Pesquisa condena retorno das aulas presenciais e entidades pedem diálogo
Foto: Comitê Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS/Divulgação
Na manhã desta sexta-feira, 25, ocorreu a divulgação da quarta e última parte dos resultados da pesquisa produzida pelo Comitê Popular Estadual de Acompanhamento da Crise Educacional no RS e pela Associação Mães & Pais Pela Democracia.
Ao longo das últimas três semanas, o Comitê apresentou dados sobre as dificuldades das famílias e também das redes de ensino relativas à educação no cenário da pandemia do novo coronavírus.
A pesquisa envolveu mais de 2 mil pessoas, que entre os dias 23 e 28 de julho, responderam questionário on-line, revelando as desigualdades no tratamento ao tema da educação durante a pandemia.
O estudo demostrou que nem as educadoras e educadores, nem as famílias querem retorno presencial nesse momento e afirmam que a educação infantil deve ser a última a retornar, ao contrário do que tem sido afirmado pelo governo do estado.
“É um momento difícil e a gente sabe que essa situação tem exigido muito das famílias e das escolas, pois o contato das crianças precisa ser mediado pelas famílias”, diz Ariete Brusius, do Fórum Gaúcho de Educação Infantil (FGEI), entidade que integra o Comitê.
Desigualdade
Na apresentação realizada hoje, as entidades que compõem o colegiado destacaram a desigualdade expressada pelo cenário de desproteção social, a situação de desemprego, a diminuição do orçamento familiar e a dificuldade de acesso à internet, principalmente durante a pandemia.
Também enfatizaram a sobrecarga e a intensificação do trabalho nas diferentes redes de ensino, o acometimento da saúde principalmente da saúde mental e a exposição dos professores a plataformas digitais, sem opção de escolha, sem formação e preparação. Em suas falas as entidades afirmaram que as decisões não podem ser tomadas sem diálogo e de forma aligeirada.
Necropolítica
“A nossa pesquisa deixa claro que mães, pais e educadores não querem volta às aulas agora no meio da pandemia e reprovam o modelo de rodízio e que o retorno inicie pela Educação Infantil. Precisa ser consenso. E hoje o consenso é que não levaremos nossos filhos para as escolas. E só voltaremos quando todos voltarem! As crianças que “precisam” ir para a escola são as que os pais não cumprem isolamento”. É o que afirma a socióloga Aline Kerber responsável técnica pela pesquisa e presidenta licenciada da Associação Mães & Pais Pela Democracia.
Ela ressaltou ainda, que a maioria dos estudantes reside com pessoas que compõem a população de risco. “Portanto, é só uma questão de tempo para o caos e para uma matança sem igual aqui no RS. E os estudantes mais vulneráveis, pobres e negros, que estão sem condições de acompanhar as aulas remotas seriam os que voltariam e que seriam potencialmente vítimas. Ou seja, o reforço da necropolítica e nós seremos cordão de isolamento para que isso não ocorra”, conclui a pesquisadora.
Promotorias
Para a Promotora Regional de Educação Rosangela Corrêa, da Promotoria de Justiça Regional de Santa Maria, que acompanhou a divulgação dos resultados da pesquisa, “sem uma certificação sanitária assinada por técnicos não pode ocorrer um retorno presencial das atividades de ensino”.
Nessa semana, em nota pública, as Promotorias de Justiça Regionais de Educação do RS manifestaram que o retorno das atividades escolares presenciais há de ser precedido pela análise técnica das autoridades sanitárias, em nível estadual e local”.
Relatório final
A entrega do relatório geral da pesquisa está prevista para o dia 15 de setembro em atividade que envolva todas as entidades que compõem o Comitê.
As entidades que assinam a pesquisa são: Sinpro/RS, Cpers-Sindicato, Assers, Aoergs, Simpa, FGEI, Sinasefe-IFSul.