Ensino remoto é para poucos
Foto: Contee/Reprodução
Nesta sexta-feira, 29, o Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE) promoveu o debate sobre o tema Aulas remotas: É possível para todos/as estudantes? A quem interessa?. A live faz parte da série de debates intitulada Conversas sobre educação pública que está sendo organizada e realizada semanalmente todas as sextas-feiras pelo FNPE e transmitida pelo Facebook Watch. No mais recente, além da diretora Madalena Guasco Peixoto, da Contee, como comentarista, participaram da conversa os palestrantes Luiz Carlos de Freitas (Unicamp), Rita Frangella (ABdC) e Maria Luiza Pinho Pereira (Fóruns de EJA), como comentarista. A mediação foi feita por Guilherme Barbosa (UNE).
“Esse projeto educacional que está sendo colocado em curso — um projeto antidemocrático, de padronização do ensino, de privatização da gestão pública na educação e de imposição da modalidade EaD na educação básica, assim como de ataque à ciência e à pesquisa — está acoplado a um projeto político-econômico”, denunciou a coordenadora da Secretaria-Geral da Contee, Madalena Guasco Peixoto. “Esse projeto educacional só vai ser barrado quando conseguirmos também derrotar o projeto político em curso, quando conseguirmos apresentar um projeto alternativo, o que implica a formação de uma frente política de grandes articulações. Nossa luta sai do campo da educação e entra no campo político para derrotar esse governo fascista”, completa
O trabalho pedagógico remoto imposto pela excepcionalidade da crise sanitária e das medidas de isolamento social necessárias para conter a epidemia do Covid-19 se contrapuseram, no debate, às brechas para a imposição do ensino a distância na educação básica, dentro desse projeto denunciado por Madalena. Em seu posicionamento, Rita Frangella considerou que aula remota não é a substituição automática da aula presencial e que o acesso à internet banda larga e as desigualdades sociais são temas a serem discutidos com os pais e a comunidade. Além disso, na opinião dela, as aulas remotas não podem ser contadas como dia letivo e nem como avaliação. “Estamos vivendo uma mecanização da educação, afastando-a da formação.”
Em contraponto, a coordenadora da Secretaria-Geral da Contee destacou que “a educação remota não foi escolhida, mas colocada pela crise da pandemia e estamos tendo que enfrentar o desafio”. Isso significa levar em conta as especificidades da rede pública e do setor privado. “Temos um setor privado muito diferenciado, em que há desde grandes conglomerados até instituições comunitárias. Vamos ter mudanças muito profundas. Ninguém escolheu o instrumento remoto, fomos pegos numa situação de extrema excepcionalidade e tivemos que enfrentar esse desafio”, ressaltou.
“Obviamente ninguém acha que isso substitui o trabalho presencial. Tanto os estudantes quanto nós, professores, sabemos que estamos num momento excepcional durante o qual o trabalho remoto se colocou como realidade. Existem professores que estão trabalhando o dobro do que trabalham na escola para fazer cumprir o projeto pedagógico e isso mesmo diante de redução salarial. Temos que tomar cuidado com determinadas padronizações. Onde foi possível realizar o trabalho remoto, deve sim ser contado como atividade letiva”, afirmou Madalena. “Existe um esforço coletivo e os professores estão se empenhando para superar os desafios. A crise econômica trará mudanças profundas no sistema educacional, inclusive no setor privado de educação”.
Para Luiz Carlos de Freitas, é fundamental uma frente ampla, mostrando para o país as implicações do desmonte da educação pública. “Uma situação como atual vai resultar em prejuízos. Devemos ter propostas para o ensino privado e para o ensino público, debater com todos os envolvidos”.
Representando os estudantes, o mediador Guilherme Barbosa salientou a pressão do governo federal para implementar a EaD nas universidades federais. “Para a UNE, a prioridade não é a aula, mas a pesquisa e a rede de solidariedade nas universidades. Não se trata de lógica produtivista, mas saber como estão os estudantes. A lógica do governo é de que o lucro está acima da vida, e precisamos combater isso”.
Por sua vez, Maria Luíza Pereira, dos Fóruns de EJA, enfatizou que de 78 milhões a 81 milhões de trabalhadores não têm a educação básica completa e são afetados também. “Nós, professores, não estamos no mundo para fazer autômatos, mas para transformar pessoas”, declarou, frisando a importância de implementação e necessária gestão democrática do Sistema Nacional de Educação.
A diretora da Contee, Madalena Guasco, encerrou o debate dizendo que “a iniciativa do FNPE de fazer essas lives é fundamental para que a gente possa construir o máximo possível uma unidade. Mas essa unidade deve ter como base grandes diretrizes: educação pública, gratuita, democrática, crítica, inclusiva, de qualidade socialmente referenciada”. No entanto, segundo ela, “temos particularidades que trazem necessidade uma complexidade na hora da nossa reflexão. Essas particularidades têm que ser debatidas, mas de modo que não rompam com a defesa da educação pública e democrática”, concluiu.
Assista o debate na íntegra: