Como e por que tratar sobre fake news na educação infantil?
Foto: Anselmo Cunha/PMPA
“A abordagem da mídia na escola se faz ainda mais importante dada a abundância da desinformação nas diferentes mídias no mundo inteiro”, contextualiza Januária Cristina Alves, jornalista, educadora e autora de mais de 60 obras publicadas para crianças e jovens e co-autora do livro Como não ser enganado pelas fake news. Ela integra a Aliança Global para Parcerias em Alfabetização Midiática e Informacional da Unesco.
Januária será a painelista, no próximo dia 3 de junho, às, 19h, do Conversa de Professor, projeto permanente da Fundação Ecarta, dirigido a professores da educação infantil. O programa tem o apoio do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) e terá transmissão ao vivo pelo canal da Ecarta no Youtube. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo site da Fundação (www.ecarta.org.br).
“Não é mais possível a escola educar sem levar em conta a educação para as mídias. É preciso começar desde a tenra idade porque tem muito a ver com a leitura e a escrita. O leitor consciente diferenciará mais adiante a notícia falsa do fato que aconteceu”, destaca. “Essa consciência começa com a leitura de bons livros e bons textos e, especialmente, livros de ficção, que nessa idade por contribuir na diferenciação entre uma história fictícia da linguagem jornalística, factual”.
Foto: Reprodução Nono Estudio/ Youtube
Januária ganhou vários prêmios, dentre eles o Prêmio Jabuti de Literatura Brasileira, em 2014, na categoria Didáticos/Paradidáticos, com a obra Para ler e ver com olhos livres (Ed. Nova Fronteira) e, em 2016, pela coordenação editorial do livro Convivendo em Grupo: almanaque de sobrevivência em sociedade (Ed. Moderna).
A jornalista foi consultora durante 13 anos do Programa Folha Educação, do jornal Folha de S. Paulo, destinado a orientar escolas para o uso do jornal em sala de aula e editora–chefe do jornal Folha Educação, dirigido aos professores integrantes do programa.
A desinformação como método de manipulação
Ela convida os professores a participarem com suas questões e experiências do painel. “O tema da nossa conversa é esse contexto que a gente está vivendo. Muito cedo essas crianças estão tendo acesso às notícias, ao celular dos pais, ouvem rádio com a família, veem televisão. Podemos discutir trabalhar na educação infantil, por exemplo, com a questão da imagem, que é muito forte em todas as mídias. Podemos trocar informações e conhecimento para aplicar na sala de aula”, incentiva.
A jornalista observa que a educação midiática foi incluída na Nova Base Comum Curricular no Fundamental 2, no campo jornalístico midiático. “A gente acredita que realmente tem que ser inserida antes de tudo por ser uma questão de alfabetização, de leitura e escrita”, reforça Januária.
Ela destaca que a mudança nas fontes de pesquisa – antes feitas em livros, revistas, jornais e bibliotecas, agora é realizada na internet, onde há todo o tipo de informação necessitando aprimorar a crítica e análise do que tem credibilidade ou não. Refletir sobre as consequências e danos de propagar notícia falsa pode trazer, seja em esfera pessoal, para uma pequena comunidade ou até para um país, é um exercício para não propagar os boatos.
Foto: Reprodução Yotube/Nono Estudio
“O que precisamos discutir é o fenômeno da desinformação. Temos uma corrente muito grande dedicada a produzir desinformação, gerar confusão, gerar notícias, vídeos e áudios falsos. Isso é parte desse movimento de pessoas que querem propagar suas convicções, suas opiniões. Não estão preocupadas com os fatos”, demostra Januária.
“Trabalhar com os alunos como identificar uma notícia falsa, analisar o que se lê com calma e resistir à tentação de compartilhar sem reflexão também ajuda a evitar que as notícias falsas se disseminem cada vez mais”, reforça a professora Cecília Farias, coordenadora do projeto Conversa de Professor, que mediará o painel.
Fake news?
Quanto ao emprego da expressão em inglês para designar notícias falsas, a educadora Januária observa que o estrangeirismo se popularizou, mas o termo news (notícia) por si só não deveria ser empregado, porque se é notícia não poderia ser falsa.
“É um termo bastante discutido. Os comunicólogos, os jornalistas dizem que se é news não tem como ser fake, porque espera-se que a notícia para ser publicada ela teria de ter sido analisada, checada. Mas a gente sabe que as chamadas fakes news são produzidas exatamente como uma notícia, com a mesma estrutura, com a mesma linguagem, mas são propositadamente distorcidas, elementos são omitidos, ela é construída para ser falsa, para dar uma impressão diferente do fato que realmente aconteceu”, pontua a pesquisadora.
A jornalista observa que as agências de checagem atualmente se dizem agências checadoras de fatos, porque é o fato que importa. “O que acontece é que as notícias são distorcidas para que a gente as leia na ótica de quem escreve”.
Januária destaca pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o Brasil que mostra que 63% dos alunos do ensino médio não diferencia fatos de opiniões. “Isso tem a ver com a formação leitora desses estudantes”, aponta.
CONVERSA DE PROFESSOR – O painel Abordagem das fake news na escola desde a educação infantil é o segundo da série Conversa de Professor de um total de seis que serão realizadas ao longo de 2021. O primeiro tratou da relação das crianças com a natureza, no dia 6 de maio, e o próximo tratará das brincadeiras na infância e a cultura brasileira, no próximo dia 15 de junho, com o ator e educador Filipe Edmo como painelista.
A Fundação Ecarta leva o programa Conversa de Professor às cidades do interior por meio de parceria com secretarias de Educação e agentes locais. Interessados pode entrar em contato com a produção do projeto pelo e-mail conversadoprofessor@fundacaoecarta.org.br.