EDUCAÇÃO

Professores estão trabalhando em dobro e ganhando menos na pandemia, revela pesquisa

Sondagem mostra que a carga horária encolheu, mas tarefas e responsabilidades se multiplicaram para a maioria dos docentes. Eles bancam sozinhos os custos do home office e estão adoecendo
Por Gilson Camargo / Publicado em 12 de abril de 2021
Pesquisa encomendada pelo Sinpro/RS, Sinpro Noroeste e Sinpro Caxias foi apresentada por consultores da FlamingoEDU aos sindicatos

Foto: Reprodução

Pesquisa encomendada pelo Sinpro/RS, Sinpro Noroeste e Sinpro Caxias foi apresentada por consultores da FlamingoEDU aos sindicatos

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A pesquisa Realidade Docente 2021 apresentada no dia 12 de abril pela consultoria FlamingoEDU revelam que os professores do ensino privado gaúcho tiveram uma redução da carga horária e acréscimo de trabalho durante a pandemia.

Dados mostram redução nos contratos de 40 horas semanais e maior concentração na faixa de zero a 12 horas

Arte: FlamingoEDU/ Divulgação

Dados mostram redução nos contratos de 40 horas semanais e maior concentração na faixa de zero a 12 horas

Arte: FlamingoEDU/ Divulgação

O levantamento comparou dados do primeiro e segundo semestres letivos de 2020 e primeiro semestre deste ano e constatou acúmulo crescente de atividades sem a respectiva remuneração, esforço adicional em relação à carga horária em sala de aula, desembolso dos docentes com adequação do espaço físico e aquisição de equipamentos para a continuidade das aulas na modalidade remota devido ao isolamento e piora na condição física e mental dos docentes no atual contexto.

A pesquisa foi encomendada pelo Sinpro/RS, Sinpro Noroeste e Sinpro Caxias e realizada entre os dias 2 e 9 de abril por meio de 13 questões respondidas por 1.195 professores da educação superior. Os entrevistados são majoritariamente (63%) professores das instituições comunitárias de ensino integrantes do Comung/Sindiman, 23% do Sinepe/RS, e 23% não souberam precisar o segmento ao qual a instituição empregadora pertence.

Redução de carga horária

A maioria dos professores que respondeu à pesquisa (43%) têm vínculo como horista com a sua instituição de ensino, 33% com tempo integral e 24% com turno parcial. Houve uma redução da carga horária no primeiro semestre de 2021 na comparação com o mesmo período de 2020, de 30,09 para 27,81 horas-aula, como reflexo da redução de turmas e alocações de alunos em turmas maiores, destaca a pesquisa.

O número de professores com 40 horas semanais também sofreu uma redução significativa, de 464 docentes no primeiro semestre de 2020 para 345 em 2021.

Professores garantiram a subsistência da educação superior na pandemia, assinala o pesquisador Gunther Gehlen

Foto: Reprodução

Professores garantiram a subsistência da educação superior na pandemia, assinala o pesquisador Gunther Gehlen

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Além disso, o levantamento mostrou que aumentaram de cinco para 13 os docentes com carga horária entre zero e 12 horas semanais. De acordo com os pesquisadores, a redução da carga horária evidencia uma estratégia das instituições para reduzir os custos dos desligamentos. Estão se aproveitando da pandemia para demitir, pois a redução de carga horária reflete nos valores rescisórios”, aponta o consultor Gunther Gehlen.

Para 644 professores, os fatores que tiveram impacto na redução da sua carga horária foram redução de turmas, mudanças curriculares e EaD nas disciplinas.

Acúmulo de atividades e esforço adicional

Sala de aula foi fator que gerou sobrecarga para 57% dos professores

Arte: FlamingoEDU/ Divulgação

Sala de aula foi fator que gerou sobrecarga para 57% dos professores

Arte: FlamingoEDU/ Divulgação

Os professores revelaram que a pandemia também trouxe um acúmulo de atividades, funções e/ou responsabilidades à categoria sem o respectivo acréscimo desse trabalho na sua carga horária semanal. Para 57%, a sala de aula foi o principal fator que gerou essa sobrecarga e 30% responderam que não perceberam esse aumento. As aulas demandaram até 50% de esforço adicional para 64% dos entrevistados e 27% responderam que esse esforço foi até o dobro da demanda de tempo.

Professores bancam os custos do trabalho em casa

Maior parte dos desembolsos com a estrutura do home office saiu do bolso do professor, destacou Strogulski, da FlamingoEDU

Foto: Reprodução

Maior parte dos desembolsos com a estrutura do home office saiu do bolso do professor, destacou Strogulski, da FlamingoEDU

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Os investimentos para adequar o espaço de trabalho em casa para poder continuar lecionando por meio de aulas remotas durante a pandemia foram bancados pelos professores. As instituições de ensino se limitaram a oferecer treinamento, enquanto que os professores investiram em planos de dados, computadores, celulares e mobiliário. A quase totalidade dos pesquisados (1.024) respondeu que bancou esses gastos enquanto apenas nove disseram que o investimento veio da instituição de ensino. Predominam a aquisição de softwares e assinaturas de conteúdos web (426), compra de equipamentos (876) e de internet e planos de dados (1.045).

A aquisição de computadores, smartphones e mobiliário tiveram o maior peso no desembolso dos docentes, em média R$ 3.143,02.

“Quando acabar a pandemia, as atividades remotas devem continuar. Em outros setores, o profissional que foi trabalhar em casa recebeu uma estrutura de trabalho e apoio da empresa. No caso dos professores, isso não ocorreu. Uma ou outra instituição fez algum investimento, mas os desembolsos maiores foram feitos pelos professores”, observa Heitor Strogulski, um dos consultores responsáveis pela pesquisa.

Desembolso médio do professor com a aquisição de equiamentos é superior a R$ 3 mil

Arte: FlamingoEDU/Divulgação

Desembolso médio do professor com a aquisição de equiamentos é superior a R$ 3 mil

Arte: FlamingoEDU/Divulgação

Mais trabalho, mais adoecimento

Na comparação com o período anterior à pandemia, houve um agravamento nas condições de saúde para 77% dos entrevistados, sendo que 55% dos professores disseram que sua condição física e mental “piorou”, 22% acham que “piorou muito”. Para 19% permaneceu igual e melhorou para apenas 4% dos pesquisados. Para os pesquisadores, a questão do adoecimento laboral dos professores se torna ainda mais grave quando se constata que nenhuma instituição oferece um serviço de apoio psicológico.

Expectativa pós-pandemia

Insegurança e apreensão foram os sentimentos manifestados por 82% dos entrevistados quando perguntados sobre o que esperam de um possível processo de retomada das aulas presenciais. O retorno gera insegurança em 42%, apreensão em 34% e confiança em 18%. Uma parcela de 6% manifestou outros fatores, todos negativos, como medo de não estar capacitado para uma nova realidade que ainda é desconhecida e falta de estrutura nas instituições.

Apesar do cenário de redução de carga horária apontado pela pesquisa, a maior parcela dos pesquisados manifestou otimismo em relação ao segundo semestre letivo deste ano. Para 59%, a expectativa é manter a atual carga horária, 35% temem uma diminuição e 6% acham que ela pode aumentar.

Acesse a íntegra da pesquisa.

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