade, criado há 15 anos pela Universidade Feevale, passou a desenvolver oficinas de filmagens na comunidade indígena Kaingang Por-Fi, que abriga 45 famílias, no bairro Feitoria, em São Leopoldo. O projeto Multiplas Leituras é coordenado pela professora de História Inês Reichert e engloba as atividades das Oficinas de Filmagens, que são ministradas pela professora Rosana Vaz Silveira, do curso de Publicidade e Propaganda.

A produção audiovisual integra a Escola Estadual Indígena da comunidade e surgiu de uma necessidade de registro do relato de pajés e anciões como forma de preservação dos ensinamentos da cultura Kaingang para as próximas gerações, explica Rosana. “Entende-se que a cultura indígena precisa de um olhar narrativo dos próprios indígenas. Com isso, os integrantes do projeto doaram uma câmera filmadora para que o professor da escola pudesse coletar cenas do cotidiano, assim como demonstrar a prática para as crianças. Essas cenas coletadas são projetadas na escola para que se possa construir, de forma coletiva, a visão indígena diante de suas atividades.”

Foto: Múltiplas Leituras/Divulgação

Foto: Múltiplas Leituras/Divulgação

O contato com os brancos no meio urbano tem um alto impacto cultural para a comunidade, especialmente para os jovens, conforme relatam as lideranças da reserva. “Assim, em um processo de afirmação identitária, há também a busca por projetos de fortalecimento cultural, que se colocam para muitos povos na retomada de seus territórios tradicionais, na retomada de suas línguas ou outros aspectos da cultura”, explica Rosana Silveira.

Segundo a coordenadora das oficinas de filmagens, para os Kaingang, a retomada cultural tem se colocado nas questões de rituais religiosos e nos conhecimentos tradicionais dos pajés. “A busca por preservar aquilo que anteriormente se dava pela conservação da memória de forma oral, agora passa por uma apropriação das linguagens audiovisuais, com as quais eles se identificam, mais do que com a preservação pelo modo escrito.”

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