Histórias para mudar o rumo da história
Foto: Acervo Pessoal
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De Carli exerce uma vida dupla. Uma parte do seu tempo é professor do ensino privado em cursos pagos. Noutra parte, não apenas atua como milita pela educação popular em pré-vestibulares populares. São cursos preparatórios voltados para estudantes de baixa renda que sonham entrar nas tão disputadas universidades federais, públicas e gratuitas.
O professor Bernardo, como é conhecido, tem licienciatura em História pela Ufrgs e atualmente leciona nos cursos privados de pré-vestibular Meta (Porto Alegre), Unificado (Camaquã) e Gabarito (Osório). Nos cursinhos populares, atua no Pré-Vestibular Resgate Popular e no Cursinho do PT. Além disso, atuou no Esperança, na Restinga.
“Primeiramente, veio o encantamento pela disciplina de História desde o colégio. Durante o ano de 2009, nas aulas da Faculdade de Educação e nas aulas particulares que ministrava foi que decidi direcionar esse encantamento pela História para a sala de aula”, revela. Em 2010 estreou como professor de turma no Resgate Popular. “Foi como começou a minha construção como professor e como militante da educação popular”, constata.
Para Bernardo, os cursos pré-vestibulares populares são promotores de debate, organização política e mobilização social pela democratização do acesso, ampliação, gratuidade, qualidade e popularização do ensino superior. Esses cursos, além da preparação para o vestibular nas universidades públicas – motivação inicial e objetivo específico – propõem o compromisso com projetos coletivos e uma perspectiva de inserção social e política nas questões comunitárias e acadêmicas como princípios da formação crítica.
Foto: Acervo Pessoal
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“Vejo os pré-vestibulares populares como um movimento social que luta pela democratização do acesso à universidade e pela construção de uma sociedade mais justa, solidária e igualitária”, defende. Ele conta que a maioria dos estudantes aprovados através das aulas dos cursos populares são a primeira pessoa de sua família que vai cursar o ensino superior. “Ou seja, tem uma ‘quebra’ importantíssima na lógica social daquela família”.
O professor conta que testemunhou diversos casos de transformações durante sua atuação nesses cursos, “espaço de educação e luta”, como chama a educação popular. Ele relata o caso de um aluno que entrou no curso popular após ficar cinco anos detento no Presídio Central, depois passou em Direito com o objetivo de ajudar a sua comunidade.
A média de aprovação do Resgate Popular e do Cursinho do PT é acima de 50%. Todos alunos e todas alunas são oriundos da rede pública de ensino e a seleção segue critério socioeconômico.
“Ambos os espaços de sala de aula (privado e popular) no âmbito dos pré-vestibulares são interessantes e desafiadores”, compara. Nos preparatórios Enem e vestibulares privados, a alta concorrência entre os cursos induz a uma constante busca por aprimoramento do conteúdo e do domínio das provas seletivas. Já nos cursinhos populares, o desafio de construir um processo de educação que engloba o conteúdo de três anos do ensino médio em apenas um ano para pessoas que tiveram uma trajetória escolar e econômica precarizada induz o professor a buscar uma constante evolução pedagógica nas aulas.
“Tanto nos cursos populares quanto nos privados busco aplicar, sempre que possível, os ensinamentos de Paulo Freire e, assim, procuro compreender sempre a realidade de cada turma. E, claro, entender a educação como uma ferramenta de transformação social. A busca por uma sociedade mais justa e igualitária”, conclui.