Memória afetiva e literatura
Foto: Acervo pessoal
A história real de dois irmãos, Giocondo e Francisco, criados na região de imigração italiana na serra gaúcha e que, desde pequenos, tiveram uma forte ligação, em parte pela diferença de idade de apenas dois anos, e também pela afinidade natural de suas personalidades é o conto que dá nome à coletânea Dois meninos (Editora Coralina). Lançado no final de setembro, em Santa Cruz do Sul, pelo professor Leonardo José Andriolo, 55 anos, o livro resgata a história e a memória de uma família de imigrantes e transita por várias temáticas e estilos. Como anota o escritor Mário Baggio na apresentação, sua narrativa é “prosa poética, mais poesia do que prosa”. Para o autor, literatura é resistência a toda forma de alienação e superficialidade. “Alguém lê o título ou duas linhas de uma matéria e já emite seu julgamento definitivo. Por isso, escrever é um ato de resistência, um convite à reflexão, à ponderação, à empatia”, destaca.
Para além da literatura, Dois meninos também representa o resgate da memória afetiva do autor, já que os dois personagens eram ninguém menos que seu pai, Giocondo, e seu tio, Francisco. “A cumplicidade e parceria deles permanecem na idade adulta e se tornam ainda mais fortes quando, já na casa dos 80 anos, ambos ficam viúvos. Essa época ficou marcada por alguns acontecimentos e coincidências intrigantes”, relata Leonardo. Em um desses episódios, os dois discutem quem iria morrer primeiro, e cada qual se julgava merecedor de ir antes do outro. “Na falta de consenso, decidiram que deveriam partir juntos. Giocondo faleceu no dia 25 de dezembro de 2017, com 93 anos. Treze dias depois, aos 95 anos, Francisco também partiu.”
Natural de Caxias do Sul, Andriolo é Auditor Público Externo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e professor. É formado em Administração pela Escola Superior de Administração Postal (ESAP) e em Economia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Atua na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) como professor do Departamento de Ciências Administrativas. Seu primeiro livro, Com passos lentos, mas firmes (EST, 2011), é um romance histórico sobre as memórias de João Andriolo, mais conhecido como Nanni Silvestro, avô do autor, coletadas a partir dos relatos de Giocondo, pai de Leonardo. “Na década de 1980, Giocondo sofreu um acidente e, sem poder trabalhar, resolveu escrever em um caderno as suas reminiscências. Esse primeiro livro surgiu a partir dessas anotações”, conta. Leonardo Andriolo também participou, ao lado de autores locais e convidados célebres como o chileno Antonio Skármeta, dos três volumes da antologia Nem te conto (Gazeta). “Antes de escritor, sou leitor! Como leitor, ainda prefiro os romances. No entanto, também guardo espaço para os contos”, revela.