Há 7 anos sem reajuste, professores pedem recomposição salarial ao governo
Foto: Cpers/Divulgação
A primeira reunião ocorreu nesta quarta-feira, 21. A direção do Cpers/Sindicato foi recebida pelo secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos Junior, para iniciar as tratativas sobre reajuste e condições de trabalho dos mais de 73 mil professores e funcionários de escolas estaduais do Rio Grande do Sul.
A categoria não recebe reajuste desde 2014, o que levou a inflação acumulada deste período, de 45,05% reduzir quase metade o salário desses profissionais.
Helenir Aguiar Schürer, presidente do Cpers/Sindicato, diz que a comitiva do Sindicato saiu do Piratini com a promessa de um segundo encontro que contará com a presença das secretarias da Educação e da Fazenda, para dar andamento às tratativas. A rede de ensino estadual gaúcha possui cerca de 2,4 mil escolas e atende a quase 800 mil estudantes.
Na manhã da última terça-feira, 20, às vésperas da primeira reunião com o governo, as sinetas dos educadores(as) estaduais voltaram à Praça da Matriz com suas barracas amarelo e vermelho, para a primeira de uma séria de vigílias, com foco na reivindicação de recomposição salarial. Representantes dos núcleos 38º e 39º (Porto Alegre), 34º (Guaíba), 22º (Gravataí), 20º (Canoas) e 14º (São Leopoldo) estiveram presentes.
O Extra Classe ouviu a presidente do Cpers/Sindicato sobre este e outros assuntos que envolvem os servidores das escolas estaduais.
Foto: Cpers/Reprodução/YouTube
Extra Classe – Levando em consideração as perdas dos últimos sete anos, com que situação salarial os professores encaram mais essa negociação com o governo? O que está na pauta?
Helenir Aguiar Schürer – Considerando apenas a inflação acumulada desde novembro de 2014, data do último reajuste, perdemos quase metade do poder de compra. Precisaríamos, hoje, de uma reposição de 45,05% para ficar no empate com a situação de sete anos atrás. Porém, a cesta básica, em Porto Alegre, subiu mais de 80%. A vida continuou, tudo ficou mais caro e o nosso salário parou. Sequer entra no cálculo a perda de direitos, o brutal confisco dos aposentados (as), o calote dos dias trabalhados para recuperar a greve, os custos extras do trabalho remoto e a redução de adicionais. Do jeito que está, não dá mais. Estamos quase pagando para trabalhar. Então o que pleiteamos é o mínimo: que o governo leve a educação a sério e sente para negociar. Queremos uma proposta de recomposição e, a partir dela, chegar a um valor que nos dê tranquilidade para viver e não apenas sobreviver.
EC – Quantos professores dependem dessas negociações em andamento e qual a expectativa do Cpers para tal?
Helenir – Não só professores, mas funcionários de escola também. Somados, são cerca de 73 mil na ativa e 105 mil aposentados, que tiveram uma brusca redução nos proventos com o desconto previdenciário implantado após as reformas no país e no estado.
EC – Quais são as outras questões, além das salariais, que estão na pauta de reivindicações dos professores?
Helenir – São inúmeras. A sobrecarga de trabalho, as condições sanitárias das escolas, a carência crônica de recursos humanos, o avanço da terceirização e de interesses privados – aqui capitaneados pela Fundação Lemann –, a falta de investimentos, a incapacidade do governo de realizar obras simples para recuperar a estrutura das escolas e, por fim, o desmonte da rede: o governo Leite fechou um número recorde de escolas estaduais e aproveita a pandemia para passar a boiada, com municipalizações, enturmações e multisseriações ocorrendo em todo o estado.
Foto: Cpers/Divulgação
EC – Como o Novo Ensino Médio – publicado no Diário Oficial da União no dia 14 de julho pelo MEC – impacta no trabalho dos professores do estado e de que forma o Cpers vê as mudanças propostas?
Helenir – É uma reforma que começou mal, ainda no governo Temer e sem qualquer diálogo com a sociedade, sem consulta às entidades representativas da educação, pensada por e para instituições privadas de ensino, fundações educacionais, gigantes do ramo dos livros didáticos, movimentos conservadores e think tanks internacionais. O objetivo sempre foi claro: abocanhar parte significativa do orçamento da educação pública. O foco em matemática e português, e em itinerários como “empreendedorismo”, deixam isso claro. Para os governos neoliberais, a escola pública deve servir apenas para formar mão de obra barata. Para a categoria, o impacto será grande, com uma possível redução no número de docentes, em especial na área das humanas. Sem falar no absurdo de implantar uma reforma de tamanha complexidade em meio a uma pandemia, quando mal voltamos para a sala de aula e ainda estamos trabalhando dobrado para atender a toda a comunidade.
EC – Qual a sua avaliação sobre a primeira audiência com o Governo e qual o indicativo para a categoria?
Helenir – Apresentamos nossa reivindicação salarial à Casa Civil e saímos com a promessa de uma mesa de negociação com a Fazenda e a Secretaria da Educação. Também discutimos o desconto do vale-transporte e o calote da greve recuperada. E tomamos conhecimento de um projeto do Executivo na Assembleia para recompor o vale-alimentação, congelado há dois anos. No dia 13 de agosto, realizaremos um grande ato em Porto Alegre para entregar, oficialmente, as centenas de moções aprovadas em Câmaras de Vereadores de todo o estado a favor da recomposição.